Criada por Andrew Taylor Still nos EUA, é uma forma de medicina alternativa. Um sistema autónomo de cuidados de saúde primários, que se baseia no diagnóstico diferencial. Uma terapia holística, como também há quem lhe chame. «Na osteopatia integral, vemos o corpo humano como um todo», explica João Paulo Santos Silva, osteopata e diretor da clínica OSTEOJP – Osteopatia, Terapia e Formação, em Linda-a-Velha, com consultas regulares em Castelo Branco e Coimbra.
«Trabalhamos não só as estruturas musculares e ósseas mas também, de uma forma visceral, órgãos como o coração, o baço, o fígado e os rins, para ver se estão a trabalhar e em bom funcionamento. No caso das mulheres, vamos até ao útero e aos ovários», acrescenta o especialista, que, em entrevista ao Modern Life, explica o que a osteopatia integral pode fazer para melhorar a qualidade de vida de milhares de pessoas.
O que é que um osteopata integral faz?
Olhamos para o corpo como um todo. Tem de estar tudo em harmonia. O crânio, por exemplo, tem vários ossos. Essas estruturas movem-se todas e, ao fazê-lo, ameaçam nervos e ligamentos que existem pelo corpo todo e que libertam as estruturas e todas as cadeias musculares, que são vários músculos que estão localizados uns ao pé dos outros. Esse é o nosso trabalho.
Também libertamos a parte neurológica do corpo de dores crónicas e até de dores sensitivas, de zumbidos e de vertigens. Enfim, tudo o que a medicina que se conhece hoje em dia não consegue. Aparecem-me, às vezes, pessoas com dores crónicas que já foram a todo o lado. Nós tentamos libertar essas dores e até fazê-las desaparecer completamente. O resultado é fantástico e é um pouco a boca a funcionar, na realidade.
Mas também há cada vez mais clínicos que nos mandam situações graves que eles não têm capacidade de resolver. Os osteopatas só manipulam. Nós chamamos-lhe os terapeutas manipulativos. É importante ver quando é que uma estrutura está bloqueada. Depois, para patologias muito específicas, como por exemplo um braço congelado ou uma situação de dor crónica num braço, trabalhamos, por exemplo, um ligamento ao pé do fígado e ele liberta-se.
E como é que, na prática, fazem isso?
É por palpação, primeiro. Nós temos um protocolo. Quando temos uma pessoa à frente, temos de o seguir para perceber qual é a lesão. Pode ser um órgão bloqueado. Esses protocolos dão-nos a sequência para o tratamento. Não é através de manipulação mas, muitas vezes, é a nível de pressão no local onde existe uma estrutura que está bloqueada. Colocamos uma mão em cima e tentamos sentir os movimentos das estruturas musculares.
É um processo muito sensitivo então...
É! A nossa sensibilidade ao nível da mão é muito grande. Temos de sentir o movimento da faixa muscular e, ao movimentá-la, conseguimos sentir o movimento e colocar essas faixas em ordem, o que significa que temos que ter uma sensibilidade maior que a dos outros técnicos.
Sentem a energia do corpo? É com essa que trabalham?
Não trabalhamos com energia. Não tem nada a ver. Muitas das vezes, diz-se que isto é energia mas não é. Estamos a falar de biomecânica, de anatomia, de fisiologia, do movimento dos órgãos... Tem muito a ver com movimento. Isto é mesmo científico. Claro que há coisas que a ciência ainda não percebeu e há profissionais de saúde que já o perceberam.
A pele é elástica. Quando está mole, move-se e, às vezes, sentimos que tem maior elasticidade de um lado do que do outro. Nós fazemos essa avaliação e trabalhamos essa falta de elasticidade da pele. Numa determinada situação, muito possivelmente, há um nervo ou um órgão que está ali a bloquear o movimento e é esse o nosso trabalho. Vimos as coisas com mais profundidade do que os outros técnicos.
Todas as pessoas podem recorrer à osteopatia integral?
Se estamos a falar de pessoas que têm dores, sim, podem. Aliás, há muitas pessoas que vêm ter connosco que já passaram por todo o lado e, realmente, conseguem aqui resultados muito bons. Às vezes, há um clínico, que é cirurgião, que me manda para aqui situações que não consegue tratar. Experimentamos um tratamento de osteopatia integral e o feedback do outro lado é muito positivo.
Um bom profissional manda sempre um doente para outro bom profissional. Há também aqui uma simbiose porque, se há falta de medicação e é preciso tomar um anti-inflamatório, por exemplo, nós não nos imiscuímos. Mandamos pessoa pedir ao clínico que a segue. Nós trabalhamos muito mais a nível de estruturas.
Uma grávida ou um doente com cancro, por exemplo, também podem recorrer à osteopatia integral?
Sim, claro. Nós ajudamos as grávidas. No caso delas, o corpo muda todo, em termos de ossos e de vísceras e, ao mudar, implica que tenhamos também de mudar o corpo. Se há dores, por exemplo, nós tentamos aliviá-las, sem ser por manipulação. E tentamos até mudar o sítio do bebé. Se ele estiver um bocadinho deslocado, conseguimos colocá-lo numa posição mais favorável.
E no caso das pessoas com cancro?
Nalgumas situações, sim, sem dúvida.
Quais são os problemas que tratam mais?
Hérnias discais, zumbidos e encefalias crónicas. Temos resultados muito bons a este nível. Há pessoas que deixam de ter dores de cabeça enormes e, de repente, muda-se a vida e a atitude dessas pessoas. Passam a ter uma qualidade de vida que não tinham anteriormente. Eu tratei uma jovem com 22 anos que tinha dores de cabeça quase todos os dias. Hoje em dia, tem duas ou três por mês, no máximo.
E vai ter cada vez menos! Quem se encharca de medicação para tentar aliviar essas dores, como sucede com muitos portugueses, ganha uma nova vida depois de recorrer a nós. Já há muitos osteopatas que não são manipulativos, são estruturais e trabalham o corpo de uma maneira total. Muitos deles têm resultados fantásticos...
Há também o caso de uma atleta com dores nos joelhos que o procurou e que resolveu o problema através da boca...
A estrutura bocal é uma articulação bastante poderosa por causa dos músculos que temos na face. Quando sente pressão, nomeadamente em casos de stresse, que dá cabo de quase todos nós, todas essas estruturas bloqueiam. Muita gente durante a noite, por exemplo, range os dentes. Fecha a boca e não imagina que a força que todos esses músculos estão a fazer. Ao contrair, provocam dores de cabeça, dores no maxilar, dores na coluna e na cervical.
De repente, todos os nervos que vão do crânio ate lá abaixo, como o ciático e vários outros, ficam retraídos e nós libertamos essa estrutura bocal. As ditas cadeias musculares ficam livres. E nós conseguimos isso através da pressão de uma série de pontos na boca. Nalguns desses pontos, os nervos que saem do crânio ficam mais soltos e menos tensos e, então, liberta-se todo o corpo. É muito interessante...
É por isso que dizem que encaram o corpo como um todo...
Sim, nós vemo-lo como um todo. Não verificamos apenas o local da dor. Se existe um bloqueio das articulações, é porque houve qualquer coisa que o gerou e que o espoletou. Uma hérnia discal, por exemplo, só aparece porque, um dia, houve uma coisa que a fez aparecer. Pode ser, por exemplo, a pessoa ter uma perna mais curta. Se calhar, devia ter ido a um podologista para aumentar um bocadinho a estrutura.
Numa situação dessas, se calhar, tem de ir primeiro a um médico para lhe tirar a inflamação e só depois vir ter connosco. Provavelmente, houve uma situação traumática e nós temos que libertar o trauma e, depois, trabalhar as estruturas. Nós também trabalhamos a memória do corpo. Temos de reprogramar a memória e temos de reprogramar o cérebro. É a chamada reprogramação neurolinguística.
Comentários