As doenças cardiovasculares continuam a ser a principal causa de morte em Portugal e na globalidade dos países ocidentais. Estas doenças afetam o coração e os vasos sanguíneos em diferentes órgãos, sendo o enfarte agudo do miocárdio (no coração) e o acidente vascular cerebral (no cérebro) as principais afeções responsáveis pela elevada mortalidade.
O mecanismo comum subjacente a estas duas situações clínicas é a deposição de gordura associada a inflamação na parede das artérias levando à sua obstrução, a denominada aterosclerose.
O enfarte agudo do miocárdio caracteriza-se pela rotura súbita de uma placa de aterosclerose, com consequente formação de um coágulo sanguíneo à sua superfície, resultando na obstrução completa de uma das artérias coronárias, os vasos sanguíneos responsáveis pela irrigação do músculo cardíaco (miocárdio). Trata-se de uma situação clínica emergente e ameaçadora à vida em que cada minuto conta. Quanto mais precoce for instituído o tratamento (desobstrução da artéria coronária), menos músculo cardíaco se vai perder e menor será o risco de sequelas do enfarte.
Após um enfarte agudo do miocárdio, torna-se fundamental compreender e modificar os fatores de risco associados à aterosclerose. Na verdade, a maioria destes fatores, como a hipertensão arterial, a diabetes, o colesterol elevado, o tabagismo, a obesidade e o sedentarismo, resultam de um estilo de vida pouco saudável ao longo dos anos e décadas que precederam o evento agudo.
Medidas de prevenção
A introdução de medidas de prevenção secundária, isto é, para evitar um novo enfarte, inicia-se logo durante o internamento hospitalar e deve manter-se durante toda a vida do paciente. Neste âmbito, inclui-se a necessidade imperiosa de deixar de fumar (note-se que os pacientes que o fazem têm uma mortalidade 36% inferior àqueles que continuam a fumar após o enfarte), a adoção de uma dieta saudável (as recomendações internacionais de prevenção cardiovascular aconselham uma dieta mediterrânica ou similar), a redução de peso em doentes com índice de massa corporal superior a 25 Kg/m2, a realização de exercício físico segundo um programa de reabilitação cardíaca adaptado à idade e condição física do paciente, a vigilância e controlo dos valores de pressão arterial (idealmente ≤130/80 mmHg), o retorno à atividade sexual e laboral de acordo com as indicações médicas e a adesão à terapêutica farmacológica proposta.
É crucial cumprir escrupulosamente a medicação de acordo com as indicações médicas e, em caso de ser sugerida a sua suspensão transitória (por exemplo, para a realização de um exame médico), deverá ser consultado primeiro o cardiologista do doente.
Sintomas a estar atento
No caso de recorrência de sintomas que sugiram um novo enfarte do miocárdio, é importante reconhecê-los e atuar precocemente: o mais típico é uma dor no peito, por vezes com extensão para o braço esquerdo, costas ou pescoço e ocasionalmente acompanhada por suores, náuseas, vómitos, falta de ar ou agitação. Quando estes sintomas surgem é importante contactar imediatamente o 112, pois é através do socorro pré-hospitalar que se assegura a orientação mais segura, rápida e eficaz dos utentes para um hospital adequado.
Finalmente, os pacientes com história de enfarte do miocárdio também poderão desempenhar um papel relevante na esfera familiar mais alargada e na própria comunidade, servindo de testemunho para alertar para a importância da modificação dos fatores de risco e forma de agir perante uma sintomatologia sugestiva de enfarte.
As explicações são do médico Carlos Galvão Braga, cardiologista de intervenção, membro da Comissão Científica da Campanha Cada Segundo Conta.
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