Pare, feche os olhos e siga as coordenadas. Respire suave e profundamente, ouça o seu corpo, relaxe... e junte-se a nós nesta viagem única, ao centro de si mesma! A Saber Viver participou no primeiro retiro urbano em Lisboa e conta-lhe todos os pormenores.
A ideia de passar um dia inteiro longe de tudo e de todos e de parar, para pensar apenas em mim, pareceu-me mais do que uma experiência única.
Pareceu-me um desafio que queria colocar a mim mesma e superar. Algo me dizia que valeria a pena. Aliás, há muito que ansiava por uma experiência deste género, mas nunca tinha aparecido a oportunidade certa. Até ao dia em que recebi o convite de Bruno reis, personal trainer de yoga, para participar no primeiro retiro urbano, em Lisboa, a escassos quilómetros de casa.
Aceitei, sem hesitações e adorei! Não só pela experiência em si mas pelas técnicas que aprendi e que posso replicar no meu dia a dia, sempre que me sentir mais stressada, ansiosa, preocupada ou triste. Para conhecer as datas dos próximos retiros, clique aqui.
08h30
O dia começou cedo. Oito e meia foi a hora marcada para o início desta aventura. Custou levantar-me um pouco mais cedo do que a hora habitual, mas a curiosidade pelo dia que se avizinhava anulou depressa a minha preguiça matinal. Vesti uma roupa confortável (sweat e leggings), tal como as indicações do programa sugeriam, e peguei no mapa, com o percurso até ao local do retiro.
Mas, mesmo com o mapa na mão, o local não foi muito fácil de encontrar e, apesar de continuar no centro de Lisboa, a sensação que tive quando cheguei ao destino foi a de que percorri dezenas de quilómetros para lá chegar. E, assim, cumpri, sem perceber, o primeiro objetivo do retiro,
convencer-me que estava longe da cidade, do trânsito, das pessoas e da habitual azáfama urbana.
09h00
Encontro-me na Tapada da Ajuda, rodeada de 100 hectares de vegetação densa. O ar é puro e o silêncio absoluto. Ouvem-se apenas os pássaros a chilrear e as folhas das árvores, que dançam ao sabor do vento. O local reservado para o retiro é uma pequena casa de madeira, quente e acolhedora, com uma vista panorâmica para o lago que se situa ali ao lado. Só a paisagem circundante é mais do que suficiente para abrandar o ritmo.
E, em escassos segundos, consigo descontrair e preparar corpo e mente para a aula matinal de ioga. Ao som de música oriental, começo a fazer os primeiros exercícios. De pé, sentada ou deitada, faço extensões e torções, das pernas, do tronco, dos braços e do pescoço que visam,sobretudo, libertar o corpo das tensões acumuladas. E bastam alguns minutos para sentir os seus efeitos, sobretudo a sensação de relaxamento estende-se a todo o corpo e sossega a mente e a alma.
11h00
O próximo passo é (re)aprender a respirar. O mais curioso desta sessão de exercícios respiratórios foi perceber que no nosso dia a dia nunca, ou raramente, nos lembramos que respiramos. Já pensou nisso? Quantas vezes já tentou ouvir a sua respiração? E é precisamente esse, o nosso primeiro desafio, ouvir a respiração e desacelerar o seu ritmo. Inspiro profundamente, dilatando o abdómen, e assim que sinto os pulmões cheios, solto o ar, suave e lentamente, contraindo o abdómen.
Depois deste exercício, não só me sinto plenamente consciente da minha respiração, como suficientemente apta para controlá-la no dia a dia, principalmente nos momentos de maior stress, quando o ritmo respiratório tende a acelerar. Seguem-se novas técnicas respiratórias, onde sinto os diferentes níveis de respiração e aprendo a alternar a respiração pausada e profunda com respirações muito rápidas que levam oxigénio para o cérebro e aumentam a energia.
12h00
Apesar de ainda nem sequer termos chegado a meio do programa, já me sinto revigorada e prontíssima para a próxima etapa, uma caminhada pela tapada, com direito a uma pausa, para treinar os exercícios respiratórios aprendidos, desta vez, com o ar puro. Imaginei que esta seria a parte mais extenuante para mim, já que estou habituada a caminhar com calma e, por isso, pensei que aqui, para acompanhar o resto do grupo teria que acelerar o meu ritmo habitual de caminhada.
Mas enganei-me. O objetivo era caminhar descontraidamente, enquanto desfrutávamos da paisagem. Caminhei ao meu ritmo, sem pressas, apreciei o sol quente daquele dia e desfrutei do silêncio que é tão raro ouvir. nunca uma caminhada foi tão revitalizante. Percorremos cerca de dois quilómetros durante uma hora e a sensação foi a de que nem tinham passado 15 minutos!
15h00
Como não poderia deixar de ser, pois é assim que ditam os princípios do ioga, o almoço foi um delicioso e saudável prato vegetariano. A escolha do menu foi logo justificada pelo nosso yoga personal trainer. «No ioga, defendemos a dieta vegetariana porque as carnes tendem a depositar toxinas no organismo que afetam a flexibilidade, limitando a prática da modalidade», disse-nos Bruno Reis, ainda antes de entrarmos no restaurante A Pateira, situado ali ao lado.
No fim do almoço, foi tempo de descansar, assimilar tudo o que aprendemos naquela manhã e recuperar energias para a sessão de técnicas corporais que se seguiu. Depois de ter quase adormecido, deitada sobre a esteira de ioga (tal era o meu estado de relaxamento), foi hora de despertar e passar para os exercícios mais vigorosos, que trabalham força, flexibilidade, concentração, equilíbrio e respiração.
Fiquei impressionada como, usando apenas o meu próprio peso consigo exercitar todo o corpo, de uma forma tão completa. E o mais surpreendente é que, no final, a sensação não é de exaustão, mas sim de energia e, ao mesmo tempo, de relaxamento.
18h00
A esta hora já consigo perceber e sentir a capacidade do ioga, da respiração e da meditação para nos centrarmos exclusivamente em nós. Estou completamente focada em mim e no meu corpo e nenhum dos assuntos que deixei pendentes lá fora surgiu, na minha cabeça, em momento algum, ao longo do dia. O desafio estava superado!
19h30
Final do dia. O sol já se põe na Tapada da Ajuda... e assim se forma o clima perfeito para nos despedirmos. Não sem antes fazermos o último exercício relaxante. Deitados, com os olhos fechados, focamo-nos num único som. escolho ouvir o marulhar da água corrente e, ao mesmo tempo, relaxamos todo o corpo, dos pés à cabeça. Durante breves segundos, sinto-me desligada do mundo.
E estou unicamente concentrada em mim, sinto-me leve e a sensação que tenho é a de que estou a levitar... Alguns minutos depois, regresso, pouco a pouco, à realidade: foco-me novamente na água que corre, aperto as mãos para sentir o tacto, mexo a boca para acionar o paladar e, finalmente, abro os olhos e desperto para a noite que já caiu...
As três coisas que aprendi:
1. Que é possível abstrai-nos de tudo e de todos (apesar de pensar que seria muito difícil ou mesmo impossível).
2. Consegui ouvir as necessidades do meu corpo, fui capaz de desativar e ativar os cinco sentidos e levei a minha capacidade de concentração ao seu limite máximo.
3. Aprendi técnicas surpreendentes, que têm efeitos imediatos na redução do stress e no aumento da concentração e da produtividade, e que posso praticar no meu dia a dia, em casa, na rua e até na redação.
Texto: Sofia Cardoso com Bruno Reis (yoga personal trainer)
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