Diana Chaves, 40 anos e Maria João Cruz, 42 anos, lançaram o projeto YogaPro que tem por objetivo, criar uma plataforma de formação inicial e contínua para amantes e curiosos do Yoga e promover a profissionalização do ensino de Yoga em Portugal.
O YogaPro surge com a mais valia de disponibilizar Formação e Cursos para Professores, uma vez que no mercado existe uma oferta variada mas muito direcionada para praticantes.
Maria João, doutorada em Biologia e formadora de anatomia a fisiologia certificada pelo IEFP, dedicou vários anos à investigação científica na Faculdade de Ciências da UL. Praticante ativa de escalada e montanhismo durante vários anos, encontrou no Yoga um excelente complemento à prática desportiva, o que lhe permitiu corrigir desequilíbrios e aumentar a consciência corporal.
“A descoberta do Yoga trouxe-me foco, capacidade de introspeção e de auto conhecimento, passando rapidamente a ser central na minha vida”. A sua formação em anatomia e fisiologia e a paixão pelo desporto aliaram-se ao seu espírito curioso aguçado durante anos na investigação e levaram-na a explorar cada vez mais o Yoga e os seus processos.
Já Diana Chaves, licenciada em Antropologia Cultural e também formadora de Yoga pelo IEFP, trabalhou durante sete anos num banco comercial como assistente de cliente, até que o Yoga entrou na sua vida. “Foi amor à primeira vista. Sempre fiz desporto de forma muito intensa, mas também me dedicava à meditação regular desde os 19 anos”, explica.
O yoga parecia juntar as duas coisas: o exercício do corpo, o desafio de auto superação, bem como o “treino” da mente através da meditação e desenvolvimento da consciência. “A prática de Yoga acabou por me ajudar muito além daquilo que eu tinha consciência de que precisava, e é essa aprendizagem pessoal que trago para aquilo que ensino”. Conta com 10 anos de experiência em ensino de Yoga e cerca de 13 de prática pessoal. “Acredito na liberdade individual de pensamento e quero ajudar os meus alunos a terem uma prática segura e que cultive saúde, no corpo e na mente”.
Ambas descobriram que juntas podiam fazer muito mais pelo Yoga. Por isso, uniram competências e esforços para criar o YogaPro. Falámos com a Maria João e a Diana para saber mais sobre este projeto e o Yoga.
Como é que surgiu este projeto?
O projeto surgiu no seguimento de um email da Maria João em que ela propunha a possibilidade de uma parceria na formação de instrutores que eu (Diana) leciono. Achei que o conhecimento da Maria João nas áreas da anatomia, biomecânica, fisiologia seria um excelente contributo para o curso. Acabou por ser muito mais que isso. Descobrimos que além de gostarmos muito de trabalhar juntas, temos contributos muito complementares a dar aos nossos alunos. Se a Maria João tem um conhecimento vastíssimo do ponto de vista da Biologia e biomecânica e consegue transmiti-lo de forma muito clara e prática, eu tenho a experiência de muitos anos de ensino, muitos anos de prática e uma abordagem mais filosófica.
As nossas formações têm por base não só a nossa experiência e formações em Yoga, mas também o suporte das nossas formações académicas. Acreditamos que a ciência e a espiritualidade podem (e devem) andar de mãos dadas.
Com o tempo fomos percebendo que temos um contributo único e de qualidade a prestar à comunidade do Yoga em Portugal. Temos um curso de formação para quem quer ser instrutor ou aprofundar os seus conhecimentos desta prática de vida, mas também temos formações mais pequenas em assuntos específicos para professores e praticantes. As nossas formações têm por base não só a nossa experiência e formações em Yoga, mas também o suporte das nossas formações académicas. Acreditamos que a ciência e a espiritualidade podem (e devem) andar de mãos dadas.
Referem que é um projeto pioneiro em Portugal. Portanto, não há nenhuma oferta deste género no nosso País?
De facto, não existe. Há formações em Yoga de 200h ou mais, e há workshops. Especializações com caráter e critérios formativos mais pequenos não existem. Quando um professor quer aprender mais sobre um assunto, tem de fazer nova formação de 200h, o que é um enorme investimento financeiro e de tempo. Nós oferecemos a possibilidade de fazer um investimento financeiro menor, escolher a especialização que pretende, e ter certificação pelo mesmo. Mais, nós não seguimos nenhuma linhagem ou estilo específicos, aquilo que oferecemos é informação com base científica aplicada à prática de yoga, sem qualquer imposição filosófica/espiritual. Todas as linhagens são respeitadas e aceites pois, na nossa opinião, todas as visões são válidas e necessárias.
Como é que, na vossa opinião, a prática do Yoga é vista em Portugal?
A visão da prática de Yoga em Portugal está em mutação. A prática regular e os ensinamentos que lhe estão associados oferecem uma possibilidade de apaziguamento com a vida sendo a Paz Interior um objectivo. Os profissionais da medicina estão cada vez mais a recomendar a prática de Yoga pois há muitos estudos científicos que comprovam a sua eficácia no que diz respeito à respiração, gestão de stress, recuperação de mobilidade, recuperação de lesões, e ganho geral de qualidade de vida. Simultaneamente, ainda há a visão de que é muito parado e que única coisa que se faz é ficar sentado “a pensar na vida”. A quem partilha dessa ideia, eu faço o convite para fazerem uma aula connosco.
É uma profissão desvalorizada?
Diríamos que é uma profissão não valorizada. De facto, o mundo do yoga é tão vasto e abrangente como diverso. Isto é expectável de algo que subsiste há alguns milhares de anos dependente de tradição oral e transmissão direta entre professor/guru e aluno que, de repente, migrou para culturas ocidentais com valores muito diferentes. Acreditamos que o tempo, os estudos científicos e a formação rigorosa de profissionais responsáveis irão ajudar a valorização desta profissão.
Os profissionais da medicina estão cada vez mais a recomendar a prática de Yoga pois há muitos estudos científicos que comprovam a sua eficácia no que diz respeito à respiração, gestão de stress, recuperação de mobilidade, recuperação de lesões, e ganho geral de qualidade de vida.
O YogaPro está aberto a profissionais e praticantes. O que é que oferecem a ambos os públicos?
Aos profissionais oferecemos a possibilidade de especialização ou aprofundamento de assuntos que sintam necessidade e ou interesse com caráter formativo, obedecendo aos critérios nacionais de formação por parte do IEFP e DGERT, com a exigência de um aproveitamento positivo dos conteúdos lecionados para obtenção de certificação. Aos praticantes oferecemos a possibilidade de aprender mais sobre a prática de yoga e sobre si mesmos. Um ponto de extrema importância para nós é a atenção ao indivíduo. Os nossos cursos têm um número máximo de alunos baixo por forma a garantir que cada um tem a nossa atenção e que terminam com um melhor conhecimento do seu corpo e sabendo como adaptar a prática a si, e se for o caso, a cada aluno. Queremos que a prática seja segura e promova saúde, a todos.
Também vão às empresas. Como tem sido a recetividade e quais os maiores benefícios que os trabalhadores podem retirar do yoga?
A recetividade é muito boa. Normalmente quem vem, ou já praticava ou conhece alguém que recomendou. Procuram um momento de pausa, de movimento, ou até de reset para o fim de semana ou fim do dia. Se entram stressados e preocupados, saem bem dispostos e serenos. Um dos locais em que damos aulas de yoga é numa empresa de formação em código (para a criação de aplicações para telemóveis ou mesmo websites) e os benefícios para os formandos é imenso porque a natureza do seu estudo é tão mental, que uma hora de prática dá-lhes um sopro de ar fresco à mente e torna-os muito mais produtivos e criativos. Outro local é nos serviços centrais de um Banco, e os alunos contam que quando saem da aula de sexta feira à noite, vão já com a cabeça em modo “fim de semana”, deixam o trabalho no trabalho, e gozam muito mais o seu tempo livre. Diria que os benefícios são transversais à Vida dos praticantes, pois permeiam a vida laboral e familiar.
O yoga não faz só bem à mente como ao corpo. É uma modalidade para todos?
No que diz respeito ao Ser Humano, é difícil generalizar, por isso preferimos dizer que à partida sim. Qualquer exercício físico acarreta alguns riscos nomeadamente quando não é desenvolvido de forma correta, neste caso, as permanências em posturas podem, quando incorretamente realizadas, trazer danos ao nível articular com o decorrer do tempo. É importante garantir que tudo está a ser realizado de forma segura e com os músculos a trabalhar e que não há contra-indicações médicas à prática. Pode dar-se o caso de lesões ou patologias mais graves que necessitem de atenção individual e especializada para gerar beneficio e não agravamento da doença, para essas situações o recomendável seriam aulas privadas. Daqui a necessidade de profissionais com bons conhecimentos de base relativamente à anatomia e biomecânica. Para todos os efeitos, o que se pretende é que cada vez mais pessoas possam sentir-se bem, sejam saudáveis e encontrem aquilo que as faz sentir bem. Se for através do Yoga ficamos feliz por poder ajudar.
Comentários