A empatia é uma espécie de radar pessoal que capta e intui as emoções dos outros e consegue adaptar o nosso tom emocional ao tom do outro, fazendo com que se sinta compreendido e aceite. Ser empático significa ter a capacidade de se colocar no lugar do outro e percecionar o que essa pessoa está a sentir ao ponto de conseguir ver o mundo através dos seus olhos e da sua forma de sentir.
Assim, é considerada um tipo de inteligência, que podemos designar inteligência interpessoal, enquanto capacidade cognitiva de sentir aquilo que outra pessoa está a experienciar. A empatia exclui os fenómenos afetivos, como a simpatia ou a antipatia, bem como os juízos morais. A partir do momento em que avaliamos a atitude do outro através daquilo que defendemos ser o certo ou o errado, estamos a deixar de ser empáticos.
Passamos a ver a situação do outro não como ele a sente, mas como nós a vemos. Veja também a galeria de imagens com os 25 livros que o vão ajudar a ser uma pessoa melhor. Descubra também quais são os 7 passos rumo à liberdade que deve adotar rapidamente.
O que se passa no nosso cérebro
A empatia é um fenómeno característico do hemisfério cerebral direito e estudos recentes, do psicólogo Simon Choen, datados de 2003, vêm demonstrar que o cérebro feminino está predominantemente ligado à empatia e o masculino à compreensão e construção de sistemas. Na década de 1990, o neurocientista italiano Giacomo Rizolatti identificou os «neurónios espelhos», responsáveis pela imitação de movimentos. Estes neurónios representam 20 por cento das células localizadas nos lóbulos frontais do cérebro.
Células que permitem desencadear os comportamentos empáticos, sociais e imitativos, já que a sua ação é refletir o que estamos a observar no outro. Quando, por exemplo, vemos alguém chorar, tendemos a sentir pena e compaixão. Já tinha reparado nisso? Tal acontece porque o nosso cérebro reproduz o padrão neuronal do choro e dos movimentos faciais por ele causados.
As características das pessoas empáticas
As pessoas empáticas colocam-se com facilidade no lugar do outro, oferecendo-lhe o seu tempo e disponibilidade emocional. São pessoas compreensivas, que têm facilidade elevada em identificar e compreender emoções e sentimentos, ficando facilmente em sintonia e afinidade com os outros. São também autoconfiantes, têm elevada autoestima e são respeitadoras das diferenças de perceção do outro, não julgando nem avaliando.
A pessoa empática não dá conselhos. Ao contrário, ajuda o outro a sentir como seria a sua situação se agisse, pensasse ou sentisse de forma diferente. Não tenta mudar o outro nem levá-lo para o seu campo. Fica simplesmente com o outro.
Somos empáticos quando observamos mais do que falamos, quando ouvimos o outro com atenção plena e não enquanto estamos a ver o Facebook, por exemplo. Também o somos quando demonstramos interesse pela experiência do outro e quando usamos expressões faciais mostrando que estamos presentes para ele.
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O que interfere com a nossa capacidade de sermos (ou não) empáticos
A maior ou menor capacidade de empatia está, sobretudo, ligada à educação, à socialização e à cultura onde o indivíduo cresceu, uma vez que, em termos neurológicos, é uma capacidade cognitiva transversal, exceto se existir uma disfunção ao nível da biologia do cérebro ou uma psicopatologia, como é o caso da síndrome de Asperger, do autismo ou ainda depressão profunda. Isto significa que há uma parte da empatia que resulta da aprendizagem gerada pela inter-relação familiar e na socialização com os outros.
O que muda a nossa capacidade de empatia são os estímulos exteriores (mais positivos e intensos ou mais ténues ou inexistentes) que vamos recebendo ao longo da vida. Neste aprendizado, a primeira infância é a fase da vida mais importante em termos de aquisição desta competência. Se uma criança é educada numa família onde a empatia é baixa ou inexistente, terá maior dificuldade em apresentar esta capacidade.
O que todos temos a ganhar com um mundo mais ligado
A ciência demonstra a existência de uma relação direta e positiva entre a empatia e o bem-estar, quer da pessoa que a pratica, quer de quem a recebe. Quanto mais empáticos formos, mais a nossa vida melhora, incluindo a nossa saúde física e emocional. Ao sermos empáticos, aumentamos as emoções positivas do outro e isso faz com que também nós nos sintamos bem (fenómeno da reciprocidade emocional).
Como defende Daniel Goleman, o pai do conceito de inteligência emocional, as capacidades emocionais, entre as quais a empatia, são ainda mais importantes para a sobrevivência e para a evolução humanas do que as capacidades intelectuais. Este processo é notório, por exemplo, em situações de catástrofe natural ou em situações de terrorismo.
Nestes casos extremos, quem tem maior capacidade de sobrevivência são as pessoas que conseguem ver para lá da crise emocional em que a maioria mergulha, encontrando soluções no caos e ajudando os outros a fazer o mesmo. Veja também o que fazer para estimular e treinar a criatividade.
A urgência social da era do vazio
Na era do vazio em que vivemos, como a define Gilles Lipovetsky, onde existe uma busca infindável do sentido da vida, daquilo que de facto nos faz felizes, onde imperam cada vez mais relacionamentos interpessoais desapegados, onde é difícil ter tempo para sentir os outros e tentar entendê-los, a empatia surge como uma urgência social. É fundamental para a criação de laços significativos entre as pessoas e para a solidificação dos relacionamentos familiares.
Mas não só. Também para a criação de laços, fortes, de amizade e conjugais e até mesmo para melhorar a vida de pessoas doentes ou que estão a passar por situações traumáticas. A empatia preenche a vida de emoções positivas, de amor pelo próximo, de entendimento e de aceitação das dores emocionais dos outros. Em profissões como a medicina e a enfermagem, tem vindo a ser crescente o reconhecimento da empatia na cura dos doentes.
Ser empático não significa apenas compreender e conjugarmo-nos com os outros quando estes estão tristes ou a passar um mau bocado. Significa também conseguirmos sentir felicidade pela felicidade e o sucesso dos outros. Algo que está a tornar-se cada vez mais raro na sociedade atual.
Veja na página seguinte: Os diferentes tipos de empatia
Os diferentes tipos de empatia
Segundo Paul Ekman, psicólogo americano pioneiro no estudo das emoções e de como estas se espelham em expressões faciais, existem três tipos de empatia:
- Empatia cognitiva
Ajuda-nos a entender, de forma assertiva, como pensa a outra pessoa.
- Empatia emocional
Ultrapassa o entendimento da forma de pensar e inclui o facto de conseguirmos sentir fisicamente as emoções alheias (contágio emocional), que está muito dependente dos neurónios espelhos, fazendo com que fiquemos em sintonia com o mundo interior do outro.
- Empatia compassiva
Significa que não só entendemos e sentimos o outro como também agimos, ajudando-o.
Como praticar a empatia no trabalho
Em vez de entrar em piloto automático com as pessoas que mais a desafiam no trabalho, tente fazer os seguintes exercícios:
- Um dia na vida de….
Tente perceber como se sentiria se tivesse de viver um dia da sua vida, com o tipo de vida das pessoas que colidem mais consigo. Consegue imaginar?
- Como cheguei até aqui?
Tente saber mais sobre a história de vida das pessoas que colaboram consigo ou dos seus colegas de trabalho. Como chegaram até ali? Vai descobrir que por detrás dos piores feitios escondem-se pessoas que apenas necessitam de ser vistas e entendidas.
Empatia na dose certa
A empatia deixa de ser positiva quando, além de entendermos as emoções do outro, as sentimos e as tornamos nossas. Para encontrar um ponto de equilíbrio, estas são as coisas que deve fazer:
- Diga não quando é preciso e não o evite por achar que vai magoar o outro.
- Evite confrontos inúteis com terceiros para salvar o outro.
- Não tente anular o sofrimento do outro da forma mais rápida possível. Isso fará com que ele não tenha tempo para integrar os ensinamentos do problema em que se encontra.
- Não evite os seus próprios problemas, já que é muito mais fácil e simples olhar e tentar resolver a vida dos outros do que a nossa.
- Não se desfoque de si evitando o contacto com as suas próprias emoções e com aquilo que não quer ver ou resolver em si. Fazê-lo pode ser o seu colapso emocional, podendo mesmo originar doenças físicas.
Veja na página seguinte: 5 coisas a fazer para exercitar a inteligência interpessoal
5 coisas a fazer para exercitar a inteligência interpessoal
1. Diminua a sua necessidade de controlar e querer ter razão. Observe mais, escute mais e pergunte mais. Liberte a ideia prévia de que a sua forma de ver e de fazer são as mais corretas para ajudar o outro.
2. Cure a sua linguagem verbal, eliminando expressões como «Se fosse eu...», «Por mim ele já estaria longe…», «Enquanto estiveres triste, nunca mais vais conseguir…», «Não fiques dependente dessa situação…» e/ou ainda «Tens capacidade para mais…»
3. Treine as suas expressões faciais. Desenvolva a sua capacidade de foco visual no outro. Exercite, pedindo ajuda a alguém em quem confie. Peça-lhe que lhe indique a forma como o seu rosto se altera face a determinadas imagens, nomeadamente, revistas, vídeos, filmes e por aí fora...
4. Liberte-se de juízos de valor. A nossa ação depende do que nos foi ensinado como certo e errado, bom ou mau. Liberte-se disso e coloque-se, de facto, no lugar do outro. Tente perceber o outro, colocando-se no lugar dele. «E se fosse eu naquelas circunstâncias, com aquela história de vida?», pense.
5. Faça voluntariado. É uma das formas mais eficazes de desenvolver a sua empatia.
Texto: Teresa Marta (coach para a coragem e CEO da Academia da Coragem)
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