Em primeiro lugar, as patologias tipicamente inflamatórias são resultantes de movimentos de repetição. Numa altura em que há uma grande percentagem de pessoas que estão em teletrabalho, é necessário relembrar algumas posturas que podemos adotar para prevenir doenças nas mãos e punho. Algumas dessas medidas passam pelo uso de teclados e ratos verticais ergonómicos ou pela alteração do método de escrita. O cotovelo deve estar sempre bem apoiado e se possível mais em extensão que em flexão. Da mesma forma que uma auxiliar de creche deve corrigir a posição do punho ao pegar numa criança, o operário fabril deve ter intervalos de pausa durante o trabalho exercido.
Estas boas práticas devem ser regulamentadas pela entidade empregadora e monitorizadas pela medicina do trabalho que visa prevenir as doenças do trabalho através da protecção e também promoção da saúde. Os postos de trabalho devem estar adaptados e compatíveis com as aptidões psicológicas e físicas do trabalhador.
Neste grupo inserem-se, por exemplo, as tendinopatias (tendinites) da mão e punho e o famoso síndroma do túnel carpico. São lesões insidiosas, de progressão lenta mas com tratamento eficaz (conservador e/ou cirúrgico).
O segundo grande grupo de patologias ocorre no contexto traumático. Os acidentes de trabalho têm particularidades próprias de atuação e baseiam-se num enquadramento global próprio (Lei 100/97 de 13 de Setembro; DL 352/2007 de 23 de Outubro) e num conjunto de regras específicas que devem ser respeitadas. Neste contexto, é importante referir que também englobam a ida para o trabalho e o regresso a casa. As lesões traumáticas incluem fraturas, luxações, roturas tendinosas agudas ou feridas por exemplo.
Durante a atividade laboral, o cumprimento das regras de segurança é fundamental na prevenção de lesões. Cada máquina ou instrumento de trabalho tem as suas próprias instruções de utilização e a protecção das mãos é obrigatória para evitar acidentes. A promoção da segurança e boas práticas nos locais de trabalho fazem com que, por exemplo, um operário de uma fábrica ou um talhante tenham em atenção fatores como a utilização de equipamento especializado (luva/malha) para que o seu trabalho seja realizado em segurança.
Acredito que a medicina do trabalho também tem um papel de consciencialização deste tema porque várias patologias são passíveis de tratamento e algumas evitáveis, sendo suficiente adotar algumas medidas de prevenção. Nunca é demais lembrar que a minimização de movimentos repetitivos, a optimização dos postos e locais de trabalho e a aposta na segurança no trabalho fazem parte da estratégia de prevenção deste grupo de patologias (traumáticas e não traumáticas).
Um artigo do médico Miguel Botton, especialista em Ortopedia na Unidade de Mão e Punho do Hospital CUF Descobertas.
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