Numa sessão pública na segunda-feira, a médica Rosamund Lewis, da Organização Mundial da Saúde (OMS), disse que foi fundamental enfatizar que a grande maioria dos casos registados em dezenas de países em todo o mundo foram detetados em homens que têm sexo com homens, para que os cientistas possam estudar mais esta questão.
A especialista exortou aqueles que estão em maior risco que devem ser cuidadosos. "É muito importante descrever isto, porque parece haver um
aumento num modo de transmissão que pode ter sido pouco reconhecido no passado'', disse Lewis. "No momento, não tememos uma pandemia global", acrescentou.
"Estamos preocupados que os indivíduos possam adquirir este infeção através da exposição de alto risco se não tiverem informações que precisam para se proteger", disse ainda.
A especialista alertou que qualquer pessoa está em risco potencial para a doença, independentemente da sua orientação sexual. Outros especialistas apontaram que pode ser acidental que a doença tenha sido apanhada pela primeira vez em homens gays e bissexuais, afirmando que a doença pode rapidamente espalhar-se para outros grupos se não for restringida.
Na semana passada, a OMS anunciou que 23 países que nunca tiveram casos de vírus Monkeypox relataram mais de 250 episódios de doença. Na segunda-feira, o Reino Unido anunciou mais 71 casos deste vírus. Em Portugal, há atualmente 96 casos registados.
Através do sexo ou do contacto íntimo?
Rosamund Lewis admitiu que ainda não se sabe se o vírus que causa varíola nos macacos está a ser transmitido através do sexo ou apenas através do contacto próximo entre pessoas envolvidas em relações sexuais. A especialista referiu ainda que o nível de ameaça para a população em geral é "baixo".
O vírus Monkeypox espalha-se quando há contacto físico próximo com uma pessoa infetada, ou através das suas roupas ou lençóis.
A especialista também alertou que, entre os casos atuais, há uma maior proporção de pessoas com lesões mais concentradas na região genital e às vezes quase impossíveis de ver.
"Pode ter-se essas lesões por duas a quatro semanas (e) elas podem não ser visíveis para os outros, mas o portador pode ser infecioso", explicou.
Na semana passada, um alto conselheiro da OMS disse que o surto associado ao vírus Monkeypox na Europa, EUA, Israel, Austrália, e outros países, provavelmente estavam relacionados com festas de sexo recentes em Espanha e Bélgica. Tal marca um significativo desvio do padrão típico de disseminação desta doença que é endémica nas regiões da África Ocidental e Central, onde as pessoas são principalmente infetadas por animais selvagens como roedores e primatas.
Os cientistas também ainda não determinaram se o surto associado ao vírus da varíola dos macacos nos países ricos pode alastrar-se a África.
Na segunda-feira, as autoridades da República Democrática do Congo disseram que pelo menos nove pessoas morreram com o vírus em 2022. Aime Alongo, chefe da saúde na província de Sankuru, também disse que foram detetados 465 casos confirmados, tornando-se uma das nações mais atingidas na África Ocidental e Central.
As autoridades nigerianas confirmaram a sua primeira morte associado ao vírus Monkeypox este ano.
A maioria dos doentes infetados com o vírus Monkeypox sente apenas febre, dores no corpo, calafrios e fadiga. Pessoas com doença mais grave podem desenvolver uma erupção cutânea e lesões na face e mãos, que se podem espalhar para outras partes do corpo.
Nenhuma morte foi relatada no surto atual fora de África.
Doença pode espalhar-se através do ar?
Rosamund Lewis também afirmou que os casos anteriores de vírus Monkeypox em África foram relativamente contidos, não tendo ficado claro
se as pessoas espalharam o vírus não tendo sintomas ou se o vírus pode sobreviver no ar, como os agentes causadores do sarampo ou da COVID-19.
Depois de a varíola ser declarada erradicada em 1980, os países suspenderam as suas campanhas de imunização em massa, um movimento que alguns especialistas acreditam que pode ter ajudado a varíola a espalhar-se agora, já que há pouca imunidade para a mesma.
Lewis disse que ainda não se sabe o nível de imunidade que as pessoas que foram previamente vacinadas contra a varíola ainda podem ter, uma vez que
o processo de vacinação foi há pelo menos quatro décadas.
Para a especialista, a prioridade da OMS é parar a propagação atual do vírus Monkeypox antes que a doença atinja novas regiões.
"Se todos reagirmos rapidamente e todos trabalharmos juntos, seremos capazes de parar isso", referiu. "Nós seremos capazes de pará-lo antes de
atingir as pessoas mais vulneráveis e antes de se estabelecer como um substituto da varíola" comum, frisou.
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