Segundo Maria João Fonseca, primeira autora da investigação, “existem vários estudos, realizados sobretudo em mulheres, que mostram que o desenvolvimento pubertário precoce influencia negativamente a saúde cardiometabólica na vida adulta. No entanto, alguns estudos sugerem que esta associação poderá ser explicada pelo já maior nível de adiposidade prévia nestas crianças”.

A investigação do ISPUP, publicada no Journal of Adolescent Health, procurou esclarecer várias questões, nomeadamente, se “a associação entre um estado pubertário mais avançado e o risco cardiometabólico se verifica já aos 10 anos de idade, se esta associação é manifestada igualmente em raparigas e rapazes, e se é independente da adiposidade prévia da criança”, continua a investigadora.

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O trabalho avaliou o estado pubertário de cerca de 4500 crianças que integram a coorte Geração XXI - um estudo longitudinal que segue, desde 2005, 8600 participantes que nasceram nas maternidades públicas da Área Metropolitana do Porto.

Os investigadores avaliaram o estado pubertário das crianças aos 10 anos de idade, através da escala de Tanner, o que incluiu a avaliação dos pelos públicos e do volume mamário ou testicular, nas raparigas e nos rapazes, respetivamente. Adicionalmente, observaram os seus indicadores cardiometabólicos e a adiposidade total e central (abdominal).

Verificou-se que, independentemente do nível de adiposidade prévia, as raparigas com um estado pubertário mais avançado apresentaram maior adiposidade total e central e níveis superiores de glicose, insulina e HOMA-IR, o que pode indicar já alguma alteração no metabolismo da glicose. Já os rapazes revelaram ter maior gordura total e central, mas não mostraram alterações no metabolismo da glicose.

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"Percebemos que, independentemente do índice de massa corporal (IMC) das crianças antes do início da puberdade, aquelas que apresentam um estado pubertário mais avançado têm maior probabilidade de desenvolverem obesidade e alterações cardiometabólicas. E isto verifica-se logo aos 10 anos", refere Maria João Fonseca, que acrescenta que "é importante que os pais e os pediatras estejam atentos aos sinais de desenvolvimento pubertário de forma a conseguirem identificar as crianças que se encontram num estado mais avançado.

Estas crianças devem ter os seus indicadores cardiometabólicos vigiados e ser alvo de medidas preventivas, de forma a minimizar o impacto do desenvolvimento pubertário avançado na sua saúde cardiometabólica".

O artigo, desenvolvido no âmbito da Unidade de Investigação em Epidemiologia (EPIUnit) do ISPUP, desgina-se Association of Pubertal Development With Adiposity and Cardiometabolic Health in Girls and Boys - Findings From the Generation XXI Birth Cohort, e é também assinado pelos investigadores Ana Cristina Santos, Andreia Oliveira, Inês Azevedo e Joana Nunes.