
Mestre em Gestão da Comunicação em situação de crise e emergências – catástrofe (Universidade Complutense de Madrid), com pós graduação em Liderança em Saúde (INSEAD) e Medical response to Major incidentes (SESARAM com Univ Estocolmo, defende a redução de danos como estratégia vital para consumidores aditos (dependentes) de tabaco que não podem parar abruptamente. A especialista, sem conflito de interesses, destaca eficácia de alternativas como cigarros eletrónicos e terapias de reposição de nicotina, além de apoio multidisciplinar (estratégias de educação, informação e comunicação). Apesar de ser contrária ao uso de cigarros (combustão) critica o “fundamentalismo em saúde pública” que não respeitam as pessoas que sofrem com esta dependência e impostos elevados que travam essas políticas em Portugal, defendendo integração com cessação tradicional para salvar vidas em grupos vulneráveis.
HealthNews (HN) – Como define o conceito de redução de danos no contexto do tabagismo e qual o seu impacto na saúde pública?
Isabel de Santiago (IS) – A redução de danos consiste em medidas para pessoas já dependentes do tabaco, com o objetivo de minimizar os efeitos nocivos do consumo. Trata-se de uma intervenção terciária, focada em reduzir danos sem exigir abstinência imediata. Isso inclui diminuir o número de cigarros diários ou optar por dispositivos menos prejudiciais, como alternativas não combustíveis. O impacto na saúde pública envolve a redução de toxinas, melhoria da qualidade de vida e combate a estigmas, especialmente em grupos como doentes oncológicos ou pacientes psiquiátricos, para quem a cessação imediata pode ser inviável.
HN – Que intervenções de redução de danos para o tabaco demonstram maior eficácia?
IS – As intervenções mais eficazes são a substituição de nicotina (Pastilhas ou adesivos a preços acessíveis); dispositivos alternativos (Cigarros eletrónicos ou produtos de tabaco aquecido); Acompanhamento multidisciplinar: Combinação de suporte psicológico, pneumológico e estratégias comportamentais, como ingestão de água para controlar a ansiedade; mensagens positivas (campanhas que destacam benefícios tangíveis, como melhoria do paladar ou da pele);
A eficácia aumenta com incentivos económicos, como terapias de reposição de nicotina a preços iguais ou inferiores aos cigarros.
HN – Quais os maiores obstáculos à aceitação social e política da redução de danos no tabagismo?
IS – Os principais obstáculos incluem o fundamentalismo sanitário (rejeição de abordagens não abstinentes por parte de autoridades); interesses económicos: (impostos elevados sobre terapias de reposição de nicotina em Portugal, contrastando com preços baixos noutros países europeus); falta de visão sistémica (o Estado prioriza receitas fiscais do tabaco em vez de prevenção; hábitos culturais (normalização do consumo, como cinzeiros em esplanadas).
HN – Como integrar a redução de danos com programas de cessação tabágica tradicionais?
IS – A integração exige equipas multidisciplinares com envolvimento de pneumologistas, psicólogos e nutricionistas para abordar dependência física e efeitos colaterais; acesso universal adotando estratégias que permitam reduzir as listas de espera e a disponibilização de alternativas económicas. Finalmente, num contexto de estratégias complementares, promover programas de exercício físico e mensagens focadas em ganhos concretos.
HN – Que indicadores devem medir o sucesso das estratégias de redução de danos a longo prazo?
IS – Os indicadores-chave incluem a redução de prevalência, focada em grupos prioritários, como homens entre 35–64 anos; a qualidade de vida, através da melhoria de parâmetros respiratórios e saúde mental e a prevenção primária traduzida na queda no início do consumo entre jovens, avaliada via inquéritos nacionais. Finalmente, a equidade (impacto em comunidades vulneráveis, como bairros sociais.)
Fonte: SICAD
Entrevista MMM
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