À medida que os últimos dias de dezembro se desenrolam, é difícil não olharmos para trás e refletirmos sobre as conquistas e os desafios que ultrapassámos este ano. Há uma nostalgia que nos invade, sorrateira, deixando-nos com uma sensação estranha que oscila entre a tristeza e a gratidão.

Essa nostalgia manifesta-se nas tradições de fim de ano. A decoração festiva, as músicas sazonais e as refeições confecionadas com amor servem como uma espécie de portal do tempo, transportando-nos a momentos passados com os nossos entes queridos. A árvore de Natal torna-se mais do que uma simples decoração; é um registo visual de memórias acumuladas. As músicas que embalam as festividades carregam consigo o eco das celebrações passadas, conectando-nos a sentimentos e emoções que transcendem o tempo. Sentimos a falta dos que já partiram e também dos que estão vivos, mas não podem estar presentes.

O coração encolhe ao vermos algumas cadeiras vazias e sentimos uma vontade de chorar pelo que ainda temos. Sentimos que o tempo nos escapa por entre nossos dedos e que cada ano que termina deixa para trás uma parte de nós. Para os mais velhos, pode representar um lembrete desagradável e triste de que lhes foi subtraído mais um ano aos que ainda lhes restam de vida.

A nostalgia de fim de ano também está ligada ao ciclo sazonal da natureza. Enquanto o ano chega ao fim, a natureza entra num período de repouso. As folhas já caíram das árvores, os dias tornam-se mais curtos e o frio instala-se. Essa transição na natureza ecoa os nossos próprios ciclos de vida, lembrando-nos da inevitabilidade da mudança e da importância de apreciar cada estação.

Há quem desaprecie a temporada festiva e passe os dias debaixo dos cobertores, enquanto assiste a filmes ou reflete sobre a sua própria vida. No entanto, a nostalgia de fim de ano não é apenas sobre olhar para trás; também é sobre olhar para frente. O ano novo que se inicia traz consigo a promessa de novas oportunidades, novos começos e novas aventuras. À medida que nos despedimos do ano que passou, abrimos as portas para o desconhecido, ansiosos pelo que o futuro reserva.

Nesse período de reflexão e melancolia, também surge a gratidão. Agradecemos pelas experiências que moldaram o nosso caminho, pelas amizades que enriqueceram as nossas vidas e pelas lições que nos tornaram mais fortes. A gratidão é a âncora que nos conecta ao presente, lembrando-nos de apreciar os momentos simples e valiosos que compõem a vida cotidiana.

Lidar com a nostalgia de final de ano pode ser desafiador, pois envolve uma mistura de sentimentos, reflexões, expectativas e recordações. Deixo-lhe possíveis estratégias para ajudar a lidar com essa nostalgia temporária e contextual:

1. Agradeça pelo que tem

Cultivar a gratidão pode ser uma maneira eficaz de lidar com a nostalgia. Concentre-se nas coisas positivas que aconteceram durante o ano, nas conquistas alcançadas e nas boas lembranças. Escrever um diário de gratidão pode ser uma prática valiosa para destacar os aspetos positivos da sua vida.

2. Conecte-se com pessoas queridas

A nostalgia está relacionada a sentimentos de conexão e pertença. Aproveite o tempo para se reconectar com amigos e familiares. Compartilhe as suas experiências, ouça as deles e fortaleça esses laços importantes.

3. Crie novas tradições

Em vez de se apegar rigidamente às tradições do passado, esteja disposto(a) a criar novas. Isso não significa esquecer as tradições antigas, mas adaptar-se e incorporar elementos novos que tragam alegria e significado.

4. Estabeleça novas metas

O final do ano é um momento propício para definir novas metas e objetivos para o futuro. Concentre-se em aspirações e planos, transformando a nostalgia numa oportunidade de crescimento a todos os níveis.

5. Aceite as mudanças

A vida é dinâmica e as mudanças fazem parte do processo. Aceitar que o tempo traz transformações pode ajudar a reduzir a sensação de perda. Esteja aberto(a) a novas experiências e ajuste a suas expectativas sempre que necessário.

6. Pratique o mindfulness

A prática da atenção plena pode ajudar a ancorá-lo(a) no presente, reduzindo a tendência de se perder em pensamentos nostálgicos, mantendo o equilíbrio emocional.

7. Procure ajuda profissional

Se a nostalgia está a causar-lhe dificuldades significativas, procure apoio. Um profissional de saúde mental pode ajudá-lo(a) a explorar esses sentimentos e fornecer estratégias específicas para lidar com eles.

Lidar com a nostalgia de final de ano é um processo individual e diferentes estratégias funcionam para diferentes pessoas. A chave é abraçar a complexidade desses sentimentos, permitindo-se sentir, ao mesmo tempo que cultiva uma perspetiva positiva em relação ao presente e ao futuro.

Um artigo da psicóloga clínica Laura Alho, da MIND - Psicologia Clínica e Forense.