Franklim Marques aponta a multidisciplinariedade da atividade farmacêutica como a grande mais valia e sublinha que, com a suspensão da atividade não urgente causada pela pandemia, muitos doentes crónicos “só encontraram apoio para as suas dúvidas nas farmácias”.-
“Não imagina os doentes crónicos que se viu sem renovação da terapêutica. O susto que estes doentes apanharam… e iam para as farmácias desesperados. Muito pouca gente assistiu”, afirmou Franklim Marques, sublinhando a importância da rede capilar das farmácias comunitárias, “que tanto estão no litoral, como no interior”.
“A rede é muito capilar e tem um papel muito importante no apoio a toda a população”, acrescentou o professor associado do Departamento de Ciências Biológicas da Faculdade de Farmácia da Universidade de Porto.
O responsável, que já anunciou a intenção de se candidatar à Ordem dos Farmacêuticos (OF) nas eleições do próximo ano, considera que “o Estado usa mas não valoriza” o trabalho dos farmacêuticos e que todos ganhavam com um melhor aproveitamento do ‘know how’ destes profissionais.
“Aquilo de que se sentiu falta na pandemia, muito estaria minorado se muitos serviços propostos há anos atrás, e nos quais temos vindo a trabalhar dai até então, estivessem implementados”, disse o especialista.
Elogia o caminho seguido pela direção atual da OF e sublinha, sobretudo, o bom ‘feedback’ da população do trabalho dos farmacêuticos.
Franklim Marques defende ainda que deve existir uma ligação mais efetiva da farmácia aos centros de saúde: “É um caminho que tem de ser percorrido”.
“Se não aproveitarmos agora, com a pandemia, vamos perder uma oportunidade única”, disse o responsável, sublinhando que os farmacêuticos “são muito mais do que dispensadores de medicamentos”.
“A nossa profissão é científica, não é só técnica. Ao não valorizar a relação com o doente estamos a transformar a profissão numa profissão meramente técnica”, acrescentou.
Lembra que já há, nalguns hospitais, uma maior envolvência dos farmacêuticos na área clínica, que esta “devia ser mais desenvolvida” e que, nalguns países, como Espanha ou Inglaterra, tal “já não é novidade”.
Diz que o instrumento de trabalho dos farmacêuticos é o medicamento – “o medicamento está para o farmacêutico com o bisturi está para o cirurgião” – e que a grande mais valia destes profissionais é também a capacidade de monitorização do efeito e eficácia dos fármacos.
“O médico é, por excelência, o que faz diagnósticos e institui a terapêutica. Mas não participa na fase seguinte”, afirma.
Ainda sobre o potencial do trabalho dos farmacêuticos, Franklim Marques aponta o que está já a acontecer em França, onde, em condições estritamente protocoladas, e num momento de colaboração com os clínicos, os farmacêuticos intervêm igualmente no processo da prescrição.
“A prescrição é sempre médica, mas os farmacêuticos podem, num momento de colaboração, intervir nesse processo”, considera, sublinhando: “Poucos têm a qualidade científica que nós temos. Não estão a aproveitar o que sabemos. É um desperdício”, afirma.
Mas para que os farmacêuticos possam fazer tudo o que se propõem, Franklim Marques defende a necessidade de mais recursos, mostrando-se “esperançoso” numa “atitude racional” na abertura de vagas para a residência farmacêutica, que se espera avançar no início do próximo ano.
Franklim Marques é também membro do Conselho de Cooperação da Ordem dos Farmacêuticos de Portugal, presidente da Academia de Ciências Farmacêuticos de Portugal e da Associação Europeia de Farmacêuticos Especialistas em Medicina Laboratorial e Genética Humana.
É igualmente membro do Conselho Consultivo da Autoridade Antidopagem de Portugal.
Comentários