Em declarações à agência Lusa, Nelson Pereira avançou que estão identificadas camas gerais, camas de Cuidados Intensivos, Pediatria e Queimados, às quais se soma a “prontidão” dos profissionais de saúde de outras especialidades como Ortopedia, Cirurgia Plástica, Medicina Física de Reabilitação e Oncologia.
“Uma das grandes consequências de qualquer conflito é a interrupção do tratamento de doenças tumorais”, referiu o diretor da Unidade Autónoma de Gestão de Urgência e Medicina Intensiva do Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ).
Segundo Nelson Pereira, “este esforço potencial significativo” já integra o levantamento feito pelo Ministério da Saúde e das estruturas de Proteção Civil nacionais.
“O hospital tem capacidade interna para ser plástico o suficiente sem pôr em causa o atendimento dos nossos doentes que são a nossa primeira prioridade, mas que ponho em pé de igualdade, por solidariedade e empatia, com o povo ucraniano que está em grande sofrimento. Estamos a tentar dar a resposta o mais plástica possível com todas as valências para as necessidades deste contexto”, disse o médico.
Nelson Pereira, especialista que tem vindo a liderar a área de gestão da pandemia covid-19 no CHUSJ, aproveitou para sugerir ao país que parta para uma “coordenação mais centralizada”.
“Não temos uma tradição muito grande nesta área e vimos isso na gestão da pandemia. Somos um país de brandos costumes que tem sido poupado, quer pela natureza, quer pela política, e fomos diminuindo a nossa capacidade de planeamento. Quer a pandemia, quer esta situação fazem-nos perceber que se exige uma estrutura de coordenação e de planeamento e de comando em situação de crise”, referiu.
Com experiência em medicina de catástrofe, Nelson Pereira frisou a necessidade de países como Portugal apoiarem países que fazem fronteira com a Ucrânia, como a Polónia, a Roménia, a Eslováquia e a Hungria, eventualmente através do envio de equipas de Proteção Civil e de Emergência Médica.
“As necessidades estão a ser sentidas nos países limítrofes e a resposta está a ser dada pelos atores locais, organizações não governamentais, Cruz Vermelha local, mas as cadeias de abastecimento [estão] em risco”, acrescentou.
Lembrando que “num país em guerra morrem mais pessoas pela desestruturação do sistema de saúde do que propriamente atingidos por balas ou mísseis”, Nelson Pereira considerou que “se este conflito se arrastar será imperioso criar corredores humanitários para a saída dos feridos”.
“E competirá a todos os países, quer os que fazem fronteira, quer a outros como Portugal, fazer a gestão e triagem e avaliação dessas vítimas, e encaminhamento organizado para os territórios de acolhimento”, concluiu.
A Rússia lançou na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar com três frentes na Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamentos em várias cidades. As autoridades de Kiev contabilizaram, até ao momento, mais de 2.000 civis mortos, incluindo crianças, e, segundo a ONU, os ataques já provocaram mais de 100 mil deslocados e pelo menos 836 mil refugiados na Polónia, Hungria, Moldova e Roménia.
O Presidente russo, Vladimir Putin, justificou a “operação militar especial” na Ucrânia com a necessidade de desmilitarizar o país vizinho, afirmando ser a única maneira de a Rússia se defender e garantindo que a ofensiva durará o tempo necessário.
O ataque foi condenado pela generalidade da comunidade internacional, e a União Europeia e os Estados Unidos, entre outros, responderam com o envio de armas e munições para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas para isolar ainda mais Moscovo.
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