“Só mobilizados conseguiremos fazer alguma coisa pelo SNS que atravessa um momento, se calhar, o mais grave desde a sua fundação há quase 50 anos”, afirmou hoje à agência Lusa Martinho Cerqueira, da comissão instaladora dos utentes da ULSAM.
O responsável adiantou que a ideia de constituição da comissão de utentes partiu de um grupo de cidadãos que pretende “acompanhar as dificuldades locais e, numa perspetiva futura, até num âmbito mais nacional, fazer algo pela saúde em Portugal”.
Segundo Martinho Cerqueira, a “ULSAM, nas suas diversas valências, deveria estar capacitada para poder atingir a visão a que se propõe como a de ser uma organização otimizada e centrada na gestão integrada da saúde dos cidadãos do distrito de Viana do Castelo”.
“Como parte integrante do SNS, não é imune ao continuado desinvestimento no SNS e assistimos preocupados aos anúncios de dificuldades e até de encerramento de alguns serviços, nomeadamente as urgências no Hospital de Santa Luzia”, explicou.
Contactada hoje pela agência Lusa, fonte do movimento “Médicos em Luta" adiantou que “as urgências de medicina interna e cirurgia encerram a partir das 20:00 de hoje e até às 08:00 de segunda-feira”, devido às escusas a horas extraordinárias dos médicos.
O protesto deverá prolongar-se durante todo o mês de novembro.
A mesma fonte revelou que “as escalas do serviço de obstetrícia estão a ser garantidas à custa do cancelamento de consultas, exames e cirurgias”.
“É neste exigente panorama que se propõe a criação de uma comissão de utentes da ULSAM como um órgão independente e autónomo, de concertação de esforços para a análise e discussão de problemas, em articulação com as instituições e os seus profissionais, a fim de reivindicar e construir as soluções urgentes e necessárias”, afirmou Martinho Cerqueira.
A intenção da comissão instaladora é “mobilizar o máximo de pessoas com vontade de melhorar a saúde em Portugal e fazer frente à onda privatizadora da saúde”.
“O nosso objetivo é dar o pontapé de saída, convidando as pessoas para uma reunião, no dia 24, para trocarmos ideias e, a partir daí, criarmos uma comissão de utentes preocupada com a saúde no nosso distrito”, referiu Martinho Cerqueira.
A reunião está marcada para dia 24, às 18:00, no polo de Monserrate da União de Freguesias de Viana do Castelo e Meadela.
“É necessário defender o SNS e o direito à saúde, dignificar utentes, profissionais e instituições”, reforçou.
A ULSAM é constituída por dois hospitais: o de Santa Luzia, em Viana do Castelo, e o Conde de Bertiandos, em Ponte de Lima.
Integra ainda 12 centros de saúde, uma unidade de saúde pública e duas de convalescença, e serve uma população residente superior a 244 mil pessoas dos 10 concelhos do distrito de Viana do Castelo e algumas populações vizinhas do distrito de Braga.
Em todas aquelas estruturas trabalham mais de 2.500 profissionais, entre eles, cerca de 500 médicos e mais de 800 enfermeiros.
Mais de 30 hospitais de norte a sul do país estão a enfrentar constrangimentos e encerramentos temporários de serviços devido à dificuldade de as administrações completarem as escalas de médicos.
Em causa está a recusa de mais de 2.500 médicos em fazerem mais do que as 150 horas extraordinárias anuais a que estão obrigados.
Esta crise já levou o diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS), Fernando Araújo, a admitir que novembro poderá ser dramático, caso o Governo e os sindicatos médicos não consigam chegar a um entendimento.
As negociações entre sindicatos e Governo já se prolongam há 18 meses e há nova reunião marcada para sábado.
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