O escritor francês Marcel Proust certa vez descreveu esse cheiro, afirmando que tinha transformado o seu "humilde urinol em uma tigela de perfume aromático". Parece-me que ele estava em minoria, já que três em cada cinco pessoas são incapazes de detetar tal odor, de acordo com um estudo publicado esta quarta-feira (14/12).

Os dados de 6.909 participantes revelaram que 58% dos homens e 61,5% das mulheres tinham "anosmia de espargos", ou a incapacidade de detetar o seu cheiro intenso na urina, de acordo com os resultados da edição de Natal da revista médica BMJ, tradicionalmente reservada para estudos excêntricos mas cientificamente sólidos.

Entre esta maioria, cientistas da Escola de Saúde Pública de Harvard encontraram 871 variantes de codificação genética nos genes associados ao cheiro - sugerindo que tal incapacidade é hereditária.

Os profissionais de saúde debatem há muito tempo a causa do aroma acre que apenas algumas pessoas detetam na urina algumas horas depois de comer este vegetal.

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"Este estudo foi concebido durante uma reunião científica da qual participaram vários dos co-autores, na bucólica Suécia, onde se tornou evidente que alguns de nós éramos incapazes de detetar qualquer odor incomum na nossa urina depois de consumir novos espargos da primavera", escreveu a equipa.

Os investigadores procuraram estudos sobre o fenómeno e descobriram dois projetos baseados nos Estados Unidos, nos quais os participantes foram questionados sobre o "chichi de espargos" num questionário de saúde em 2010.

Utilizando esses dados para análise, a equipa classificou os "cheiradores de espargos" como pessoas que "concordaram firmemente" que a sua urina tinha um odor distintivo depois de comerem este legume. O resto dos participantes foi listado como afetados pela anosmia de espargos.

O estudo não apresenta conclusões sobre o que estará na origem do cheiro intenso sentido apenas por algumas pessoas, mas avança a hipótese da ausência de cheiro ser uma característica de evolução genética.