"Num país onde se estima que mais de um terço da população tenha deficiência de iodo e mais de 70% consuma sal em excesso, os resultados do projeto permitem antever uma revolução no mercado das conservas", disse à Lusa Simone Morais, docente do Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP), uma das entidades envolvidas no Porto.
Com a inclusão de macroalgas, as conservas passam a conter manganês, zinco e iodo, "um micronutriente essencial e cujo défice na dieta alimentar" é um dos "principais problemas socioeconómicos e de saúde pública na Europa", indicou a investigadora do Grupo de Reação e Análises Químicas (GRAQ) da Rede de Química e Tecnologia (REQUIMTE) do ISEP.
Essas macroalgas, que podem ser de origem selvagem ou de aquicultura, são colhidas e secas de seguida, de forma a manter a conservação, voltando a ser hidratadas antes da preparação das conservas, que também podem ser produzidas com algas frescas, explicou.
Durante o projeto, as macroalgas foram também utilizadas como potenciadoras de sabor salgado e umami (um dos cinco gostos básicos do paladar humano), estando a ser agora estudada a possibilidade de diminuição do sal nas conservas.
"Portugal possui uma das mais extensas costas europeias" e "um enorme potencial de aproveitamento dos recursos marinhos", indicou a docente, acrescentando que o país tem, no entanto, "uma das mais elevadas taxas de subaproveitamento desses recursos", em comparação com os principais parceiros europeus.
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Para Simone Morais, os resultados comprovam o potencial diferenciador da utilização das algas nos produtos de conserva, visto trazerem benefícios ao nível sensorial, possibilitando uma maior diversidade aos consumidores, e ao nível nutricional, permitindo colmatar algumas das "mais preocupantes" deficiências alimentares.
A investigadora acredita que, devido ao valo nutricional das algas, em particular pelo seu conteúdo em micronutrientes essenciais e em proteínas de elevado valor biológico, a integração destas na alimentação pode assumir grande relevância, respondendo também à "intensa e crescente" procura dos consumidores por alimentos mais saudáveis e naturais.
O "iCanSea" resulta de uma consórcio formado pelo ISEP, pela fábrica de conservas La Gondola e pela empresa de consultoria de enfoque tecnológico WeDoTech, sendo uma iniciativa do programa Portugal 2020, financiada pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) em 213 mil euros, através do COMPETE2020.
Questionado pela Lusa, Sérgio Real, representante da empresa La Gondola informou que as conversas serão produzidas e comercializadas, em princípio, a partir de setembro.
"Já temos interessados nacionais e internacionais e estamos a ultimar o projeto, procurando a melhor forma de ter uma produção contínua", indicou.
Com um investimento total de 403 mil euros, o projeto teve início em julho de 2015 e finalizou em junho de 2017, contando com a participação de oito investigadores do ISEP, dois do WeDoTech e sete elementos da La Gondola.
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