“A situação da Sida em Angola continua preocupante. Apesar dos esforços do governo e da sociedade civil, o número de novas infeções por HIV tem estado a aumentar, com cerca de 28 mil novas infeções por ano, e o número de mortes também tem estado a aumentar com 11 a 12 mil mortes por ano ”, disse António Coelho.
Para o presidente da organização não-governamental (ONG), que falava à margem de uma reunião de alto nível, em Luanda, entre o Governo de Angola e o Fundo Global de Luta Contra a Sida, Tuberculose e Malária, o aumento dos números deve-se essencialmente à escassez de recursos e falta de implementação das ações.
“Temos boas políticas, temos boas estratégias, mas se for ao terreno não há implementação das ações porque não há fundos”, sublinhou o responsável, acrescentando que o Governo “tem grande dificuldade em coloca dinheiro” para responder a doenças como o HIV/Sida.
Considerando necessário que se criem condições para alterar comportamentos e responder melhor ao problema, António Coelho salientou que “é preciso melhorar a vontade política”, melhorando a “liderança política”, que está “comprometida” pelo mau desempenho da Comissão Nacional de Luta Contra a Sida e Grandes Endemias.
Há também “sérios problemas na recolha e tratamento dos dados”, continuou o dirigente da Anaso, referindo que a taxa de prevalência de 2% “vem de há 10 anos” o que significa que existem entre 350 mil a 500 mil pessoas a viver com HIV no país, das quais só 78 mil estão a fazer tratamento.
Angola está também entre os países como mais alta taxa de transmissão vertical do HIV (de mãe para filho), na ordem dos 28%.
O responsável da Anaso indicou que é também necessário ultrapassar as limitações financeiras: “Continuamos como há alguns anos atrás de mãos estendidas e a olhar para organizações internacionais, temos de inverter a situação e, sobretudo, melhorar a contribuição do governo angolano no âmbito da luta conta Sida”.
Nesse âmbito, adiantou estar “a olhar para contribuições como a do Fundo Global que está em Angola desde 2004, com um apoio acumulado superior a 350 milhões de dólares [318 milhões de euros], que infelizmente tem diminuído nos últimos anos”, que no ano passado se situou em 58 milhões de dólares (53 milhões de euros).
O Fundo Global é um dos principais parceiros do Governo no combate às grandes endemias como o HIV/Sida, Malária e Tuberculose e deverá assinar um novo acordo quadro com Angola neste âmbito na quarta-feira, mas António Coelho receia que existam alguns obstáculos.
“Temos o problema de o país não poder participar nesta nova subvenção se alguns problemas que estão a criar ruído não forem ultrapassados”, declarou.
António Coelho sublinhou “a necessidade de Angola demonstrar a contrapartida do Governo angolano na luta contra as três doenças”, já que o Fundo entende que, nos últimos anos, não teve evidências claras da contrapartida angolana, o que pode “comprometer a continuidade”.
Para expressar a importância deste apoio, o presidente da Anaso disse que hoje a nível de medicamentos sobrevive-se “graças ao Fundo Global”.
“Estamos em crer que haja apenas um ruído na comunicação, não me parece que o Governo angolano não esteja a cumprir a sua parte, mas é preciso que haja evidências”, de que a contribuição financeira angolana está a ser aplicada, notou.
O presidente do conselho do Fundo Global, Donald Kaberuka, esteve hoje em Luanda no encontro de alto nível em que participaram também as ministras angolanas da Saúde, Sílvia Lutucuta, e de Estado para a Área Social, Carolina Cerqueira.
O encontro inclui sessões de trabalho sobre a situação do HIV/Sida, Malária e Tuberculose e perspetivas para melhorar a gestão das subvenções do Fundo Global em Angola, bem como uma visita ao hospital sanatório.
Na terça-feira o encontro prossegue na província do Huambo para constatar o grau de implementação das subvenções do Fundo Global, prevendo-se na quarta-feira a assinatura do novo acordo-quadro.
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