No decorrer do tempo, a intervenção humana tem vindo a colocar em risco os limites da paisagem. Na atualidade, deparamo-nos com problemas de ordem diversa, que têm vindo a ser amplamente noticiados. A instabilidade ambiental oriunda das alterações climáticas, tal como sucede com a escassez de recursos, são temas imprescindíveis para futuras intervenções. Assim sendo, ordenar o território de modo coerente passa por construir espaços verdes menos prejudiciais.
Neste contexto, a vegetação autóctone assume um papel essencial na conservação e na valorização dos elementos da paisagem e da sua identidade, permitindo criar jardins modernos, mas sobretudo sustentáveis. Hoje em dia, o modo de vida da população reflete agitação, stresse e, sobretudo, falta de tempo para a manutenção do jardim. Perante este cenário, a utilização do material vegetal nativo é uma opção viável, dado permitir criar espaços conectados à paisagem.
E, sobretudo, de baixa manutenção. Na conceção do jardim, o desafio passa por utilizar plantas autóctones em projeto, de maneira a originar um novo traçado, forma e desenho de jardim moderno. No entanto, existem pontos a melhorar na realidade das plantas autóctones. Verdade seja dita, apesar da preocupação com os valores ambientais, é fundamental a consciencialização social para a importância destas plantas. De modo geral, a sua comercialização ainda é reduzida em território nacional, limitando a escolha por parte dos profissionais que já despertaram para elas e que até teriam interesse em usá-las nos projetos que desenvolvem.
A adesão a estas plantas é, numa conjuntura como a dos tempos que correm, um exercício que ainda levará o seu tempo e que está, intrinsecamente, relacionado com o equilíbrio de todo o ecossistema, uma prioridade constante. Os profissionais que melhor as conhecem desempenham, assim, um papel crucial na sensibilização para a utilização destas espécies. Uma opção ambiental que tem forçosamente reflexos na qualidade de vida dos que venham a frententar estes espaços.
Os paradigmas que vão determinar os jardins do futuro
A introdução constante de espécies exóticas no território vai transformando, de forma progressiva e irreversível, a nossa paisagem. Por isso, é importante questionarmo-nos sobre quais serão os jardins do futuro. Utilizar plantas autóctones em projetos paisagísticos é conciliar a inovação com a sustentabilidade. E isto é o futuro! Estas plantas apresentam características particulares, adaptadas às condições edafoclimáticas da região. E são, ainda, de baixa manutenção.
Também não implicam um grande consumo de água e ainda são pouco suscetíveis a pragas e doenças, o que reduz a utilização de pesticidas, tornando o jardim resiliente. Identifique as espécies autóctones presentes na sua região, saiba quais as espécies disponíveis em loja, nos viveiro e nos hortos, em semente ou prontas a (trans)plantar. Se necessário, informe-se com os funcionários dessses espaços. Proceda à estruturação do jardim, incorporando-lhe esses elementos.
Algumas das variedades botânicas a que pode recorrer
São vários os centros especializados que disponibilizam uma panóplia de sementes de espécies autóctones que ajudará na conceção do seu espaço verde, incluindo o Arbutus unedo, a Ceratonia síliqua, a Cinenaria marítima, a Cytisus racemosus, a Chamaerops humilis, a Helichrysum stoechas, a Lavandula stoechas, a Mentha aquatica, a Mentha pulegium, a Oleae europaea, a Pistacia lentiscus, a Quercus suber, a Rosmarinus officinalis, a Salvia officinalis e a Thymus vulgaris.
Assim, numa só visita, pode adquirir as plantas e as sementes necessárias para (re)formular o seu jardim. Outras das sementes autóctones disponíveis em empresas como a Viplant e a Sementes de Portugal são a Cynara cardundulus, a Convolvulus tricolor, a Echinops strigosus, a Gladiolus italicum, a Iris xiphium, a Papaver rhoeas, a Phlomis purpúrea, a Scilla peruviana e a Verbascum thapsus. Muitas destas variedades botânicas também podem ser adquiridas online.
Texto: Joana Silveira (arquiteta paisagista)
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