“As mulheres estão a ser obrigadas a recorrer a mecanismos negativos tais como o sexo por sobrevivência, a troca de sexo por comida, a fim de sobreviverem, para poderem alimentar os seus filhos”, disse.
Cristina Palácios falava em Caracas, durante uma conferência de imprensa organizada pela União Europeia (UE) no âmbito de ações para sensibilizar a população para a violência de género, durante a qual a UE anunciou a 4.ª Corrida da União Europeia contra a Violência contra as Mulheres, que terá lugar no sábado.
Segundo a coordenadora da UNFPA, estes mecanismos a que as mulheres venezuelanas recorrem são determinantes para o trabalho da UNPFA: “definem o que temos de fazer, como temos de o fazer, como podemos ajudá-las”.
“O facto de vermos cada vez mais raparigas grávidas é um elemento para conhecer a gravidade, porque as gravidezes precoces são um grande fator e determinam que existe violência sexual contra as mulheres e contra as raparigas em particular”, frisou Palácios.
“Não dispomos de dados oficiais sobre a taxa de femicídios. Sabemos através da monitorização feita por diferentes organizações da sociedade civil que até agora este ano na Venezuela se registaram 200 femicídios. Este número é impactante”, acrescentou Cristina Palácios.
“O femicídio é a máxima expressão da violência de género. Temos de trabalhar para evitar que isso aconteça, na prevenção”, alertou.
Segundo a coordenadora local do UNFPA, “na Venezuela, mulheres e raparigas adolescentes (…) são afetadas por diferentes situações de crise, tanto a crise pandémica [de covid-19], como a crise económica e por várias formas de violência baseada no género”.
“Sabemos existem e estão a emergir cada vez mais, as redes de tráfico para exploração sexual envolvendo mulheres e adolescentes. Sabemos que as mulheres estão a sofrer elevados níveis de violência dos parceiros íntimos (…) A maioria dos perpetradores são pessoas conhecidas [das vítimas], membros familiares diretos”, explicou Cristina Palácios.
Para a UNFPA “os números são úteis para compreender a dinâmica, mas não se conhecerá a magnitude, porque muitos casos de violência baseada no género não são denunciados”.
“Precisamos de trabalhar para que haja uma mudança de comportamento, de atitudes, para mudar as normas culturais que aceitam e naturalizam a violência contra mulheres e raparigas”, frisou.
Palácios disse ainda ter “provas” de que “principalmente as mulheres adolescentes são vítimas da violência machista em todo o mundo”, mas que “particularmente na Venezuela, a situação pode estar a ser exacerbada pela situação de crise no país”.
“Vemos o machismo a reinventar-se a si próprio. Na Venezuela, infelizmente, a situação que a maioria das mulheres e raparigas adolescentes estão a atravessar neste momento está principalmente relacionada com vulnerabilidades económicas”, vincou.
Cristina Palácios acrescentou ainda que “a covid-19 exacerbou ainda mais as vulnerabilidades de sofrer violência baseada no género” e que a pandemia “adicionou outros 20 anos” aos 200 anos que se previa necessários para reduzir a “brecha de género” mesmo nos países que se encontram mais avançados no combate à desigualdade e à violência contra as mulheres.
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