“Cerca de 300 dias depois de assinarmos o protocolo negocial e a cerca de 29 do término do prazo, em que o Governo se comprometeu com os sindicatos a um conjunto de negociações, nomeadamente a questão de dedicação plena e a questão da grelha salarial, o senhor ministro mais uma vez não apresentou qualquer proposta concreta em relação a estas matérias”, disse à agência Lusa o secretário-geral do SIM, no final de mais uma reunião no Ministério da Saúde.

Jorge Roque da Cunha adiantou que o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, apresentou “um conjunto de ideias gerais, mas sem documentos, sem capacidade de negociar o detalhe”, o que levou o SIM a manifestar a sua “grande preocupação pelo facto de isso ter acontecido”.

Apesar de considerar positivo a generalização das Unidades de Saúde Familiar (USF) Modelo B, para fixar os médicos no Serviço Nacional de Saúde, o dirigente sindical lamentou “a insensibilidade” e “a falta de capacidade” de propor medidas concretas, nomeadamente uma grelha salarial, e disse que manifestaram uma “seríssima preocupação” ao ministro sobre esta situação.

Nesse sentido, apelou para que nas três reuniões que faltam haja capacidade por parte do Governo de ultrapassar esta matéria, para evitar protestos.

"Da nossa parte total disponibilidade e vontade para não sermos forçados a tomar medidas que possam de alguma maneira fragilizar ainda mais o acesso dos portugueses aos cuidados de saúde, nomeadament com greves, paralisações ou outras formas de protesto, já que é algo que nós claramente não desejamos e apelamos, portanto, ao Governo para que não nos empurre para esse tipo de forma de luta que nós, como demonstramos nos últimos 300 dias, não desejamos”, avisou.

“O Sindicato Independente dos Médicos reafirma ser um sindicato com grande capacidade negocial, cumpre aquilo que assina, não cria qualquer perturbação durante o processo negocial, nomeadamente greves ou agitação ou concentrações, o que quer que seja, porque, além de defendermos os médicos, também defendemos os nossos utentes, e nesse sentido, fazemos um apelo fortíssimo para que o Governo crie as condições para que os médicos se fixem no Serviço Nacional de Saúde”, insistiu.

Roque da Cunha disse não ser por acaso que há 1,6 milhões de portugueses sem médico de família, que existem “listas de espera intermináveis”, que os serviços de urgência continuam abaixo dos limites, lamentando que a forma de o Governo ultrapassar o problema tenha sido a concentração de recursos.

Segundo o dirigente sindical, o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, tem estado em todas as reuniões com o SIM e “tem capacidade de diálogo”, mas, comentou, “ponho em causa a sua capacidade de junto do Governo, junto do senhor primeiro-ministro, junto do senhor Ministro das Finanças, de fazer perceber o sofrimento dos portugueses, particularmente aqueles que têm mais dificuldades de acesso aos cuidados de saúde, nomeadamente consultas, médicos de família, cirurgias e esta insensibilidade revolta”.