Recentemente a informação de que estudos científicos teriam comprovado que a inteligência era herdada geneticamente da mãe tomou conta da internet, no entanto há discordâncias em relação a esse assunto por parte da comunidade científica.
Os estudos que indicaram que a inteligência viria da mãe baseiam-se em análises que relacionam a inteligência humana ao cromossoma X. Como as mulheres têm dois destes cromossomas (XX) e os homens apenas um (XY), as probabilidades da inteligência do filho advir da mãe seriam maiores, aumentando a influência da genética da mulher nas habilidades cognitivas da criança.
Entretanto, de acordo com a geneticista Susana Massarani, não existe um único fator responsável pela inteligência e as associações feitas ao cromossoma X não têm fundamentação.
"As notícias sobre a inteligência ser herdada da mãe são baseadas em pesquisas antigas e não sobre informações atuais acerca da inteligência. A inteligência é uma característica poligénica e multifatorial envolvendo genes ao longo de todo o genoma humano e não só em cromossomas sexuais, isso sem falar nos fatores ambientais, alimentação, formação intelectual", indica a especialista.
"Estudos enormes de GWAS (estudos de associação de todo o genoma) demonstram inúmeros genes associados à cognição e à inteligência de forma global localizados em cromossomas autossómicos, ou seja, cromossomas que não são sexuais como os cromossomos X e Y", acrescenta.
"É sabido que nas mulheres um dos cromossomas X é inativado pelo processo de imprinting e dessa maneira os dois cromossomas X não são funcionais ao mesmo tempo. Caso isso ocorresse levaria a um aumento da expressão de genes que causam danos ou a inviabilidade do embrião. Sabemos também que inúmeras condições de déficit cognitivo e intelectual estão associadas a alterações no cromossoma X, o que entra em conflito com essa afirmação", explica a geneticista Susana Massarani
"Até agora, os avanços científicos permitiram entender que a avaliação da inteligência é bastante complexa e depende de uma quantidade enorme de genes e das condições do ambiente em que o indivíduo vive, se alguém carregar as melhores 'versões' dos genes associados à inteligência e não tiver sido mantido em excelentes condições intra útero e posteriormente na sua vida, pode não desenvolver o máximo de seu potencial de inteligência", finaliza.
Susana Massarani é geneticista, bióloga molecular e microbiologista, atua na primeira clínica digital do Brasil, a Clínica DNA Massarani, e é membro centífico e palestrante do Instituto de Nutrição Cérebro Coração INCCOR-RJ, sendo pós-graduada em prescrição clínica com foco em Nutrigenética e Nutrigenómica.
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