Os números não podem continuar a ser ignorados. De acordo com a World Heart Federation, a insuficiência cardíaca é uma das principais causas de hospitalização em todo o mundo, com cerca de 26 milhões de doentes diagnosticados à escala global. Segundo as estimativas dos especialistas, um quinto da população mundial corre o risco de poder padecer desta síndrome durante grande parte da vida. A Sociedade Portuguesa de Cardiologia aponta para que já afete cerca de 400.000 portugueses.

Em toda a Europa, serão cerca de 15 milhões. Uma em cada 25 pessoas não sobrevive ao primeiro internamento após o diagnóstico principal de insuficiência cardíaca e uma em cada 10 pessoas acaba mesmo por morrer nos 30 dias subsequentes à hospitalização. Estes dados constam no relatório divulgado, no final de 2020, pelo Consenso Estratégico para Insuficiência Cardíaca em Portugal, um grupo de trabalho multidisciplinar coordenado cientificamente pela Heart Failure Policy Network.

Esse organismo prevê o aumento para meio milhão de casos de insuficiência cardíaca em 2060, sobretudo na faixa etária acima dos 60 anos. Nos dias que correm, é já a terceira causa mais comum de hospitalização no nosso país, sendo que uma em cada cinco pessoas internadas por causa deste problema é, por norma, readmitida com um agravamento da síndrome, pelo menos uma vez, no período de um ano após a alta hospitalar. Uma realidade que a maioria dos portugueses desconhece.

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Para sensibilizar a população para o problema, são muitas as organizações que aproveitam o mês de maio, Mês do Coração, para promover campanhas informativas e iniciativas que visam alertar para a problemática das doenças cardiovasculares em geral e para os sintomas da insuficiência cardíaca em particular. É o caso da Associação de Apoio aos Doentes com Insuficiência Cardíaca (AADIC), que desenvolveu uma campanha com o mote "De coração cheio & sem reservas", uma iniciativa dirigida aos doentes nacionais que assenta na premissa de que é possível viver com melhor qualidade de vida.

Esta campanha tem como ponto alto o lançamento de um movimento solidário que desafia a sociedade civil, os sócios e os profissionais de saúde a vestirem uma camisola vermelha pela insuficiência cardíaca e a partilharem, depois, uma fotografia na página de Facebook da AADIC. No final do mês, a associação irá criar um cartaz com os rostos que se associaram à iniciativa. Além da divulgação na imprensa e redes sociais, as cidades de Lisboa, Porto, Penafiel e Cascais também têm mupis com a campanha.

Insuficiência cardíaca afeta 400.000 portugueses. Até 2030 prevalência pode aumentar entre 50% a 70%

"Em Portugal, existem cerca de 400.000 pessoas com insuficiência cardíaca, sendo possível que grande parte destes pacientes ainda estejam subdiagnosticados e subtratados", alerta Maria José Rebocho, cardiologista que integra a AADIC. "Estima-se que a sua prevalência [em território nacional] possa aumentar entre 50% a 70% até 2030", avisa ainda a médica. "Atualmente, a insuficiência cardíaca já é a primeira causa de internamento hospitalar após os 65 anos", sublinha a especialista.

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O surto viral de COVID-19 agravou o problema. "A pandemia veio intensificar esta problemática porque, infelizmente, os diagnósticos ficaram suspensos e os próprios doentes assumem que tiveram medo de se dirigir ao hospital para receber os respetivos cuidados de saúde. O objetivo da AADIC é apoiar os doentes e, por isso, decidimos promover uma campanha que lhes é dirigida, com um foco motivacional, mostrando que é possível viver com qualidade de vida, desde que o doente cumpra as recomendações médicas, tome a medicação corretamente, tenha cuidados com a alimentação, pratique atividade física, não fume nem beba bebidas alcoólicas e tenha apoio adequado para autogerir a sua doença no dia a dia", refere.

A necessidade de aumentar a consciencialização da população para o problema da insuficiência cardíaca é reforçado por Luís Filipe Pereira, presidente da AADIC. "Esta é uma doença frequente, em especial nos estratos etários mais elevados, muitas vezes diagnosticada tardiamente, com internamentos hospitalares recorrentes e mortalidade elevada. Durante o Mês do Coração, queremos chamar a atenção da opinião pública para esta patologia ainda insuficientemente compreendida", justifica.

 A importância da atividade desportiva

A Fundação Portuguesa de Cardiologia é outra instituição que se tem distinguido pelas ações de sensibilização públicas que promove durante o Mês do Coração. A campanha deste ano, que tem "Faz os mínimos olímpicos por um coração em forma" como mote, pretende alertar a população para a importância do exercício físico, enquanto promotor de saúde, para além de demonstrar os seus benefícios na prevenção das doenças cardiovasculares em ano de regresso dos Jogos Olímpicos.

O facto de Lisboa ter sido eleita Capital Europeia do Desporto 2021 também contribuiu para essa analogia. A campanha deste ano conta com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa, do Instituto Português do Desporto e da Juventude e do Comité Olímpico de Portugal e tem como embaixador o judoca Nuno Delgado. Tem vindo a ser divulgada através de diversos suportes, incluindo vídeos, spots de radio, cartazes e anúncios de imprensa e inclui uma série de atividades a decorrer online.

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As atividades em formato online decorrem na plataforma digital Maio no Coração, criada especificamente para esta campanha. É lá que tem vindo a ser disponibilizada informação útil sobre as doenças cardiovasculares dirigida à população em geral, incluindo dicas e recomendações de médicos, vídeos, webinars e workshops. É também lá que vão decorrer sessões científicas com acesso exclusivo aos profissionais de saúde, como é o caso do Summit, a realizar nos dias 13 e 14 de maio.

"Coração e COVID-19" e "Coração e atividade física" são duas das temáticas que vão ser abordadas. "Realizaremos neste espaço virtual as atividades que costumávamos desenvolver em formato presencial, para continuar a fazer a diferença na vida das pessoas. O nosso foco é partilhar informação e sensibilizar os portugueses para a prevenção das doenças cardiovasculares, a principal causa de morte no nosso país", refere Manuel Carrageta, presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia.