Duas coisas seriam de esperar de uma crónica relativa a Saturno, o senhor do Tempo:

a primeira é que fosse bem estruturada e organizada e que antes de ser publicada fosse sujeita a várias revisões até que chegasse perto da perfeição técnica. Ora, excluindo a última parte, a da perfeição, o restante foi devidamente observado e realizado;

a segunda seria que tivesse um tom oficial e protocolar, excluísse adjectivos ou qualquer outro enfeite desnecessário de forma a ficar parecida com um relatório instituticional. E quanto a esta… bem… como iniciar oficial e protocolarmente uma crónica que tem início com o herói da estória a mutilar o pai? E como se não bastasse cometeu este acto munido de uma foice que lhe foi dada pela própria mãe. Acham possível? Eu não fui capaz…

E o que me fez sorrir e abandonar o devido tom sério e carrancudo que tanto agradaria a Saturno, é que ele foi avisado que um dos seus filhos o derrotaria retirando-lhe o poder. Pois é meu querido Saturno, a seu tempo, (a teu tempo) tudo o que se faz acaba por se pagar.

A verdade, é que, mais tarde, Réia, a esposa deste herói, cansada de perder todos os seus filhos por causa do medo de perder o pelouro de senhor do Olimpo que assombrava o seu esposo, engendrou aquele plano fantástico de lhe dar uma pedra embrulhada em panos, fazendo-o crer que era Júpiter, o seu último filho. E assim se cumpriu o ditado, que sendo actual já devia ter correspondente na antiguidade: quem com ferros mata, com ferros morre. Pensando que a pedra era seu filho, acabou por deixar viver aquele que acabaria por lhe usurpar o tão amado poder. Aquele poder que ele já havia usurpado a seu pai, Úrano.

A bem da verdade importa referir que Úrano tinha o seu mau feitio e que aquela coisa de não gostar dos seus filhos, mais um vez por receio de ser destronado por quem ele próprio criara, não era muito bonita. E tê-los todos presos no interior de Gaia, a sua mulher, (que por acaso também era sua mãe), não lhe serviria de atenuante caso fosse um comum mortal apresentado à justiça divina.
E parece que são sempre as Deusas, levadas pelo seu amor de mãe, (coisa que parece tão forte quando se trata de deusas como de mortais), que conduzem os seus próprios filhos à revolta numa tentativa de reinstalar a justiça. Desta vez, foi Gaia, a mãe de Saturno que lhe entregou uma foice, fabricada com o aço que retirou do seu próprio corpo, para que castrasse o seu pai acabando assim com aquela inconveniente situação. Como é evidente, o jogo do poder estava directamente relacionado com a questão da testosterona… e assim sendo, Rei castrado, Rei posto!

E iniciou-se então o reinado olímpico de Saturno.
Poucas referências se encontram sobre o mesmo e, desta vez, nenhuma referência a casos extra conjugais, tão habituais nestas crónicas, o que diminui bastante o interesse desta peça. Por vezes, é-lhe atribuída a fundação de Roma e, de resto, parece ter-se tratado de uma época tranquila e sem grandes convulsões.
Acabaria por ser destronado do Olimpo pelo seu próprio filho, como ele próprio fizera com o seu próprio pai. Saturno refugiou-se no Lácio onde liderou uma idade de ouro e ensinou aos homens a agricultura e formou outra família. Do mal o menos, da tragédia do poder perdido, partiu para a criação de coisas bem mais positivas. Deu a volta por cima, como podemos ver.

E além desta estória, que mais podem saber sobre este Senhor para quem a paciência e o tempo são essenciais? Que a sua posição em cada mapa astrológico vos indicará, (e já sabem que podem e devem consultar um especialista na área), em que tipo de experiências e em que áreas de vida vos será exigido maior esforço e perseverança. E em quais serão chamados a aceitar limites e estruturas.
Por onde ele andar, (e fiquem sabendo que ele anda, por esta altura, pelo signo de Balança), é por onde será necessário demonstrar maior cuidados nas vossas escolhas a fazer.

Por isso, não se admirem se sentirem que na área associada a Balança, ou seja, nos relacionamentos, mais do que nunca importa estruturar muito bem tudo o que se decide, repensando as situações e agindo com cautela e visão de longo prazo. Saturno gosta de ver tudo muito bem feitinho, nem que para isso seja preciso esperar.

Se ficaram com uma ideia razoável do temperamento do senhor dos relógios, perdão, do tempo, também podem fazer uma leitura semelhante para o signo de Capricórnio porque é este o seu reino. Ou seja, as pessoas de Capricórnio identificam-se com estas características de Saturno: Cautela, estruturação, fundamentação (a procura dos fundamentos).

Carmen Ferreira
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