Os tardígrados, também conhecidos como “ursos-de-água”, são criaturas microscópicas que ganham em robustez o que perdem em dimensão. Descritos pela primeira vez no século XVIII, estes animais com perto de 0,5 mm, têm um curto ciclo de vida. Contudo, apresentam um recurso de sobrevivência que consiste na dormência completa. Ao se encolherem e desidratarem, os minúsculos tardígrados desligam todos os seus sistemas e processos biológicos. Neste estado, podem sobreviver por períodos de até dez anos. Acresce que o “urso-de-água” suporta condições extremas de temperaturas, até 151 ºC, durante alguns minutos e, no extremo oposto, resiste à descida da temperatura a mais de -200 ºC. Uma capacidade de resistência capaz de fazer face ao espaço sideral e que foi posta à prova a 11 de abril de 2019. Naquela data, a sonda lunar israelita Beresheet fez história. Tornou-se o primeiro módulo de pouso privado a tentar alcançar a superfície lunar. Não obstante o objetivo fosse uma alunagem suave, problemas técnicos resultaram num impacto descontrolado a mais de 3.000 km/h.
A bordo da nave, além de toda a parafernália de equipamentos científicos, viajavam os tardígrados. No caso da Beresheet, os tardígrados rumavam à Lua desidratados e armazenados em placas de níquel, desenhadas para sobreviverem milhões de anos. O projeto lunar era uma parte da investigação da Arch Mission Foundation, entidade que procurava criar uma “arca do conhecimento” para preservar amostras biológicas e informações humanas no espaço.
Após o impacto da sonda lunar, levantou-se a especulação: os tardígrados poderiam ter sobrevivido ao impacto e às condições na superfície da Lua? Estudos em laboratório posteriores indicaram que os tardígrados podem resistir a impactos de alta velocidade — até cerca de 3.000 km/h — como demonstrado, em 2021, por investigadores da londrina Universidade Queen Mary. No entanto, a pressão gerada pelo impacto metálico da Beresheet provavelmente excedeu os limites conhecidos de sobrevivência dos tardígrados, atingindo níveis acima de 1,14 GPa, o que reduz consideravelmente as hipóteses de sobrevivência.
Acresce a impossibilidade de estes organismos se reativarem na Lua devido à ausência de água líquida. O grupo de criaturas microscópicas teria de ser encontrada no seio dos destroços da sona lunar e trazida para a Terra.
O episódio de 2019, alertou para uma questão premente, a presença de material biológico num ambiente extraterrestre. O debate esbarra nos princípios de preservação planetária, que recomendam evitar a introdução de organismos terrestres noutros corpos celestes de forma a evitar a interferência em possíveis estudos sobre vida extraterrestre.
É importante notar que o Tratado do Espaço Exterior de 1967 regula as atividades espaciais, mas não possui diretrizes claras sobre a contaminação biológica. Enquanto as grandes agências espaciais seguem protocolos rigorosos de esterilização, missões privadas como a Beresheet não estão vinculadas às mesmas exigências, abrindo espaço para lacunas legais.
Comentários