Eficácia reduzida...

Vários estudos em laboratório mostram que a variante Delta (antes chamada "variante indiana") parece mais resistente às vacinas que outras mutações. É o que se conhece como "escape imunológico".

De acordo com um estudo, coordenado pelas autoridades britânicas e publicado no início de junho na revista The Lancet, nas pessoas vacinas com as duas doses da Pfizer/BioNTech, o nível de anticorpos neutralizantes é quase seis vezes menos elevado na presença da variante Delta que com a estirpe originária, que foi usada para desenvolver as vacinas.

Em comparação, esta redução é de 2,6 vezes em relação à variante Alfa ("britânica") e 4,9 vezes perante a variante Beta ("sul-africana").

Outro estudo, do Instituto Pasteur em França, conclui que os anticorpos neutralizantes depois da aplicação da vacina Pfizer/BioNTech são entre três a seis vezes menos eficazes contra a variante Delta que contra a Alfa.

...Mas eficazes

Os níveis de anticorpos registados em laboratório são um indicador essencial, mas não suficiente para determinar a eficácia de uma vacina. Porquê? Porque não se tem em consideração a outra face da resposta imunológica, a imunidade celular. Por este motivo existe a importância de analisar o que acontece na vida real. E os resultados são bem mais tranquilizadores.

De acordo com dados apresentados na segunda-feira pelas autoridades britânicas, a vacinação com a Pfizer/BioNTech e com AstraZeneca são igualmente eficazes para impedir a hospitalização tanto para a variante Delta como para a Alfa.

Duas doses permitem evitar em 96% (para Pfizer/BioNTech) e 92% (para AstraZeneca) os internamentos pela variante Delta, segundo o estudo com 14.000 pessoas. Dados anteriores das autoridades britânicas apresentaram conclusões parecidas para formas menos graves da doença.

Duas semanas depois da segunda dose, a vacina Pfizer/BioNTech é 88% eficaz contra a forma sintomática da variante Delta e 93% quando se trata da variante Alfa. A AstraZeneca demonstrou eficácia 60% e 66% contra estas mutações.

Os criadores da vacina russa Sputnik V afirmaram na terça-feira no Twitter que o seu fármaco era "mais eficaz contra a variante Delta" que qualquer outro, mas não publicaram os dados.

Uma dose não é suficiente

Os estudos convergem em um ponto: apenas uma dose oferece uma proteção limitada contra a variante Delta.

"Após uma dose da Pfizer/BioNTech, 79% das pessoas tinham uma resposta de anticorpos detetável contra a estirpe original, mas esta caía a 50% para a variante Alfa, 32% para a variante Delta e 25% para a variante Beta", conclui o estudo publicado na revista The Lancet.

A pesquisa do Instituto Pasteur indica que apenas uma dose da AstraZeneca seria "pouco ou nada eficaz" contra a variante Delta.

Estas tendências são confirmadas na vida real: segundo as autoridades britânicas, apenas uma dose de qualquer uma das vacinas tem eficácia de 33% para impedir a forma sintomática da doença causada pela Delta (e 50% para a variante Alfa).

Entre todos os imunizantes autorizados, apenas o do laboratório Janssen é de dose única. No momento não há dados sobre a sua proteção para a variante Delta.

E depois?

Para travar a propagação desta variante, 60% mais transmissível que a Alfa segundo as autoridades britânicas, os cientistas insistem na importância da vacinação completa, ou seja, com duas doses.

Criar este "bloco de vacinados", nas palavras do presidente do Conselho Científico francês Jean-François Delfraissy, tem um segundo objetivo: impedir o surgimento de outras variantes entre a população que está parcialmente ou nada protegida.

A perspectiva que preocupa mais é o surgimento de outras mutações do vírus, mais resistentes às vacinas.

"Mas não se deve basear tudo na vacinação", declarou à AFP o epidemiologista Antoine Flahault, que considera crucial "manter a circulação do vírus muito baixa", com outras medidas de controlo (deteção de casos, medidas de restrição, etc), pois quanto mais circula o vírus, maior é a possibilidade de surgirem novas mutações.

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