“O doutor Manuel Pizarro é um político experiente que já há muitos anos tem a capacidade e poder político junto do Governo e do primeiro-ministro. (…) A verdade é que muitas das intenções que ele expressa, que são genuínas, têm esbarrado com uma total insensibilidade por parte do Ministério das Finanças”, salientou à Lusa o presidente do SIM junto ao Hospital de Santa Maria, em Lisboa.

Jorge Roque da Cunha acusou o ministro das Finanças, Fernando Medina, de estar “deslumbrado pelas alcatifas de Bruxelas”, esquecendo-se de que “há milhões de portugueses sem médico de família e (…) milhares de grávidas que não têm acompanhamento na sua gravidez”.

“O que acho que tem falhado aqui é a capacidade do doutor [Fernando] Medina de perceber que é preciso investir hoje para poupar amanhã. Não se compreende que numa situação destas 176 milhões de euros sejam despendidos em prestadores de serviço ou sequer que os médicos no Serviço Nacional de Saúde façam cinco milhões de horas extra”, atentou.

“Isto é inadmissível e impensável. (…) O que tem faltado é vontade política e seriedade no Governo quando diz que ama o Serviço Nacional de Saúde na retórica e depois, na prática, desinveste no Serviço Nacional de Saúde”, acrescentou.

Em jeito balanço da greve dos médicos do setor público, Jorge Roque da Cunha adiantou que, a nível global, a adesão está nos 90%.

“Os números que temos é que nos cuidados de saúde primários [a adesão à greve) está muito próxima dos 93% e a nível dos cuidados hospitalares nos 91%”, realçou, observando que “os serviços de urgência interna, urgência externa, de diálise, de tratamentos oncológicos estão devidamente assegurados, porque há serviços mínimos”.

O dirigente sindical disse ainda que os blocos estão encerrados no hospital de Guimarães e no de Braga, e que nos hospitais de Faro, Beja e Évora só há um bloco a fazer cirurgia oncológica.

Os médicos iniciaram hoje uma greve nacional de três dias para forçar o Governo a apresentar uma proposta concreta de revisão da grelha salarial, que o ministro da Saúde prometeu na segunda-feira enviar aos sindicatos.

Convocada pelo SIM, a paralisação decorre em simultâneo com uma greve dos médicos de família ao trabalho extraordinário, iniciada na segunda-feira e que terá a duração de um mês.

Na sexta-feira passada, no final de uma reunião negocial, o secretário-geral do SIM acusou o Ministério da Saúde de "não apresentar os documentos negociais", asseverando que só iria à próxima reunião com a tutela, agendada para sexta-feira, se recebesse as propostas do Governo antecipadamente.

Na segunda-feira, o ministro da Saúde assegurou que iria apresentar uma proposta de revisão da grelha salarial aos médicos e lamentou o "criticismo excessivo" que tem havido sobre a forma como têm decorrido as negociações, que se iniciaram ainda em 2022, com a antecessora ministra Marta Temido, mas que resultaram até à data sem acordo entre as partes.

Na fase de discussão do protocolo negocial, em julho de 2022, Governo e sindicatos concordaram em incluir a grelha salarial dos médicos do Serviço Nacional de Saúde nas negociações.