E quando se torna difícil, sentimos que as nossas conquistas e o nosso sucesso derivaram da sorte, de termos estado no local certo, à hora certa e geramos em nós a ilusão de inferioridade, de que no limite não merecemos tudo aquilo que de bom que estamos a conseguir conquistar.

Este é o chamado Síndrome do Impostor, caracterizado essencialmente pela sensação de que somos uma fraude e que apesar de, para os outros, transparecer que sabemos ou conseguimos, nós acreditamos que somos incompetentes e insuficientes.

E, nesta sequência, quando nos deixamos emaranhar pelo Síndrome do Impostor, sempre que tentamos criar, sempre que temos à nossa frente uma possibilidade de evoluir, de nos mostrarmos ao mundo, acabamos por nos sabotar, por colocar travões ao nosso próprio sucesso e ao nosso desenvolvimento.

E tudo isto é vivido com muita angústia, porque se por um lado os nossos resultados nos mostram que estamos a ser capazes, por outro lado o nosso interior diz-nos que não estamos a ser capazes, nem somos suficientes. Assim, os níveis de angústia aumentam e temos a sensação de que, a qualquer momento, todos se vão deparar com a nossa incapacidade e inferioridade e, a partir daí, nós próprios começamos a bloquear e a ter hiatos de criatividade, de performance e de sucesso.

Minimizar o sucesso

Quando estamos enredados no Síndrome do Impostor, tendemos sempre a minimizar o nosso sucesso. A forma mais visível de o fazermos é, por exemplo, quando alguém elogia uma performance nossa e nós rapidamente respondermos com um “podia ter sido melhor” ou “apesar disso, falhei neste parâmetro” e, assim, ao invés de aceitarmos e ficarmos gratos pelo elogio, mostramos imediatamente que não somos assim tão bons e tão capazes. Esta é uma boa forma de intimamente nos protegermos do momento em que a nossa fraude se desmascarar.

O Síndrome do Impostor aparece em primeiro lugar como um mecanismo de defesa que nos protege de eventuais fracassos e como reflexo da nossa insegurança interna e vai-se consolidando e expressando cada vez mais à medida que nos vamos comparando com os outros e ficando sempre com a ideia de que os outros são melhores do que nós, fazem mais rápido e mais eficientemente as tarefas. Assim, todos os outros parecem ter um brilho verdadeiro que os torna capazes e nós sentimos que o nosso brilho interno é como uma vela e, mais tarde ou mais cedo, vai acabar por apagar-se.

Para nos libertarmos do Síndrome do Impostor devemos começar por:

  • Integrar o sucesso e o fracasso - independentemente de um dia podermos fracassar, isso não vai apagar todos os nossos sucessos. Todos nós temos lados frágeis e, por vezes, menos eficientes, mas é isso que nos torna únicos e humanos! Por isso, é essencial aceitar que um dia podemos fracassar, como todos à nossa volta podem fracassar.
  • Sentirmo-nos gratos pelo sucesso - o nosso sucesso é resultado do nosso mérito, da nossa perspicácia e da nossa capacidade. Por isso, é essencial aceitarmos os elogios externos e permitimo-nos a estar gratos por, neste momento, estarmos a dar o melhor de nós e a sermos capazes.
  • Fazer uma análise externa de nós próprios e do nosso valor - olharmos para as nossas conquistas, sucessos e qualidades como se estivéssemos fora de nós, analisando e percebendo o nosso verdadeiro valor.
  • Trabalhar a segurança interna - o mais importante é olhar para a raiz do Síndrome do Impostor, a nossa segurança interna e sermos capazes de a reforçar. Ou seja, pensarmos porque será que não nos sentimos suficientes? De onde vem esse sentimento? E desenvolvermo-nos emocionalmente no sentido de inverter estes sentimentos.

Lembremo-nos assim que o mais importante é confiarmos em nós, sem nunca nos esquecermos que a perfeição, essa sim, é uma ilusão. Cada um de nós tem as suas próprias potencialidades e fragilidades, neste contexto, sempre que praticamos a autosabotagem connosco próprios estamos a impedir-nos de crescer e de brilhar e, isso, não só não nos traz bem-estar, como condicionará a nossa performance e o nosso futuro.

Um artigo das psicólogas clínicas Cátia Lopo e Sara Almeida, da Escola do Sentir.