O que é o cancro gástrico e qual a prevalência?

O cancro gástrico é o quinto mais comum no mundo, sendo a terceira causa de morte por cancro. É mais frequente nos países asiáticos, e Portugal é o país da União Europeia com maior número de mortes por cancro gástrico e o sexto a nível mundial, de acordo com os dados do GLOBOCAN. Em termos regionais, o tumor é mais frequente no norte do país.

O cancro gástrico tem a sua origem na formação de células malignas no estômago e o tipo mais comum é o adenocarcinoma, representando cerca de 95% do total.

A maioria dos adenocarcinomas são esporádicos. No entanto, 3 a 5% dos tumores estão associados a síndromes genéticas/hereditárias. Nestes casos os doentes devem ser orientados para consulta de genética, pois o doente e família podem necessitar de um seguimento específico.

Existem fatores de risco?

Sim. Em geral, a obesidade (excesso de peso), o sedentarismo (ausência de exercício físico), o tabagismo, a idade (quanto mais velho, maior o risco), o sexo masculino (é duas vezes mais frequente nos homens) e a raça não caucasiana (é mais comum nos asiáticos) são os principais fatores de risco.

Existem, ainda, outros fatores de risco como a infeção da camada mais interna do estômago pela bactéria Heliobacter pylori, antecedentes de cancro gástrico em familiares diretos e uma alimentação rica em fumados, salgados, vinagre, peixe ou carne secos e/ou em açúcares refinados.

Quais são os sintomas?

Nas fases mais iniciais da doença, é muito comum os doentes não apresentarem sintomas e, no caso de existirem, são frequentemente vagos, sendo os mais comuns:

  • sensação de enfartamento
  • dor ou mal-estar abdominal
  • falta de apetite (anorexia)
  • perda de peso
  • dificuldade em engolir (disfagia)

Na presença de um ou mais destes sintomas deve procurar um médico. Não deve adiar a procura de resposta clínica mesmo em tempo de pandemia. Lembre-se que os hospitais implementaram medidas para garantir a segurança de todos. Um diagnóstico precoce é essencial para o prognóstico da doença.

Como é realizado o diagnóstico?

Após realizar o exame físico, e se houver suspeita de cancro gástrico, o seu médico assistente irá solicitar exames complementares de diagnóstico. Habitualmente estes exames englobam análises ao sangue e uma endoscopia digestiva alta (na qual é introduzido um tubo - gastroscópio - pela boca que permite observar o esófago e o estômago). Na presença de alguma alteração suspeita é realizada uma biópsia gástrica (colheita de tecidos suspeitos), para verificar se existem ou não células malignas.

Ao confirmar-se o diagnóstico de cancro gástrico, os exames para determinar o estadio da doença incluem, TC de tórax, abdómen e pélvis, para avaliação da região gástrica e dos outros órgãos, nomeadamente pulmões, fígado, entre outros, para determinar se existem imagens suspeitas da doença já ter metastizado (ter doença em outros órgãos). Frequentemente é também solicitada uma ecoendoscopia (ecografia realizada com um gastroscópio).

Deste modo, é possível delinear a estratégia de tratamento, sendo cada caso avaliado na consulta de grupo multidisciplinar, realizada por médicos de diferentes especialidades, de acordo com a situação do doente e com o seu tipo de cancro.

Existe tratamento?

Sim existe e é muitas vezes de caráter curativo. Para tal é muito importante o diagnóstico numa fase precoce da doença pois a probabilidade de cura é bastante superior.

Com exceção dos tumores muito precoces, que podem ser tratados através de técnicas de gastroenterologia, o único tratamento curativo para o cancro gástrico implica sempre uma cirurgia, que, de acordo com a localização do tumor, pode consistir na remoção total ou parte do estômago.

Como após uma cirurgia isolada a taxa de recorrência do cancro é muito elevada, a maioria dos doentes tratados com objetivo curativo realiza tratamentos combinados, que podem englobar a quimioterapia e/ou radioterapia, de acordo com as características específicas de cada doente e do seu cancro.

Nos doentes com doença metastizada (doença presente em outros órgãos) ou localmente avançada irressecável (doença não passível de cirurgia) o tratamento habitualmente realizado é a quimioterapia que tem como objetivos principais o aumento do tempo e da qualidade de vida.

Detetar esta doença numa fase precoce é essencial e adiar o diagnóstico pode ter consequências graves para a sua saúde. Cuide da sua saúde e mantenha um acompanhamento regular pelo seu médico.

Um artigo da médica Manuela Machado, especialista em Oncologia no Hospital CUF Porto.