Independentemente de estarmos a falar de milímetros de mercúrio, de miligramas por decilitro, de quilos, de centímetros ou de percentagens, uma coisa é certa. A nossa saúde pode ser permanentemente avaliada em números e em parâmetros. São eles que definem se está dentro dos limites, se tem andado a cometer excessos ou se precisa urgentemente de mudar de estilo de vida. Mas os números não são fáceis de interpretar. Mesmo os especialistas nem sempre chegam a acordo na definição do que é considerado normal.

Manuel Carrageta, cardiologista, reconhece-o no livro "Como ter um coração saudável", editado pela Âncora Editora. "Recentemente, a American Heart Foundation e outras instituições norte-americanas recomendaram valores de colesterol LDL inferiores aos propostos pelas sociedades europeias", refere. Para não se perder nas contas, ajudamo-lo a interpretar os números da sua saúde e a saber o que fazer para ter um resultado excelente em todos os exames. Estes são os valores certos para ter uma saúde de ferro.

Tensão arterial: <120/80 mmHg

Representa a pressão provocada pela circulação do sangue nas artérias sanguíneas, em consequência da ação de bombeamento que o coracão efetua a cada pulsação cardíaca. A tensão máxima atingida é a chamada tensão sistólica e a mínima a diastólica. Para a medir, deve estar sentado, com o braço à altura do coração. Idealmente, é medida após cinco minutos de repouso. A tensão arterial mede-se insuflando a braçadeira do esfigmomanómetro, o aparelho de medição deste valor, que é colocado à volta do braço.

O seu cérebro é prodigioso mas um AVC pode comprometer as suas competências para sempre
O seu cérebro é prodigioso mas um AVC pode comprometer as suas competências para sempre
Ver artigo

Esta medição "é a única forma de detetar os casos de hipertensão nos primeiros anos, altura em que geralmente não existem quaisquer sinais de doença", esclarece o médico. "Esta patologia pode ser responsável por um acidente vascular cerebral [AVC] ou por um enfarte do miocárdio", avisa o cardiologista Manuel Carrageta, presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia. Os níveis tensionais não devem ser superiores a 120/80 mmHg. "Quando a tensão arterial é repetidamente igual ou superior a 140 mmHg para a sistólica e/ou 90 mmHg para a diastólica, o indivíduo é considerado hipertenso", adverte ainda o especialista.

"Valores entre 120/80 e 139/89 mmHg são considerados de pré-hipertensão, uma condição que também tem riscos para a saúde", alerta o cardiologista. Deve, por isso, adotar um estilo de vida saudável, que garanta uma descida da pressão arterial. "Isso pode ser suficiente para baixá-la para valores normais", afirma o médico. "Ter de diminui-la implica reduzir o consumo de álcool e de sal, diminuir o excesso de peso, fazer exercício físico regularmente e eliminar o tabaco", refere ainda Manuel Carrageta.

Índice de Massa Corporal: Entre 19 e 25

O índice de massa corporal (IMC) é um sistema de classificação do peso corporal de uma pessoa em relação à sua altura, sendo a principal medida de diagnóstico de obesidade. Calcula-se dividindo o peso corporal (em quilos) pela altura (em metros) elevada ao quadrado. "Um IMC entre 19 e 25 é considerado normal. Se este índice for superior a 25 estamos perante um excesso de peso. Acima de 30 considera-se obesidade. Valores superiores a 40 são classificados de obesidade mórbida", esclarece ainda o especialista.

"Valores acima de 30 devem ser considerados uma emergência para a saúde", avisa. "Para emagrecer, para além de uma alimentação saudável, pobre em calorias, é necessário aumentar a atividade física, fazer pelo menos meia hora por dia. Alguns fármacos podem ajudar a perder peso, mas só devem ser usados, após um programa de dieta e exercício de pelo menos seis meses, se o IMC se mantiver igual ou superior a 30. Quando o IMC é igual ou superior a 40 aconselha-se o recurso à cirurgia", explica.

Glicemia: ≤99 mg/dl

É também fundamental aferir o nível de glicose (açúcar) presente no sangue. É o principal indicador de diabetes, uma doença em que o organismo é incapaz de produzir insulina ou produz esta hormona em quantidade insuficiente. "Este problema pode levar a um excesso de acúçar no sangue [hiperglicemia], que é tóxico, aumentando assim o risco de doença cardiovascular, de cegueira, de insuficiência renal e de gangrena dos membros inferiores", explica o presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia.

A glicemia, como também esclarece o site informativo Diabetes 365º, é medida através de colheita de sangue, após um jejum de pelo menos oito horas, razão pela qual é realizada de manhã. Se a glicemia for inferior a 100 mg/dl é considerada normal. Quando é superior a 126 mg/dl em pelo menos duas ocasiões o diagnóstico de diabetes é estabelecido. Entre 100 e 125 mg/dl indica a presença de pré-diabetes, que é "uma mensagem clara de que o doente está a caminho de se tornar diabético", esclarece.

O que é que deve fazer, então, para melhorar os seus valores? A resposta é simples. "Uma pequena redução do peso, cerca de 5%, combinada com marcha diária de 20 minutos pode impedir ou atrasar a progressão de pré-diabetes para diabetes", refere Manuel Carrageta. Faça uma dieta quotidiana que inclua as proteínas saudáveis do frango e do peixe, os hidratos de carbono complexos dos vegetais e dos cereais integrais e a fibra vegetal das leguminosas. Evite a ingestão de açúcar e de gorduras saturadas e trans.

Massa gorda: 20% a 25% nas mulheres e 10% a 18% nos homens

É a percentagem de tecido adiposo existente no corpo face à massa corporal total. O excesso de gordura corporal está associado à hipertensão arterial, à diabetes tipo 2, à doença das artérias coronárias e a acidentes cardiovasculares. Como se mede? A técnica mais rudimentar utiliza um adipómetro, um instrumento semelhante a uma pinça, para medir a espessura das pregas adiposas no corpo. Também existem aparelhos que medem a bioimpedância, a resistência que o corpo oferece à passagem de uma corrente elétrica.

Esse valor varia consoante a quantidade de gordura. Algumas balanças de uso doméstico já fazem esta leitura, mas, para uma correta avaliação é fundamental estar em jejum e repousada antes da medição. Quanto a valores, considera-se ideal uma percentagem de massa gorda entre 20% a 25% nas mulheres e de 10% a 18% nos homens. Valores superiores a 35% nas mulheres e a 25% nos homens são considerados perigosos. No entanto, como refere Teresa Branco, fisiologista da gestão do peso, existem exceções.

"Há uma teoria que defende que o peso e a massa gorda de que o nosso organismo necessita para funcionar bem é o que temos quando fazemos uma alimentação saudável e realizamos exercício, pelo menos, cinco dias na semana", defende a especialista. Para melhorar os seus valores, "combine uma alimentação saudável com três sessões semanais de exercício aeróbio, durante 60 minutos e com uma intensidade que permita suar a roupa que tem vestida e mais duas de exercício com cargas [pesos]", recomenda.

Perímetro abdominal: <80 nas mulheres e a <95 nos homens

A medição do perímetro da cintura permite verificar se há gordura abdominal em excesso para avaliar a presença de obesidade e o risco cardiovascular, como explica Manuel Carrageta. "A gordura localizada no abdómen e nas vísceras abdominais é a mais prejudicial à saúde. Produz substâncias químicas agressivas para o aparelho circulatório e para o pâncreas, com efeitos na saúde que incluem hipertensão arterial, colesterol elevado, diabetes, doença cardiovascular e/ou problemas osteo-articulares", esclarece.

Para medir o seu perímetro abdominal, coloque uma fita métrica à volta do abdómen, na parte superior do osso da anca. Certifique-se de que a fita está paralela ao solo e justa ao corpo, sem comprimir a pele, e tire a medida. Numa pessoa saudável, a circunferência da cintura é inferior a 80 cms nas mulheres e a 95 cms nos homens. "Um perímetro abdominal, no homem igual ou superior a 102 e superior a 88 centímetros na mulher, implica um risco cardiovascular muito elevado e de diabetes", adverte o cardiologista.

Texto: Vanda Oliveira com Manuel Carrageta (cardiologista e presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia) e Teresa Branco (fisiologista de controlo e da gestão de peso)