Apesar de ser uma doença endémica na América Latina, os fluxos migratórios têm contribuído para a sua disseminação também na Europa. A doença de chagas é classificada pela Organização Mundial de Saúde como uma doença silenciosa e negligenciada, uma vez que é predominante em países de baixos recursos e existe muita falta de informação por parte da população sobre esta doença. Em Portugal residem comunidades oriundas de países onde a doença de chagas é comum. Estima-se que existam 900 casos clínicos da doença, a grande maioria sem sintomas e não diagnosticados. Os casos diagnosticados, principalmente na população brasileira residente, apresentam, geralmente, doença cardíaca grave.

Além da transmissão pela picada do inseto, pode ocorrer transmissão por transfusão de sangue, transplante de órgãos de um dador infetado e da gestante para o feto. O parasita Trypanosoma entra na corrente sanguínea, infetando diversas tipologias de células do organismo, incluindo as do sistema imunológico, coração, músculos e sistema nervoso. Uma vez no organismo, pode, durante vários anos, provocar danos na saúde do paciente, nomeadamente a nível cardíaco e intestinal, podendo mesmo ser fatal.

A doença de chagas ocorre em três estágios. Os sintomas da doença têm geralmente início uma a duas semanas depois da entrada do parasita na corrente sanguínea. Pode surgir um caroço vermelho e inchaço na ferida da picada e até mesmo febre. Na maioria dos casos clínicos, a sintomatologia do primeiro estágio da doença desaparece sem tratamento.

Durante o segundo estágio, os pacientes não manifestam sintomas da doença e os resultados do exame eletrocardiograma, dos exames de imagem do coração e do sistema digestivo apresentam um resultado normal. No entanto, o parasita está presente no organismo. Muitos pacientes permanecem neste estágio, diversos anos sem apresentar qualquer sintomatologia. Anos depois, desenvolve-se a doença de chagas crónica em 20% a 40% dos casos clínicos. Este é o terceiro estádio. As principais áreas afetadas são o coração e o sistema digestivo e intestinal.

Silenciosa e assintomática após a fase aguda, o paciente desconhece que está infetado e não procura assistência médica. Existem medicamentos que podem eliminar o parasita, impedindo a transmissão sanguínea e órgãos, a passagem do parasita da gestante ao feto e o desenvolvimento de doença grave. O diagnóstico laboratorial é imprescindível para identificar todos os portadores da infeção.

O diagnóstico da doença de chagas aguda é realizado por microscopia ótica de esfregaços de sangue (finos ou espessos) ou através da metodologia PCR (apresenta elevada sensibilidade e especificidade) e ELISA.

Na fase inicial, caracterizada por elevada parasitémia, é possível um diagnóstico através do microscópio.

A metodologia ELISA recorre a partes deste protozoário para a pesquisa de anticorpos específicos circulantes no sangue. Os anticorpos são proteínas produzidas pelo sistema imunológico para ajudar a defender o corpo contra um ataque específico, incluindo o de parasitas.

Um artigo de Germano de Sousa, especialista em Patologia Clínica.