“É evidente que a menor circulação dos vírus influenza este ano, fruto da adoção de medidas de intervenção não farmacológica [máscaras, etiqueta respiratória, distanciamento físico e higienização das mãos] criou uma situação que, à partida, pode pressupor uma maior e mais intensa atividade gripal”, afirmou Filipe Froes.
Em declarações à agência Lusa, o especialista explicou que, na época gripal 2020/21 “as pessoas não tiveram a sua estimulação gripal anual que [habitualmente] têm, o que se traduz numa diminuição da imunidade individual e coletiva” para o vírus da influenza.
Por outro lado, explicou, a vigilância epidemiológica que é feita todos os anos precisa de vários milhares de amostras do vírus influenza, que vão sendo colhidas periodicamente.
“A menor circulação também impediu a colheita adequada para manter os sistemas de vigilância a funcionar tão bem como nos anos anteriores. Portanto, temos também maior risco de discordância antigénica e com as vacinas”, acrescentou.
Se se associar estes fatores, “podemos ter uma maior atividade gripal na época 2021/22”, considerou.
Filipe Froes defendeu que, tendo em conta este conhecimento, deve haver uma melhor preparação da próxima época gripal, com reforço na compra das vacinas.
“A história ensina-nos que nos anos em que há menor atividade gripal, previsivelmente, o ano seguinte tem sempre maior atividade. Portanto, devemos preparar-nos para essa eventualidade e indiscutivelmente uma das maneiras como nos devemos preparar é termos acesso a mais vacinas e idealmente melhores vacinas, adaptadas para grupos etários com maior risco de complicações”, defendeu.
O pneumologista explicou ainda que, na época gripal 2020/21, aconteceu no hemisfério Norte aquilo que já tinha acontecido no hemisfério Sul, ou seja, medidas como o uso de máscara, a etiqueta respiratória, higienização das mãos e distanciamento social - impostas pela pandemia de covid-19 – “tiveram um impacto muito grande ao nível da transmissibilidade do vírus influenza”.
“O ‘R’ do influenza ronda 1,2 a 1,5. (…) Com as medidas de intervenção não farmacológicas, o R da influenza reduziu para menos de 1, o que explica a muito menor transmissibilidade e praticamente ausência de circulação viral”, acrescentou o especialista, sublinhando que, ainda assim, houve casos de gripe em cuidados intensivos, mas numa expressão muito residual.
“Tanto quanto é do meu conhecimento, houve dois casos de internamento por vírus influenza na rede de vigilância de gripe em cuidados intensivos. (…) Habitualmente costumamos ter cerca de 200”, frisou.
Filipe Froes disse que “não vai fazer sentido” andar o tempo todo de máscara no inverno, mas defendeu que “fará sentido as pessoas passarem a usar máscara sempre que tiverem sintomas de gripe”.
Além do uso de máscara, o especialista aconselhou que será importante que, sempre que existam sintomas compatíveis com gripe, as pessoas evitarem estar em aglomerados de gente.
“É um esforço de dois ou três dias que vale a pena”, insistiu.
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