Intitulada “Implementação de biomarcadores moleculares para medicina de precisão em doentes com tumores cerebrais pediátricos”, esta é uma investigação que visa otimizar o prognóstico e o tratamento deste tipo de tumores, uma área que, segundo Jorge Lima, investigador do i3S, “carece de avanços e de alternativas terapêuticas”.

“As terapias são limitadas, e aquelas que estão agora a ser desenvolvidas e que poderão vir a ser aplicadas precisam da procura de biomarcadores moleculares [alterações específicas das células tumorais]”, disse, à Lusa, o cientista português.

Esta colaboração investigativa teve início graças a uma doação de um casal português, que perdeu o filho devido a um cancro.

“O casal angariou dinheiro para o tratamento da criança, mas infelizmente não chegou a ser utilizado porque a criança faleceu. Mas, eles não o queriam e decidiram aplicá-lo em algo que fosse útil para outras crianças”, explicou Jorge Lima.

Este apoio financeiro permitiu que se gerasse uma parceria entre as duas instituições portuenses, que começou por procurar biomarcadores moleculares que permitissem a aplicação de uma “imunoterapia direcionada”.

“O sucesso destas terapias dirigidas está intimamente relacionado com os biomarcadores moleculares encontrados. Portanto, temos de pesquisar no tecido tumoral a existência destas alterações de modo a dizermos que terapia pode ser aplicada a determinado biomarcador”, afirmou o investigador.

Tendo em conta a dificuldade que é fazer com que “laboratórios farmacêuticos invistam em ‘drogas’ para os cancros pediátricos, dado o número escasso de doentes”, este é um processo que “muita atenção” às alterações e fármacos encontrados para os cancros dos adultos, disse Maria João Gil da Costa, oncologista pediátrica do Centro Hospitalar São João e interlocutora clínica daquela unidade hospitalar no projeto.

No caso do melanoma, por exemplo, os investigadores viram que “em alguns tumores das crianças também estava presente esta mutação, portanto, estamos a utilizar a terapêutica que se utiliza nos melanomas para os adultos nas crianças que também tem essa mutação”.

“Estamos longe de saber quanto tempo temos de manter o tratamento, porque é que é efetivo nuns tumores e não em outros, o que acontece quando pararmos ou como controlar os efeitos colaterais do mesmo”, acrescentou.

Atualmente, este projeto envolve 40 crianças e adolescentes, das quais cinco já estão a ser tratadas com recurso às terapias dirigidas.

Em 2018, a investigação foi distinguida com a Bolsa de Investigação Médica Lions – Núcleo Regional do Norte da LPCC na Área do Cancro Pediátrico.

Fonte: PIPOP