Quando se trata de peso, todos nós sabemos precisamente qual é o nosso ideal. Todos temos, pelo menos uma ideia sobre o número que gostaríamos de ver a balança marcar. Muitas vezes, é o peso que já tivemos um dia e que nos permitia vestir aquelas calças de que tanto gostamos. Mas, será que essa meta é realista e saudável? A resposta não é simples e nem mesmo os especialistas estão de acordo.
Cada um olha para os seus pacientes de maneira diferente e, muitas vezes, a balança não tem muito peso nessa avaliação. Cinco especialistas das áreas da cardiologia, da nutrição, da endocrinologia, da ginecologia e da fisiologia do controlo de peso partilham consigo, neste artigo, as ferramentas que utilizam para avaliar a silhueta dos seus pacientes, dando ainda dicas úteis para alcançar o equilíbrio ideal.
1. O peso certo segundo um cardiologista
O índice de massa corporal, também conhecido como IMC, é, segundo Manuel Carrageta, "a medição mais utilizada para fazer o diagnóstico de obesidade" mas, para avaliar a presença de obesidade e o risco cardiovascular, o especialista recorre habitualmente à medição do perímetro da cintura. "O perímetro da cintura avalia a presença de obesidade e o risco cardiovascular", refere ainda o cardiologista.
"A gordura localizada nas vísceras abdominais é a mais prejudicial à saúde. Como é metabolicamente activa produz substâncias químicas, citocinas, agressivas para o aparelho circulatório e para o pâncreas", explica o médico português. "Um perímetro abdominal no homem igual ou superior a 102 centímetros e a 88 centímetros na mulher implica um risco cardiovascular e de diabetes muito elevado", refere ainda.
No que se refere a uma estratégia para alcançar o peso ideal, segundo o especialista, as medidas chave para alcançar a silhueta ideal são duas, uma alimentação saudável e o aumento da actividade física. "Opte por alimentos com uma densidade energética baixa [e ricos em nutrientes], como os vegetais, a fruta, a carne magra, o peixe, os cereais integrais e as leguminosas", aconselha Manuel Carrageta.
"Evite os alimentos com elevada densidade energética, como as gorduras, em particular as animais [a carne vermelha, a manteiga e os fritos], e os açúcares [como os bolos e os refrigerantes açucarados, além dos doces produzidos industrialmente], pobres em nutrientes", diz. Quanto à atividade física, recomenda, "pelo menos, meia hora por dia de exercícios aeróbicos como andar a pé, de bicicleta ou nadar".
2. O peso ideal segundo um endocrinologista
Duarte Pignatelli, endocrinologista, não tem dúvidas. "O peso ideal depende da altura, da idade e do sexo", refere, sem hesitar um segundo. O critério que melhor avalia uma silhueta saudável é, segundo o especialista, o IMC, "porque traduz uma relação entre o peso e a altura". "No entanto, o peso ideal para uma determinada estatura depende igualmente do sexo e da idade", afirma ainda o médico.
Para este especialista, o peso ideal "é o produto de uma análise estatística que entra em linha de conta com a mortalidade que foi determinada para os diversos pesos mas, depois, há um desvio aceitável em que o acréscimo de risco não é significativo", acrescenta ainda. "Para um médico sensato, o peso ideal não é estar exatamente na média mas, sim, dentro desses limites toleráveis", sublinha ainda.
Em termos de estratégias para alcançar o peso ideal, também deixa recomendações. Se está fora dos parâmetros toleráveis, o especialista aconselha, "consulte um médico para avaliar o seu estado concreto de saúde e definir os benefícios que podem advir da perda de peso", sugere. "O médico avaliará com o doente a alimentação mais adequada, tendo em conta o seu estilo de vida e até os seus gostos pessoais", diz.
Duarte Pignatelli refere que "deve igualmente definir o exercício físico mais indicado, uma vez que esta é quase a única forma de corrigir as gorduras localizadas". "Todo o tratamento de emagrecimento deve incluir ainda acompanhamento psicológico", adverte ainda o especialista. "No tratamento das grandes obesidades, a cirurgia estética é uma arma muito importante", garante ainda o médico.
3. O peso ideal segundo uma nutricionista
Nas consultas de terapia nutricional, Alva Seixas Martins avalia o peso dos seus pacientes através do IMC e faz a avaliação do perímetro abdominal, contudo, para a especialista, isso não é o mais importante. "O peso é um dado, não um objetivo. Eu uso estas medições como dados e não como objetivos em si. Foco-me muito mais nos comportamentos alimentares da pessoa e tento trabalhar a sua autoimagem e autoestima", diz.
"O resto vem por arrasto", assegura a médica. Quanto aos valores de referência para uma mulher de 30 anos, com 1,65 metros, o ideal é que "o IMC ronde os 23 quilos por metro quadrado e que o perímetro da cintura seja de 80 centímetros na mulher e de 90 centímetros no homem", conclui.
Em termos de estratégias para alcançar o peso ideal, é perentória. Depois de definir um plano alimentar, que é negociado com o paciente, a especialista diz atuar como uma espécie de coaching.
Como uma treinadora dos hábitos alimentares, de forma a evitar erros. "Muitas pessoas, conseguem fazer as alterações propostas enquanto não houver uma falha. Ao primeiro percalço, pensam que está tudo estragado e acabam mesmo por não permitir as alterações necessárias à perda de peso", afirma a nutricionista, que aposta num trabalho de parceria com o doente. "Tento arranjar soluções com as pessoas para quebrar esse ciclo", diz.
4. O peso ideal segundo uma fisiologista do controlo de peso
Nas suas consultas, Teresa Branco, diretora do Instituto Prof. Teresa Branco, começa por avaliar potenciais fatores de risco, como a hipertensão, o colesterol e os trigliceridos elevados. "Depois de nos assegurarmos que em termos de saúde tudo está bem, o importante é caminhar para o equilíbrio pessoal", defende. "O peso saudável é aquele com que nos sentimos bem", considera a fisiologista do exercício.
"Existem pessoas sem excesso de peso mas que têm três quilos que as perturbam imenso e outras que são verdadeiramente felizes com alguns quilos a mais", refere. Uma mulher de 30 anos, com 1,65 centímetros de altura "deverá ter uma percentagem de massa gorda não superior a 35", recomenda. "O IMC não deverá ser superior a 25", adverte. No que se refere à melhor estratégia para alcançar o peso ideal, não tem dúvidas.
"A motivação é a palavra-chave do sucesso de um programa de perda de peso", garante. "Acima de tudo, é importante mostrar a esta pessoa o que ela vai ganhar com a perda de peso. Sabendo isto, à partida, a motivação para o processo é muito maior", assegura a médica. "Uma parte de conseguir essa motivação implica encontrar uma atividade física que lhe dê prazer realizar", afirma ainda a fisiologista da gestão do peso.
5. O peso ideal segundo uma ginecologista
Fátima Palma utiliza o IMC na avaliação da composição corporal. "É a medida de referência. Não faz parte do âmbito da consulta de ginecologia recomendar a perda ou o aumento de peso, a não ser nalgumas circunstâncias especificas como infertilidade relacionada com síndrome de ovário poliquístico que, muitas vezes, cursa com obesidade e em que a perda de peso pode levar a um incremento da fertilidade", diz.
Em relação ao peso na gravidez, na consulta préconcepcional, a ginecologista/obstetra promove o estilo de vida saudável e aconselha as mulheres com excesso de peso a emagrecer, não só para melhorar a sua fertilidade, como o próprio prognóstico da gravidez. "A obesidade está relacionada com um aumento da diabetes gestacional, hipertensão na gravidez e parto traumático", acrescenta a especialista.
Quanto ao aumento de peso ao longo dos nove meses, um processo que não é uniforme e que tende habitualmente a variar de grávida para grávida e até de gravidez para gravidez, Fátima Palma refere que, "em termos gerais, nas mulheres com um IMC entre 20 e 24, deve haver um aumento de cerca de 30% do peso, mas cada caso é um caso", sublinha, todavia a médica, habituada a lidar com o problema.
Texto: Vanda Oliveira com Manuel Carrageta (cardiologista), Duarte Pignatelli (endocrinologista), Alva Seixas Martins (nutricionista), Teresa Branco (fisiologista do exercício) e Fátima Palma (ginecologista).
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