Em 01 de agosto de 2018, pouco dias após decretar o fim de um surto de Ébola no país, o então ministro da Saúde da RDCongo, Oly Ilunga, anunciava a deteção de quatro casos positivos de pacientes infetados com o vírus na província de Kivu Norte (leste) — uma região com forte presença de grupos e conflitos armados.

As autoridades de saúde da RDCongo acreditam que a origem deste surto — a cerca de mil quilómetros a leste do que acabara dez dias antes — esteve na morte e sepultamento irresponsável de uma mulher de 65 anos em 25 de julho, poucos depois de sete familiares próximos terem morrido infetados pelo vírus da febre hemorrágica.

Uma semana depois, o Ministério da Saúde congolês afirmava ter registado 16 casos confirmados, incluindo sete mortes, levando o Governo da RDCongo a iniciar uma campanha de vacinação contra o vírus.

As autoridades de saúde passaram então a administrar a vacina rVSV-ZEBOV, da farmacêutica alemã Merck, da qual dispunham de 3.000 doses.

No dia 20 de agosto, com o número de mortos a alcançar os 55, o Governo congolês decretou a gratuitidade dos cuidados de saúde durante um período de três meses, num esforço para limitar o contágio.

O crescimento do vírus e o perigo de contágio levou os países vizinhos a tomarem medidas. O Presidente da República de Angola, João Lourenço, anunciou então que o país estava a “tomar medidas preventivas” caso o vírus ultrapassasse a fronteira entre os dois países.

No início de setembro, já com o registo de 85 mortes registadas na RDCongo — 54 das quais confirmadas em laboratório — o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) anunciou que a campanha de consciencialização sobre o vírus alcançara cerca de 2,5 milhões de pessoas.

Esta foi, e continua a ser, uma das principais dificuldades enfrentadas pelas autoridades de saúde, que além de estarem presentes numa região que abriga vários grupos armados violentos, enfrentam a resistência da população em receber os tratamentos médicos.

De resto, a violência nas principais regiões afetadas — Kivu do Norte e Ituri — levou mesmo a Organização Mundial de Saúde (OMS) a suspender as suas atividades em Beni (Kivu Norte) no final de setembro de 2018. Da mesma maneira, dois voluntários da Cruz Vermelha foram “gravemente feridos” durante uma agressão num funeral de uma vítima do vírus, no início de outubro.

A meio deste mês, com o número de mortos a chegar aos 135, a OMS reuniu-se pela primeira vez para analisar a situação epidémica e discutir uma possível categorização da epidemia como “emergência global de saúde pública”, algo que viria a rejeitar.

Em novembro, o Governo da RDCongo anunciou que a epidemia de Ébola passara a ser a maior da história do país relativamente ao número de contágios.

“[Este surto] acaba de ultrapassar o da primeira epidemia registada na história [da República Democrática do Congo] em 1976 em Yambuku, na província [noroeste] do Equador”, afirmou então o ministro da Saúde congolês, Oly Ilunga.

Nesse mesmo mês, a OMS previa que a epidemia pudesse durar “pelo menos mais seis meses antes de ser declarada extinta”.

Em 17 de julho de 2019, durante a quarta reunião entre a OMS e o Comité de Emergência desde o início do surto, o diretor-geral da organização, Tedros Adhanom Ghebreyesus, decretou o estado de Emergência Internacional na RDCongo.

A decisão foi tomada depois de se confirmar que a doença já tinha chegado a Goma, a cidade mais povoada, com dois milhões de pessoas, e também a mais estratégica de todas as afetadas até então, localizada a 20 quilómetros da fronteira com o Ruanda, o que aumentava o risco de uma propagação da epidemia.

Poucas semanas antes, uma família deslocara-se do Uganda até à RDCongo, sendo que, no regresso, pelo menos três pessoas morreram infetadas pelo vírus, já em solo ugandês.

Agora, um ano depois de as autoridades de saúde congolesas terem anunciado o início do surto, foram administradas mais de 171.000 doses da vacina rVSV-ZEBOV, com a Merck a ter já anunciado que irá utilizar as suas fábricas na Alemanha e nos Estados Unidos da América para aumentar a sua produção.

A farmacêutica diz ter 245.000 doses de um mililitro, mas que este número poderá aumentar para 900.000 no próximo ano e meio. A dose aplicada na RDCongo é de 0,5 mililitros, o que se traduz num aumento da quantidade de inoculações disponível.

A norte-americana Johnson & Johnson disponibilizou uma outra vacina às autoridades congolesas, mas Oly Ilunga foi perentório a rejeitar a oferta, argumentando que a introdução de outra vacina aumentaria a confusão entre a população.

Em 20 de julho de 2019, o Presidente congolês, Félix Tshisekedi, assumiu a supervisão do combate ao Ébola na RDCongo, levando a que o ministro da Saúde apresentasse a sua demissão do cargo.

A RDCongo (ex-Zaire) foi palco de dez epidemias de Ébola desde 1976, mas esta é a primeira vez que o vírus ataca numa zona de conflito armado, densamente povoada e com grandes movimentos de população.

Segundo o mais recente boletim oficial do Ministério da Saúde da RDCongo, datado de 22 de julho, as autoridades sanitárias congolesas detetaram 2.592 casos, sendo que, destes, 1.743 morreram.

As principais áreas afetadas no Kivu Norte são Katwa (638 mortos), Beni (526 mortos), Mabalako (369 mortos), Butembo (258 mortos), Kalunguta (143 mortos) e Vuhovi (106 mortos), ao passo que dos 257 casos mortais registados em Ituri, a maioria foi na zona de Mandima (197).

Desde o início das atividades de controlo, 140 agentes sanitários foram infetados pelo vírus, tendo morrido 41 desde 01 de agosto de 2018.

Este surto, o segundo mais mortífero na história, é apenas ultrapassado pela epidemia que entre 2014 e 2016 atingiu a África Ocidental e que matou mais de 11.300 pessoas.