À Hydnora africana está-lhe reservada uma existência quase inteiramente subterrânea, emergindo apenas para florescer. Momento para atrair insetos polinizadores graças ao odor fétido emanado, semelhante a carne em decomposição. Esta é uma planta que pertence à família Hydnoraceae, uma pequena e especializada família de plantas parasitas encontradas, em regiões do sul de África (como por exemplo, nos desertos da Namíbia), mas também na península Arábica. No século XVIII, Carl Peter Thunberg, botânico sueco discípulo de Carl Linnaeus, descreveu formalmente a planta, após a expedição que empreendeu ao Cabo da Boa Esperança. Na época, a planta era vista como uma anomalia botânica, dado desafiar as convenções. Ao invés das plantas que dependem da fotossíntese, a Hydnora africana é completamente desprovida de clorofila, a substância que confere às plantas o tom verde e permite a conversão da luz solar em energia. Esta planta cumpre uma existência parasitária, pois depende inteiramente de outras plantas para obter nutrientes e sobreviver.
Uma vida parasitária
Um complexo sistema de raízes subterrâneas, conhecidas como haustórios, compõe quase por inteiro a estrutura da Hydnora africana. Raízes que se fixam às raízes das plantas hospedeiras, entre elas, membros das famílias Euphorbiaceae e Fabaceae . As raízes parasitárias estão especialmente adaptadas para penetrar nos tecidos das raízes do hospedeiro, absorvendo água e nutrientes necessários para o desenvolvimento da planta parasita.
Além de seu parasitismo, a Hydnora africana desenvolveu outras singularidades que lhe permitem lidar com os desafios dos ambientes extremos onde se desenvolve. A sua vida subterrânea protege-a das temperaturas elevadas e da desidratação, comuns nos desertos e savanas onde a encontramos.
Uma flor com um odor decadente
A parte mais visível da Hydnora africana é a sua flor, a única parte da planta que emerge do solo, a exibir uma aparência robusta, carnosa e tubular. Na cor, varia do castanho ao laranja avermelhado, dependendo da fase de desenvolvimento. Esta flor não se assemelha às flores convencionais; em vez de pétalas delicadas e coloridas, possui estruturas rígidas e carnudas que se abrem em três a quatro lóbulos, revelando uma cavidade interna. A superfície interna da flor é coberta por uma textura semelhante a escamas, o que lhe confere um aspeto alienígena, como que saída da criatividade de um autor de ficção científica.
Polinização: um caso peculiar
Uma dimensão intrigante da Hydnora africana prende-se à sua estratégia de polinização. A planta depende de besouros atraídos pelo cheiro fétido da flor. Este odor, muitas vezes descrito como semelhante ao de carne em decomposição, serve de estratégia para enganar os insetos, fazendo-os acreditar que a flor é uma fonte de alimento ou um local adequado para a deposição de ovos.
Ao entrar na cavidade da flor, o besouro fica temporariamente preso. Enquanto cativo, o besouro entra em contacto com as anteras e o estigma da flor, cobrindo-se de pólen. Após algum tempo, a flor relaxa a sua estrutura, o que permite ao besouro escapar e carregar o pólen para outras flores de Hydnora africana, o que facilita a polinização cruzada.
Um papel complexo no ecossistema
Embora a Hydnora africana seja uma parasita, esta planta desempenha um papel complexo no ecossistema. Trata-se de um exemplo de coevolução, dado a sua sobrevivência e reprodução estarem intimamente ligadas à presença de plantas hospedeiras e polinizadores específicos.
Acresce que a Hydnora africana também interage com a fauna local. O seu fruto, que se desenvolve subterraneamente, é comestível e atrai animais como porcos-espinhos e roedores. Animais que vão ajudar à dispersão das sementes, espalhando-as pelo ambiente. Este comportamento assegura a continuidade da espécie.
A singular planta também tem um lugar na cultura e na medicina tradicional africana. Partes da planta são usadas por algumas comunidades locais, crendo existir nas propriedades deste ser qualidades medicinais, nomeadamente o tratamento da disenteria, de doenças venéreas e até como um remédio para mordidas de cobra.
O fruto, rico em fibras e nutrientes, tem um sabor doce prestando-se ao consumo no seio de algumas comunidades nativas, especialmente durante períodos de escassez de alimentos.
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