As pessoas que ingerem grandes quantidades de carne correm maiores riscos de poderem vir a sofrer de doenças cardiovasculares e de cancro futuramente. O alerta é dado pelos autores de um novo estudo, divulgado pela publicação especializada JAMA Internal Medicine. Depois de acompanharem uma amostra de voluntários durante três décadas, os investigadores concluíram que os que comeram mais carne corriam maiores perigos do que os que preferiram comer peixe.

Na opinião dos três especialistas que reviram seis estudos científicos que envolveram 29.682 pessoas, a carne vermelha e a carne processada, incluindo a das aves, são as mais perigosas para a saúde. Linda Van Horn, uma das autoras do trabalho, integra a comissão consultora que está a colaborar com as autoridades federais norte-americanas no desenvolvimento de novas linhas de orientação para combater o consumo excessivo desta carne nos Estados Unidos da América.

E se (quase) não comesse carne?
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Em Inglaterra, um dos países onde, à semelhança de Portugal, se ingere mais carne vermelha e carnes processadas, a questão também tem estado em cima da mesa. "A carne pode ser o novo tabaco, com proibições públicas, taxas elevadas e avisos de saúde", vaticina mesmo a cronista Lottie Winter. "Não faltam estudos que sugerem que a ingestão de carne vermelha tem consequências nocivas para a saúde, com ligações ao cancro, à tensão alta e a doenças cardiovasculares. A NHS [organização nacional de saúde do Reino Unido] não aconselha mais de 70 gramas por dia, o equivalente a três fatias finas de fiambre", refere.

Ao contrário de um estudo, divulgado pela publicação especializada Annals of Internal Medicine em setembro do ano passado, que desvaloriza as consequências nocivas para a saúde do consumo excessivo deste alimento, a maioria das investigações continua a apontar o dedo à carne. O risco é comparável ao do tabaco e foi apurado num estudo realizado ao longo de duas décadas por uma equipa da Universidade da Califórnia do Sul, nos Estados Unidos da América.

Segundo os investigadores, uma alimentação rica em proteína e gordura animal a partir dos 40 anos aumenta quatro vezes o risco de se vir a morrer de cancro, ao contrário do que sucede com quem adota uma dieta pobre em proteínas. Os cientistas que realizaram a pesquisa concluíram que o consumo excessivo de proteína animal nessa fase está também associado a uma probabilidade 74% maior de se morrer devido a outras patologias, como a diabetes.

Além disso, segundo o mesmo estudo, as proteínas vegetais, como o feijão e o grão, ao contrário das animais incluídas na carne e nos laticínios, não parecem acarretar o mesmo risco. Porém, a partir dos 65 anos, uma dieta rica em proteína tem, todavia, um efeito protetor, uma vez que ajuda a controlar a hormona do crescimento. A sua produção diminui drasticamente nesta idade e essa ingestão, nessa fase, impede a perda muscular e reforça as defesas do organismo.