Telemedicina, telehealth, telecare. Os termos até lhe podem parecer distantes mas acredite que estão mais próximos de si do que imagina e que podem ter (e têm) um forte impacto na qualidade e celeridade dos serviços que existem para proteger a sua saúde.
Os três compõem a dimensão do universo do eHealth, ou seja, «a utilização de Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) para satisfazer as necessidades dos cidadãos, pacientes, profissionais de saúde, prestadores de cuidados bem como gestores de políticas». A definição é de António Sousa Pereira, membro do Instituto de Engenharia Electrónica e Telemática de Aveiro (IEETA), um centro propulsor da investigação nesta área em Portugal.
Tanto a telehealth como a telecare implicam o uso das TIC’s «para a transferência de informações», no primeiro caso para a «prestação de cuidados de saúde nas suas componentes clínica, administrativa e de formação», no segundo caso para o «diagnóstico e terapia de pacientes no seu domicílio».
Já a telemedicina envolve «a prática de cuidados médicos utilizando comunicações interactivas audiovisuais e de dados, estando incluída a prestação de cuidados médicos, o diagnóstico, a consulta, o tratamento bem como formação e transferência de dados médicos», revela a mesma fonte.
Quer um exemplo bem próximo de si? A linha Saúde 24 para onde pode ligar sempre que acontece uma urgência médica. Para que seja eficaz e possa dar resposta às solicitações dos cidadãos, o trabalho de muitos profissionais de saúde é articulado graças às tecnologias de informação e comunicação.
As áreas de aplicação
De acordo com a National Library of Medicine, a telemedicina abrange um conjunto diversificado de tecnologias que vão deste um simples telefone à banda larga, computadores, fibra óptica, satélites e outros equipamentos periféricos e de software.
Na prática, a sua aplicação pode ser tão básica como a troca de informações entre dois profissionais de saúde, via telefone, ou implicar o recurso a satélites na videoconferência entre os prestadores de cuidados de saúde de dois países distantes.
Segundo a Associação Americana de Telemedicina, esta área subdivide-se em vários tipos de serviços:
Teleconsulta Realização de consultas que usam um meio interactivo de comunicação para estabelecer uma conversação. Podem ser realizadas através de vídeoconferência, telefone ou sites.
Serviços especializados Envolve o auxilio de um especialista a um outro médico na realização de um diagnóstico.
Pesquisas recentes demonstram que são cada vez mais as áreas de especialidade a fazer uso da telemedicina, como é o caso da radiologia, dermatologia, oftalmologia, saúde mental, cardiologia e patologia.
Telemonitorização Sistemas de monitorização de sinais vitais com ou sem lançamento de alertas remotos. Alguns sistemas poderão ser dotados de portabilidade permitindo ao paciente continuar a sua vida quotidiana enquanto se realiza simultaneamente o processo de vigilância.
Educação médica à distância Implica a circulação de informação e o fornecimento de serviços para a educação dos profissionais de saúde que estejam mais afastados dos centros das especialidades.
Teleformação Inclui sistemas de informação para a sensibilização da população à distância. Neste caso as equipas médicas podem limitar-se a disponibilizar a informação ou assumir um papel mais activo, interactivo, recorrendo à vídeo-conferência.
As vantagens e fragilidades da telemedicina
De acordo com o Portal do Cidadão, são diversas as vantagens associadas à telemedicina:
- Diminui os esforços dos utentes e dos serviços de saúde e o recurso à urgência hospitalar;
- Reduz os gastos com exames, transporte de doentes e reembolsos a utentes, assim como as desigualdades no acesso aos serviços;
- Potencia prestação de mais serviços com menos recursos;
- Permite a disseminação de conhecimentos e competências;
- Aumenta a satisfação dos pacientes;
- Promove o desenvolvimento de recursos de saúde integrados e o melhoramento da comunicação entre profissionais.
Mas, apesar dos evidentes benefícios, continuam a existir pontos geradores de críticas sobre a utilização de sistemas de telemedicina, nomeadamente a possível desumanização da relação médico-doente. Recentemente, por exemplo, vieram a público críticas da Ordem dos Médicos, neste sentido, sobre o site segundaopiniãomédico.pt que disponibiliza pareceres de diversos especialistas.
Outro desafio da telemedicina é garantir a confidencialidade das informações pessoais do doente.
A telemedicina em Portugal
No nosso país, segundo dados fornecidos pelo investigador João Paulo Cunha, do IEETA, «a evolução da telemedicina pode ser descrita através das sucessivas gerações de projectos nesta área da instituição que se dedica à investigação e desenvolvimento em Telemedicina».
Esta unidade de investigação da Universidade de Aveiro foi responsável pela primeira iniciativa nacional neste domínio, em 1988, e pelo desenvolvimento, na década de 90, de aplicações de tele-radiologia, tele-consulta de eco-cardio, tele-ecocardiografia (Gaia-Maputo) e tele-consulta cine-angiografia coronária (Gaia-Viseu).
Um dos projectos deste instituto, que espelha os mais recentes avanços nacionais no domínio da telemedicina, é a peça de roupa «inteligente» Vital Jacket. Trata-se de uma camisola que incorpora um dispositivo electrónico e vários sensores que captam os sinais vitais, permitindo monitorizar o ritmo cardíaco no momento ou ao longo de vários dias. A informação é integrada por via wireless em outras aplicações e sistemas.
Há cerca de 16 anos, «a telemedicina surge com mais visibilidade sob o patrocínio do Ministério da Saúde e da Portugal Telecom, dá-se inicio a vários projectos que resultaram progressivamente em experiências maioritariamente isoladas e com maior ou menor êxito nos dias de hoje», relata Maria Helena Monteiro, especialista em Sistemas e Tecnologias de Informação e Comunicação e a sua Implementação nas Organizações, num documento divulgado, no VI Congresso Português de Sociologia de 2008.
Entre 1999 e 2001, segundo a mesma fonte, foram por exemplo «realizadas diversas experiências de telemedicina (sobretudo teleconsulta por videoconferência) no Continente com algumas ligações ao arquipélago dos Açores e da Madeira. Em Coimbra já em 1998, se tinha iniciado a prática de teleconsultas de cardiologia pediátrica e fetal entre distintas unidades hospitalares».
Exemplos recentes
Segundo a mesma fonte, em 2004 surge o Projecto TeleMedAlentejo 2004 que permitiu implementar uma cobertura dos serviços associados à telemedicina ao longo desta área geográfica, ligando hospitais e centros de saúde. Ainda no mesmo ano, arrancou a Rede Digital da Ria de Aveiro e a Rede Telemática da Saúde que vieram permitir a utilização do telediagnóstico em hospitais e centros de saúde.
2007 foi também um ano relevante para a telemedicina em Portugal, de acordo com a mesma fonte. Surgem serviços de emergência pré-hospitalar e ambulâncias de Suporte Imediato de Vida do INEM coordenados por um Centro de Orientação de Doentes Urgentes, graças a tecnologias que integram a telemedicina.
Foi também nesse ano que foi criada a linha Saúde 24 (808 24 24 24) que envolve o recurso a telefone, fax, email ou web e a articulação entre o INEM e a rede nacional de prestação de cuidados de saúde (centros de saúde, hospitais…)
Um ano depois era lançado o sistema de telemedicina de Cardiologia Pediátrica que liga, em consultas desta especialidade, várias unidades hospitalares do país com hospitais do Brasil, Espanha, Cabo Verde e Angola.
Em 2009, com a chancela do IEETA, destaca-se a Rede Nacional de Imagiologia Cerebral Funcional, uma plataforma de armazenamento e comunicação de imagem funcional cerebral entre centros de investigação e desenvolvimento universitários de Coimbra, Porto, Aveiro e Minho.
Texto: Fabiana Bravo
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