É inegável que de todas as fontes proteicas presentes na nossa alimentação, a fonte bovina (carne, leite, queijo) é aquela que se destaca negativamente quanto à emissão de gases com efeito estufa. Por outro lado, a proteína de origem animal (soro do leite – Whey, caseína, ovo, carne e peixe) possui maiores quantidades de aminoácidos essenciais e sobretudo leucina, sendo em teoria mais efectiva no aumento de massa muscular. É importante realçar que muitos dos estudos que comparam o efeito destes dois tipos de proteínas são feitos em omnívoros e que essa mudança súbita na fonte proteica poder fazer com que os resultados sejam diferentes. Ainda assim, nos últimos tempos têm sido cada vez mais as investigações a confirmar que quando as quantidades de proteína são ajustadas às recomendações mais actuais, seja para cada refeição, seja para o total diário, não existem diferenças substanciais no que diz respeito à síntese proteica muscular, massa muscular e força.
Um estudo que comparou a ingestão de 30g proteína do trigo (a mais pobre das proteínas vegetais quanto ao teor de leucina) não observou diferenças na síntese proteica muscular em comparação a 30g de proteína do leite (na sua proporção original de 80% caseína e 20% Whey). O teor de leucina em cada porção de 30g era 2,4g vs. 1,8g (leite vs. trigo). Não sendo de todo a melhor opção na suplementação de proteína vegetal (ervilha, soja e arroz são opções bem mais completas), podemos ver que quando chegamos às 30g de proteína em cada refeição não existem grandes diferenças.
Outro estudo recente comparou o efeito da ingestão de 1,6g/kg/dia proteína quer em vegans quer em omnívoros, recorrendo a suplementos de proteína de soja no caso dos vegans e a whey nos omnívoros, para além de outras fontes alimentares. No final das 12 semanas do estudo (ambos os grupos praticaram treino de força 2 vezes por semana), não existiram diferenças no aumento de massa muscular, área muscular e força.
Estes dois trabalhos recentes, apenas vêm reforçar a ideia já sustentada noutros estudos de que existindo quantidade de proteína suficiente em todas as refeições e no total do dia, a sua fonte pode não ser de tão grande importância. Tendo em conta estes factos, snacks com uma boa quantidade de proteína (10 a 15g) de origem vegetal, são igualmente efectivos na manutenção da massa muscular e podem inclusivamente ser mais saciantes do que a proteína animal.
Em suma, uma transição suave para outras fontes proteicas como a soja/tofu/seitan nas principais refeições e snacks com proteína de soja, ervilha, arroz ou trigo é necessária para que possamos ter os mesmos benefícios da ingestão de proteína, mas com outra pegada ambiental. Começar a introduzir pontualmente estas diferentes fontes proteicas na alimentação para se tornar um hábito, alternando com proteína láctea, peixe e carnes brancas, deixando a carne bovina (se possível de origem nacional) para os fins de semana, faz parte de um consumo responsável e onde podemos ter o melhor de dois mundos.
Um artigo de Pedro Carvalho, nutricionista e Diretor Clínico do programa YES!Diet, e autor do livro "Os Novos Mitos que Comemos".
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