A redução do número de internistas de 36 para os atuais 12 no Hospital Beatriz Ângelo cria uma situação “gravíssima sobre o que está a acontecer em termos de prestação de cuidados de saúde a esta população”, disse à Lusa o presidente do Conselho Regional do Sul da Ordem dos Médicos.
Segundo Paulo Simões, que hoje se reuniu com a administração, com especialistas e com internos, o hospital tem estado debaixo de “pressão nestes últimos tempos”, desde a sua passagem em janeiro de 2022 do regime de Parceria Público Privada (PPP) para a gestão pública.
“Com o término da PPP, muitos dos pagamentos adicionais que se faziam para essa especialidade desapareceram e as pessoas procuram alternativa. Antigamente era mais difícil um especialista de medicina interna ter saída [fora do SNS], mas neste momento os privados precisam de internistas”, explicou o dirigente da ordem.
Paulo Simões adiantou ainda que a diminuição do número de médicos reflete-se na qualidade da formação dos internos, que, “às vezes, só têm o próprio chefe de equipa, que é a única pessoa a quem podem recorrer”.
De acordo com o presidente do Conselho Regional do Sul, o serviço de medicina interna tem de dar assistência também ao serviço de urgências, mas sobretudo tem de assegurar o acompanhamento dos doentes internados.
Na prática, estes especialistas chegam a ter, na enfermaria, “12, 13 e 14 doentes para ver o que é humanamente impossível” no tempo que têm disponível, o que faz com não tenham hora de entrada e de saída de serviço.
“Acabam por trabalhar todos os dias mais horas do que as que deveriam e não são remunerados. As pessoas aguentam isso durante uns tempos, mas chega uma altura em que dizem que vão procurar alternativas”, adiantou Paulo Simões, ao alertar que se verifica “uma fuga clara” de médicos para Inglaterra, Alemanha e França, mas também para países escandinavos.
A Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde tem de “começar a pensar o que quer fazer em relação aos serviços de medicina, porque corre o risco de qualquer dia não haver serviços de medicina, que é a especialidade base que sustenta, quer os serviços de urgência, quer o próprio funcionamento dos hospitais”, sublinhou.
O dirigente da ordem defendeu também a necessidade de criar rácios do número de médicos por doentes, à semelhança do que acontece com os enfermeiros. Quando não existe o número definido de enfermeiros as camas fecham.
“Entendo que a ordem aqui vai ter de ter um papal fundamental a definir esses rácios, porque não aceito que um especialista tenha a capacidade para ver 20 doentes com a mesma capacidade que teria para ver o normal de seis a oito doentes”, afirmou.
O Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, no distrito de Lisboa, funcionou até 19 de janeiro de 2022 no regime de PPP, sendo gerido, até então, pelo grupo privado Luz Saúde.
Atualmente a unidade hospitalar tem gestão pública, assente no modelo de entidade pública empresarial (EPE).
A unidade hospitalar abriu em janeiro de 2012 para servir 278 mil habitantes dos concelhos de Loures, Odivelas, Mafra e Sobral de Monte Agraço.
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