Na cimeira mundial do clima (COP26) que decorre até dia 12 em Glasgow, Reino Unido, os responsáveis salientam que as gerações mais jovens enfrentarão ao longo da vida sete vezes mais acontecimentos climáticos adversos do que pessoas nascidas nos anos 1960, tendo em conta os atuais compromissos nacionais de redução de emissões de gases com efeito de estufa.

A exposição a eventos climáticos extremos aumenta o risco de migração forçada, reduz o acesso a boa nutrição, educação e emprego, e ameaça pôr em risco a saúde física e mental dos futuros adultos do mundo, dizem, citados num comunicado hoje divulgado.

Segundo a Parceria para Saúde Materna, Neonatal e Infantil (PMNCH, na sigla original), uma organização ligada à OMS, que deixa o alerta em Glasgow, quase toda a atual geração de 1,2 mil milhões de adolescentes entre os 10 e os 19 anos está exposta a pelo menos um risco climático e ambiental, seja ondas de calor, ciclones, poluição do ar, inundações ou falta de água.

A incapacidade de evitar um aumento global da temperatura de apenas 1,5° celsius colocará a saúde desses jovens, e perspetivas de sobrevivência, em risco extremo, alerta a organização na COP26, acrescentando que os jovens não têm qualquer responsabilidade na emergência das alterações climáticas, “mas enfrentarão as suas consequências mais duras se o mundo não conseguir inverter rapidamente as tendências ascendentes”.

Num evento paralelo na COP26 organizado pela PMNCH e com o apoio de outras organizações, os participantes salientam a importância de incorporar o bem-estar dos adolescentes no programa de saúde da cimeira e nas políticas e programas nacionais de adaptação ao clima.

Citando dados oficiais, os organizadores da conferência setorial dizem que a atual população adolescente é a maior que o mundo alguma vez teve (16% do total mundial), e que mais de mil milhões de pessoas com menos de 18 anos vivem em países com risco muito elevado de alterações climáticas e por isso com a sobrevivência ameaçada.

Além de afetarem a saúde física das crianças e adolescentes, as alterações climáticas também aumentam o risco de lesões causadas por acontecimentos climáticos extremos, especialmente entre as mulheres, “frequentemente impedidas de aprender capacidades de sobrevivência, como nadar ou escalar”.

Depois, o aumento das temperaturas e pior qualidade do ar leva a maior incidência de asma, a doença crónica mais comum em pessoas com menos de 18 anos. E as alterações climáticas também levam a aumentos significativos dos níveis de ‘stress’, ansiedade e depressão dos jovens, podendo levar mesmo ao suicídio, a terceira principal causa de morte em jovens entre os 15 e os 19 anos.

No comunicado fala-se ainda do aumento de violência e conflitos devido aos choques económicos causados pela escassez de recursos naturais, ou da elevada proporção de jovens entre os deslocados no contexto de catástrofes provocadas pelas alterações climáticas (40% em 2019 tinham menos de 18 anos).

Mais de 120 líderes políticos e milhares de especialistas, ativistas e decisores públicos reúnem-se até 12 de novembro, em Glasgow, na Escócia, na 26.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26) para atualizar os contributos dos países para a redução das emissões de gases com efeito de estufa até 2030.

A COP26 decorre seis anos após o Acordo de Paris, que estabeleceu como meta limitar o aumento da temperatura média global do planeta a entre 1,5 e 2 graus celsius acima dos valores da época pré-industrial.

Apesar dos compromissos assumidos, as concentrações de gases com efeito de estufa atingiram níveis recorde em 2020, mesmo com a desaceleração económica provocada pela pandemia de covid-19, segundo a ONU, que estima que, ao atual ritmo de emissões, as temperaturas serão no final do século superiores em 2,7 ºC.