HealthNews (HN)- Foi distinguido com o Grande Prémio BIAL de Medicina 2008 e com o Prémio BIAL de Medicina Clínica 2022. Que importância atribui a este Prémio no panorama da investigação em Medicina Clínica em Portugal?
Prof. Miguel Castelo-Branco (MCB)- Este prémio representa um incentivo notável para a investigação clínica no nosso País. Todos conhecemos as dificuldades crónicas do investimento público na área de investigação translacional e prémios como este são sempre uma fonte de motivação para quem trabalha nestas áreas.
HN- O trabalho vencedor da edição de 2022 reflete 15 anos dedicados à investigação na área do Autismo e perturbações do neurodesenvolvimento relacionadas. Como foi o desafio de resumir 15 anos de investigação numa obra de 150 páginas?
MCB- Foi sem dúvida um enorme desafio realizar esta síntese de um caminho que foi muito intenso e envolveu várias equipas que foram mudando ao longo dos vários anos, envolvendo médicos, psicólogos, engenheiros, biólogos, técnicos de saúde e associações de famílias de pessoas com autismo. Foi também um trabalho de reflexão sobre os novos caminhos que é preciso trilhar nesta área tão exigente da medicina e em que é preciso inovar nas intervenções de reabilitação.
HN- De que forma considera que esta distinção impactou a sua carreira de investigação?
MCB- O impacto é inegável pela visibilidade que trouxe. Mas acima de tudo traz responsabilidade de conseguir trazer respostas que tantas pessoas e famílias que agora nos procuram. E estamos à procura de soluções que tragam respostas no dia a dia das pessoas.
HN- Que outras áreas considera que podem ter potencial para revolucionar a Medicina Clínica?
MCB- Na minha área existem desenvolvimentos muito promissores na área das neurotecnologias, incluindo as interfaces homem-máquina e os jogos de neuroreabilitação. Trabalhamos também na área da visão onde colaboramos no estudo do impacto da terapia génica para recuperar pelo menos parcialmente certas capacidades visuais. Mas existem outras áreas a evoluir muito rapidamente como a imunologia e a oncologia.
HN- As candidaturas para o Prémio BIAL de Medicina Clínica 2024 encontram-se abertas até ao dia 31 de agosto. Que conselhos gostaria de deixar para quem está a pensar submeter a sua obra?
MCB- O conselho que dou é que as pessoas tragam e partilhem aquilo que melhor têm de si para tentar inspirar outros e criar as condições para que a reflexão conjunta leve a uma resposta mais rápida aos desafios da medicina clínica.
HN- Quais os principais desafios que os candidatos podem atravessar e qual a melhor forma de os ultrapassar?
MCB- O maior desafio para qualquer investigador clínico é duplo: ser criativo e conseguir demonstrar e comunicar aos outros o potencial das suas ideias e resultados. Não basta ter resultados potencialmente promissores, é preciso saber partilhar o conhecimento para que a ciência enquanto esforço comunitário possa evoluir.
HN- Na última cerimónia de entrega do Prémio, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou que “estes prémios fazem sentido por mudarem a vida de pessoas concretas”. Em que medida considera que prémios como este podem ter repercussão na vida dos pacientes?
MCB- Estes prémios mudam desde logo a vida dos doentes por trazerem maior visibilidade aos problemas que é preciso resolver, e ao apontar soluções que podem precisar da ajuda de investidores públicos ou privados. A consciencialização dos diversos interlocutores para o autismo é muito importante.
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