A pericardite é uma inflamação do pericárdio, isto é, da membrana que envolve o coração

Para que serve o pericárdio?

O pericárdio serve para manter o coração numa posição estável, isolar e proteger o coração das estruturas adjacentes, lubrificar e reduzir o atrito entre o coração e as estruturas adjacentes e assim facilitar o movimento do coração.

A pericardite é frequente?

A pericardite é responsável por 5% das admissões no serviço de urgência por dor torácica, afetando sobretudo jovens adultos, principalmente homens.

Quais são as causas de pericardite?

A principal causa de pericardite nos países desenvolvidos são as infeções víricas e nos países subdesenvolvidos é a tuberculose. Contudo, outras infeções bacterianas, fúngicas ou parasitárias também são causas possíveis, embora raras, de pericardite.

Entre as causas não infeciosas contam-se as doenças auto-imunes, as neoplasias, a lesão traumática do pericárdio, a radiação, alguns fármacos como os quimioterápicos e outras doenças tais como a insuficiência renal e a amiloidose

Quais são as manifestações clínicas da pericardite?

A principal manifestação clínica é a dor torácica, pelo que é fundamental o seu diagnóstico diferencial com o enfarte agudo do miocárdio.

As caraterísticas da dor torácica são no entanto diferentes. Enquanto o enfarte agudo do miocárdio causa uma dor torácica tipicamente em aperto, a pericardite causa uma dor que carateristicamente aumenta com a inspiração e a posição deitada e alivia na posição sentada e inclinada para a frente.

Como se diagnostica a pericardite?

Para o seu diagnóstico, são importantes dados da história clínica, exame físico, eletrocardiograma e exames de imagem cardíaca, como o ecocardiograma.

O diagnóstico é estabelecido na presença de pelo menos 2 de 4 critérios clínicos: (i) dor torácica com caraterísticas sugestivas de pericardite; (ii) som de atrito pericárdico na auscultação cardíaca; (iii) alterações eletrocardiográficas típicas (supradesnivelamento de ST ou infradesnivelamento de PR difuso); e (iv) derrame pericárdico, ou seja, líquido acumulado à volta do coração detetado num exame de imagem cardíaca.

Como se trata a pericardite?

O tratamento assenta fundamentalmente em repouso e terapêutica anti-inflamatória com aspirina ou outros anti-inflamatórios não esteróides e colchicina.

O tratamento pode ser efeito inteiramente em regime de ambulatório nos casos menos graves ou necessitar inicialmente de internamento hospitalar nos casos com critérios de risco ou com suspeita de uma causa específica que tenha de ser estudada.

O tratamento deve ser realizado durante 3 meses e o exercício físico e o desporto estão contra-indicados durante esses 3 meses.

Qual o prognóstico da pericardite?

O prognóstico é geralmente bom. A maioria dos doentes recupera sem complicações.

Quais as complicações possíveis da pericardite?

A pericardite pode causar a acumulação de uma quantidade de líquido à volta do coração que é suficiente para causar compressão cardíaca, ou seja, tamponamento cardíaco, que é uma situação ameaçadora da vida se não for imediatamente tratada.

Outra complicação possível é a evolução para pericardite crónica constritiva, uma situação em que o pericárdio se torna rígido e calcificado, atuando como uma carapaça à volta do coração, não permitindo a sua normal distensão. Esta situação clínica é grave, obrigando a cirurgia cardíaca de remoção do pericárdio para o seu tratamento.

Contudo, quer o tamponamento cardíaco quer a pericardite crónica constritiva são complicações raras, sendo a sua frequência maior em determinadas causas específicas de pericardite, como as neoplasias, as doenças auto-imunes e as infeções bacterianas.

Qual a taxa de recorrência da pericardite?

A recorrência de pericardite pode ocorrer em 15-30% dos casos, sendo maior se não foi efetuado um tratamento adequado e completo do primeiro episódio de pericardite, se foram utilizados corticosteróides no tratamento anterior ou na presença de causas específicas de pericardite, como as doenças auto-imunes.

Um artigo da médica Olga Azevedo, cardiologista na Sociedade Portuguesa de Cardiologia.