Com o aumento da esperança de vida surgem novos problemas associados à terceira idade.
A evolução da ciência e a melhoria das condições sociais e económicas traduziram-se num aumento da esperança de vida e em novos desafios no que toca aos cuidados de saúde.
Além das doenças que nos idosos possuem características particulares (hipertensão arterial, insuficiência cardíaca, infecções, obstipação, osteoporose ou disfunção sexual) existem outras doenças geriátricas que pela sua prevalência merecem uma atenção especial quanto aos sintomas, diagnóstico e estratégias de prevenção.
Síndromes geriátricas
Miguel Julião, médico da Unidade de Cuidados Continuados e Paliativos do Hospital da Luz, destaca as seguintes síndromes geriátricas, pela sua ocorrência frequente, apontando a melhor forma de as prevenir:
IATROGENIA
O nome pode parecer estranho, mas significa o uso de medicação em excesso. Um estudo norte-americano revelou que os idosos com mais de 65 anos adquirem, em média, 20,6 fármacos para tratar as mais diversas doenças crónicas. «Com a polimedicação aumenta a probabilidade de reacções adversas», explica Miguel Julião.
«Os sinais e sintomas mais comuns são as alterações comportamentais, quedas, alterações de memória, ansiedade ou lesões cutâneas». Os efeitos iatrogénicos podem surgir por várias razões: erro de diagnóstico, diminuição da capacidade intelectual do idoso que pode conduzir a erros na toma de medicamentos ou deficiente formação dos profissionais de saúde.
Como prevenir?
Procure informar o seu médico dos medicamentos que está a tomar. Um fármaco pode anular o efeito de outro.
Tenha o cuidado de escrever quais as horas a que deve tomar determinado medicamento e durante quanto tempo. Assim não corre o risco de se esquecer. E tenha cuidado com a auto-medicação. O fármaco que fez bem a um familiar, por exemplo, pode não ser o mais indicado para si. Fale com o seu médico.
DEPRESSÃO
É um dos distúrbios psiquiátricos mais comuns nos idosos e está frequentemente associada à tristeza. A morte de um familiar próximo, uma mudança de residência ou um internamento podem estar na origem de uma depressão.
«Esta doença não só interfere na qualidade de vida do doente, como conduz ao aumento do risco de mortalidade», refere Miguel Julião. Os sinais e sintomas podem ser difíceis de identificar, mas estão normalmente associados à tristeza.
O desejo expresso de morte, inactividade, negativismo, frustração, insónias, obstipação ou diminuição da libido também são sinais a considerar.
Como prevenir?
Procure um curso relacionado com alguma área do seu interesse, como pintura, artes decorativas ou jardinagem. Desta forma irá ocupar parte do dia com algo de que gosta.
Peça aulas de informática aos netos e aprenda a navegar na Internet. Converse com algum familiar próximo ou mesmo com o médico de família sobre os problemas que mais a incomodam.
SÍNDROME DEMENCIAL
É um distúrbio caracterizado pela deterioração da função cognitiva que afecta a memória e áreas como linguagem, pensamento, movimentos coordenados, reconhecimento e percepção, organização e realização de tarefas.
Se na demência primária a alteração ocorre no cérebro, sendo a mais frequente a doença de Alzheimer, a secundária pode ter diversas causas, nomeadamente alterações metabólicas, infecções, traumatismos cranianos ou até sequelas de eventos cerebrovasculares.
Como prevenir?
Beba café. Vários estudos comprovaram os efeitos benéficos da cafeína na prevenção de doenças como a demência de Alzheimer. Fique também especialmente atento a sinais como perda de memória, sentido de orientação, dificuldades na linguagem ou nas tarefas normais do dia-a-dia.
DELIRIUM
Pode ser definido como uma alteração de início súbito, de características oscilantes e duração limitada, que se caracteriza por uma mudança da consciência e não do conteúdo do pensamento.
«A alteração do nível de consciência pode variar desde a agitação psico-motora a perturbações da memória e desorientação. Nos idosos é mais frequente à noite», explica Miguel Julião. Uma das causas mais frequente é a infecção (urinária ou respiratória).
Como prevenir?
Esteja atento a possíveis causas da doença como variações de comportamento, perturbações cardiovasculares ou respiratórias, até efeitos adversos dos medicamentos.
INSTABILIDADE E QUEDAS
Frequentes nos idosos, as quedas podem ter consequências graves. Estas aumentam com a idade e são a principal causa de incapacidade, pelo que, na opinião de Miguel Julião, «devem ser consideradas uma síndrome geriátrica de extrema relevância pelas consequências a curto e a longo prazo».
Entre as causas intrínsecas destacam-se a deterioração da visão ou do aparelho locomotor (múltiplas artroses, atrofia e rigidez muscular) até doenças crónicas incapacitantes.
Já os factores ambientais (deficiente iluminação, solo deslizante e polido, tapetes soltos, escadas sem corrimão, banheiras não adaptadas e falta de apoios sanitários) estão no grupo dos factores extrínsecos.
Como prevenir?
Tenha o cuidado de aplicar antiderrapantes em todos os tapetes. Um truque simples mas eficaz, pois impede que deslizem.
Uma má iluminação pode dar origem a quedas. Procure ter candeeiros nos corredores ou nas divisões pouco iluminados. Os utensílios de uso diário devem também ser colocados em prateleiras de fácil acesso e não em móveis altos.
IMOBILIDADE
Nos idosos define-se como a perda progressiva da capacidade de desempenhar as actividades diárias por deterioração neurológica e motora (causada por quedas, por exemplo).
«A capacidade de mobilização é um indicador do nível de saúde e da qualidade de vida, determinando o grau de dependência. O doente imobilizado é considerado um indivíduo de alto risco para complicações médicas graves», alerta o especialista.
Como prevenir?
Já existem programas de reabilitação física específicos, realizados por especialistas, para prevenir possíveis situações de imobilidade. Adira a um. Informe-se junto do seu médico.
INCONTINÊNCIA URINÁRIA
Apesar de ser uma situação anómala em qualquer idade, as perdas involuntárias de urina aumentam de gravidade com o passar dos anos, situação extremamente incomoda e que afecta muitas pessoas, causando transtornos evidentes.
«De uma forma geral, esta patologia não é motivo de consulta já que acarreta um estigma negativo por diversas razões, nomeadamente a aceitação do problema como normal, o pudor, o medo ou informação deficiente», aponta Miguel Julião.
Os antecedentes pessoais devem ter um peso importante no estudo das causas da incontinência urinária, como cirurgias do foro uro-ginecológico, doenças neurológicas (Alzheimer ou Parkinson) ou eventos cerebrovasculares.
Como prevenir?
Com a idade é normal que sinta necessidade de se levantar duas ou três vezes por noite. Ter um urinol ao lado da cama pode ser uma solução. Também não beba muitos líquidos à noite. Só aumentam a vontade de urinar. O uso de absorventes especiais para idosos pode ser uma solução.
Texto: Sónia Ramalho
Revisão científica: Dr. Miguel Julião (médico da Unidade de Cuidados Continuados e Paliativos do Hospital da Luz, em Lisboa)
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