Ela é responsável em todo mundo pela perda de nove milhões de pessoas todos os anos, o que corresponde a 13% das mortes com mais de 90 milhões de anos de vida com incapacidade. Pondo em perspectiva, o tabagismo é responsável por 9% das mortes, a glicemia elevada e a inatividade física por 6% cada, e o excesso de peso e a obesidade são responsáveis por 5% da mortalidade a nível global.
Em 2000, a prevalência da hipertensão na população mundial era de 25% e a estimativa para o ano de 2025 é de 29%. Em Portugal, segundo dados da Direção-Geral de Saúde, a taxa de prevalência da hipertensão, em 2013 na população adulta, era de 27%. Esta prevalência aumenta de forma significativa com a idade sendo que mais de 70% da população com mais de 65 anos tem hipertensão.
A pressão arterial aumentada faz com que haja uma lesão permanente no interior dos vasos sanguíneos que irrigam órgãos nobres como cérebro, coração, rim e retina a ponto de os poder danificar e contribuir para os tais eventos cardio e cerebrovasculares, nomeadamente AVC e enfarte, duas das principais causas de morte no nosso país e no mundo.
Assim todos os doentes que se apresentem hipertensos devem ser avaliados por um médico para identificação de outros fatores de risco cardiovasculares, bem como para detecção precoce da repercussão da hipertensão nos chamados órgão-alvos. Isto permite uma estratificação de risco rigorosa e uma orientação terapêutica específica na tentativa de redução do risco cardiovascular.
O que significam os valores que surgem quando medimos a pressão arterial?
Existem dois valores que são avaliados quando se mede a pressão arterial, o primeiro valor, a máxima (pressão sistólica) que representa a tensão exercida nos vasos quando o sangue é bombeado do coração, e o segundo valor, a mínima (pressão diastólica), que representa a tensão nos vasos entre os batimentos cardíacos. A pressão arterial está aumentada quando este valor ultrapassa os 140/90 mmHg sendo a pressão arterial óptima abaixo dos 120/80 mmHg.
Como deve ser medida a pressão arterial?
A pressão arterial deve ser medida com a pessoa sentada com pelo menos 3 a 5 minutos de repouso. Deve medir num braço e noutro e avaliar posteriormente no braço de maior valor. Deve avaliar pelos menos 3 vezes com espaço de 30 segundos a 1 minuto e registar a média das duas últimas avaliações.
Que factores podem influenciar a instalação da pressão arterial aumentada?
Para a instalação da pressão arterial aumentada concorrem vários fatores como o excesso de peso e a obesidade; a inativade física; o excesso de consumo de sal; uma dieta pobre em frutas e legumes; o excesso do consumo de álcool; a herança genética, etc. Para estes casos dizemos que a pessoa tem uma hipertensão arterial essencial ou primária, correspondendo a mais de 95% de todos os casos de hipertensão. Existem casos menos frequentes em que a causa para a hipertensão arterial pode ser identificada e tratada como alterações na função da tiroide, alterações renais ou perturbações do funcionamento das glândulas suprarrenais entre outras. De todos os fatores aqui anunciados, por ventura, o sal será o principal.
Os portugueses consomem sal a mais?
Os portugueses consomem em média cerca de 10 g de sal por dia, o dobro do recomendado. Ao longo da nossa evolução não tínhamos sal à disposição e, por isso, a natureza criou-nos como máquinas conservadoras de sódio, que é um dos componentes do sal. Isto foi benéfico até termos descoberto que o sal podia também conservar os alimentos. Numa altura que ainda não havia refrigeração podermos conservar os alimentos foi a diferença entre a vida e a morte. Atualmente e com a abundância de comida, esta vantagem tornou-se uma desvantagem. Estamos preparados geneticamente para comermos 10 vezes menos sal do que a quantidade que ingerimos hoje em dia. Se reduzíssemos o consumo de sal a cerca de meia colher de chá, o que seria fácil se não consumíssemos produtos processados e se não acrescentássemos sal à comida, podíamos prevenir 22% de mortes por AVC e 16% das enfartes cardíacos fatais.
O que podemos fazer para reduzir a hipertensão?
Para a maior parte dos casos de hipertensão devem ser alterados, inicialmente, os estilos de vida, isto é, redução do consumo de sal para menos de 5g/dia; redução de produtos animais e de gorduras saturadas; aumentar o consumo de vegetais e de fruta comendo pelo menos 6 porções por dia; moderar o consumo de álcool com o equivalente a 2 copos de vinho para o homem e um para a mulher, por dia; praticar regularmente exercício físico, pelo menos 5 dias por semana, pelo menos meia hora por dia; reduzir o peso corporal com o objectivo de ter o índice de massa corporal abaixo de 25, saindo da zona de excesso de peso e de obesidade; deixar de fumar; evitar medicamentos que possam causar elevação da pressão arterial como os anti-inflamatórios.
Se com estas medidas gerais de estilo de vida não se conseguir alcançar valores normais para a pressão arterial deve haver tratamento farmacológico com medicamentos que podem ser receitados pelo seu médico assistente. Relembrar ainda que, apesar do extenso arsenal terapêutico contra a hipertensão, apenas 34% dos doentes medicados é que apresentam a sua pressão controlada.
É assim importante que as pessoas saibam o que é a hipertensão arterial, que a saibam prevenir, que a saibam identificar, para tomarem medidas que levem ao seu controlo efetivo de forma a poderem reduzir o seu risco cardiovascular, risco de morte e de incapacidade.
Um artigo do médico Pedro Rio, cardiologista do Centro do Coração dos Hospitais CUF em Lisboa.
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