Embora tenha conhecimento que o preconceito vem sob variadíssimas formas, ser do género feminino e sobrelevar na pele o preconceito por o ser foi execrável. Acredito, perfeitamente, que o género masculino também se depare com situações semelhantes, mas perdoem-me os camaradas, a incidência no nosso caso é muito superior, afirmam vários dados.

Foram diversas as entrevistas, respostas a envio de currículos, tais como, “procuramos homens e não mulheres para determinados postos”; “não temos postos para mulheres”; “postos para mulheres?”. Fui tratada como incapaz e insuficiente, inúmeras vezes, sem que me fosse facultada uma única oportunidade.

“Vais para aquele posto porque és mulher”. Este tipo de discurso nos mais variados postos e funções era uma constante. Numa empresa onde éramos tratados pelo último nome, não fui colocada na portaria principal porque era propício, na maioria das vezes, a subversão, logo teria de estar um vigilante do género masculino na linha da frente.

Não teria sido possível a minha permanência nesta profissão sem a orientação do meu mentor que me ensinou e conduz até aos dias de hoje. A este a minha eterna gratidão.

A estes pontos, acresce o facto de ter sentido na pele o tão famigerado assédio sexual por parte de colegas, do género masculino, sendo um deles o meu supervisor, na altura.

Infelizmente, este tipo de situação lamentável não se cinge ao setor da segurança e, segundo o que pude verificar nas histórias partilhadas com outras camaradas, é indistinto. Infelizmente, o apoio a mim e às minhas colegas, por parte das empresas, foi parco para não dizer nulo, nos casos de assédio sexual, denúncias por chantagem e tratamento desadequado. Aqui, urge a mudança de mentalidades, não só neste setor, como na sociedade em geral.

Tendo conseguido subir a pulso, após encontrar um local de trabalho onde não olham a géneros, e através do apoio de um supervisor ao qual devo muito, liderar uma equipa, especialmente num hospital, foi das tarefas mais desafiadoras com que me deparei até aos dias de hoje neste setor e continua a ser.

Por várias razões, trata-se de um posto propício a conflito, uma vez que recebe pessoas na sua maioria das vezes em grande stresse ou prostração, são muitos postos, muitos vigilantes por cada turno, que precisam de uma liderança assertiva e coesa.

Um dos meus desejos para o próximo ano seria verificar uma aposta, por parte das empresas, na formação de gestão de conflitos em postos específicos, pois cada cliente é um cliente.

Este feito seria, sem sombra de dúvida, uma mais-valia para todos, quer para a imagem da empresa, como para o próprio cliente. Iria traduzir-se, garantidamente, em menos processos jurídicos, altercações e até idas à urgência por agressão. Sim, isto acontece.

É, sem sombra de dúvida, um óbice, muitas vezes, ensinar de raiz o que deveria ter sido ministrado em formação a certos vigilantes, sejam estes homens ou mulheres. Sendo mulher, muitas vezes, são bastantes as reticências por parte destes.

Ouvi comentários tais como, “você sabe quantos anos de vigilância tenho?”; quando era “um” colega a fazer este tipo de abordagem, era ouvido e tido em conta.

Os predicados na contratação de um vigilante, numa primeira triagem é, muitas vezes, ineficiente e irá traduzir-se numa prestação desprimorosa ao cliente, em possíveis situações de conflito com os restantes camaradas e público. No meu parecer, faz sentido retroceder no tempo quando em 1987, por exemplo, procediam a testes físicos e psicotécnicos para uma consentânea contratação, facto levado a cabo por determinadas empresas.

Caso nestas não fosse possível, os próprios centros de formação teriam esta responsabilidade. O parco cuidado do ingresso na vigilância feito em massa nos últimos anos que se deveu a vários fatores, originou o estado atual do setor. Nem todos deviam ser detentores do cartão do Ministério da Administração Interna, sejam estes de que género forem.

Muitas são as situações em que a presença feminina permite uma melhor gestão de conflitos e o sanar dos mesmos, quando, inclusive, tantas outras vezes, é a presença masculina que instiga essas mesmas altercações.

Em momento algum, afirmo que a vigilância se faria composta somente por mulheres, é precisamente o contrário, é na presença de ambos os sexos que se granjeia o equilíbrio e uma forma coesa, tanto na presença, como na atuação da vigilância a operar no local.

Sou a favor da igualdade de género, na sua generalidade e magnitude, sendo esta unânime, justa e coesa. Abraçando, acolhendo a sua pluralidade nas qualidades de cada género complementando-se assim entre si.

Texto: Vanessa Costa, Chefe de equipa de segurança na COPS