Quando um país tem como pano de fundo um verde inigualável e como cenário, cascatas, lagoas, montanhas, campos de arroz e rios, é impossível ficar indiferente. E se, juntarmos a isso, um povo de sorriso fácil e muito generoso, bem como uma gastronomia repleta de sabores, não há como não ficar preso para sempre e sem vontade de regressar a casa. Comigo foi assim e consigo, quase que aposto, que irá acontecer o mesmo. Por isso, prepare-se…
De um verde intenso, cortado pelo azulado das lagoas e pelo branco de cascatas e temperado com muitos sorrisos de um povo hospitaleiro, o Laos é um país cativante. Vive entre a fé de Luang Prabang, a aventura de Vang Vieng e a descontração de Vientiane, sempre serpentado pelo fascinante rio Mekong.
O charme de Luang Prabang
A capital espiritual do Laos foi o ponto de partida de uma viagem inesquecível e, não houve amor como o primeiro, a tal ponto que regressar a Luang Prabang tornou-se obrigatório mesmo antes do inicialmente planeado. Mas é melhor começar do início. Era uma vez uma montanha no meio de uma cidade e, lá em cima, dizia-se, via-se o melhor nascer e pôr do sol da cidade. Foi com isto em mente, que mal cheguei a Luang Prabang, decidi comprovar o segundo.
Subi o monte sagrado, o monte Phousi, que é também uma stupa budista. Lá em cima, vê-se toda a cidade e a envolvência natural da qual faz parte o fascinante rio Mekong. É atrás dele que se põe o astro-rei, um cenário arrepiante de tão belo que é. De lá, avista-se também o seu irmão, o rio Nam Khan. Não havia volta a dar. Nesse momento, o Laos entranhou-se. Fiquei ali até escurecer, sem pressa, algo que seria comum a toda a viagem.
O Laos é para visitar num ritmo lento e para aproveitar todos os momentos, até porque as deslocações entre as cidades são demoradas e corre-se do risco dos autocarros ou dos pequenos autocarros que as ligam não aparecerem mas, no fim, tudo se resolve. Sem viagem nunca fiquei, mesmo que isso significasse partir várias horas depois do previsto. Património Mundial da UNESCO desde 1995, Luang Prabang está repleta de templos budistas habitados por monges.
O mais provável é encontrá-los embrenhados nas suas tarefas quotidianas ou em plena celebração, encantando quem por lá passa com os seus cânticos. A cidade também surpreende pelas casas de estilo colonial e vive literalmente entre os dois rios que a atravessam. Tudo acontece na rua Sisavangvong e na rua Sakkaline. De dia, aconselho a ida ao palácio real da cidade, mas é ao pôr do sol que estas duas ruas, ligadas entre si, ganham vida e o borburinho típico do mercado noturno, onde é possível comprar artesanato local, incluindo os típicos lenços laosianos. Se se deixar tentar, escolha os que têm o selo feito à mão no Laos. A regra é regatear com os comerciantes. Sempre.
Onde acaba o mercado, começam os restaurantes, todos eles com esplanadas. Eu recomendo o Coconut Garden para provar os pratos tradicionais e Bouang Asian Eatery, que recria a gastronomia local com um twist de fusão. Para uma bebida depois do jantar, há vários bares encantadores, caso do Lao Lao Garden, do Ikon Club e do Utopia. Este último é o bar mais emblemático da cidade, situa-se na margem do Nam Khan e está aberto de manhã à noite e também serve refeições.
Tem um ambiente zen de dia e mais chill-out à noite e é imperdível passar ali umas horas. A cidade deita-se cedo. Os estabelecimentos comerciais fecham, por norma, às 23h00. Em contrapartida, acorda muito cedo para a Tak Bat, a cerimónia de doações de comida aos monges, que é o melhor exemplo da fé que move Luang Prabang. A partir das 05h45, os monges saem dos templos e percorrem a cidade para receber comida.
As autoridades locais pedem aos que não abraçam a religião budista para não participarem, mas quem fizer muita questão terá de, pelo menos, cozinhar a comida que quer doar. Participando ou não, é um ritual que todos os turistas devem ver, pelo significado que tem para a cidade e por caracterizar a generosidade de um povo. Mas, se a cidade é encantadora, o que dizer do que está à volta. A melhor forma de conhecer as redondezas é comprar uma excursão.
O preço das disponíveis oscila, habitualmente, entre os 30 e os 40 euros. Eu escolhi duas. A primeira começou cedo, de barco, em pleno rio Mekong. Levou-me até à gruta Pak Ou, um local de culto budista que muitos turistas visitam. Depois, seguimos para uma reserva de elefantes. Daqui parti, num mini bus, para a cascata Kouang Si, um local verdadeiramente deslumbrante e que forma várias piscinas naturais onde é possível tomar banho e sentir a força da natureza.
A segunda incluiu uma caminhada de quatro horas, entre uma paisagem deslumbrante feita de arrozais e de aldeias kamus completamente remotas. Terminámos noutra deslumbrante cascata a Tad Sea, que naquele dia estava repleta de monges, que aproveitavam para se refrescar. À medida que fomos avançado tranquilamente por paisagens de cortar a respiração, o guia que nos acompanhou foi-nos contanto pormenores da realidade local.
Os encantos de Vang Vieng
É a meca dos mochileiros que visitam o país e, para isso, muito contribuem as inúmeras atividades de aventura e radicais que proporcionam aos turistas, bem como a diversão noturna. É muito diferente de Luang Prabang e não foi amor à primeira vista. Só à segunda. Tive de esperar pelo amanhecer para perceber o cenário natural fantástico onde está inserida feito de montanhas calcárias e do rio Nam Xong, que o escuro da noite escondia no momento da chegada.
À primeira vista, é uma cidade desorganizada, um pouco caótica arquitetonicamente mas, à luz do dia, é bem mais do que isso. À noite, é obrigatório deixar-se levar pela música no Sakura Bar ou, pelo menos, assistir a uma espécie de freak show, onde tudo pode acontecer, faz parte da experiência Vang Vieng. Para descobrir as redondezas, alugar um tuk-tuk com motorista, por 30 euros, com almoço incluído, é a melhor forma de conhecer a região de Vang Vieng.
São quilómetros de estradas de alcatrão e de terra batida, o que torna, só por si, a deslocação numa autêntica aventura, onde não faltam sequer búfalos a tapar o caminho e passagem por aldeias. A primeira atividade do dia foi a subida à montanha. Foram 500 metros sempre a subir que valem muito a pena pela paisagem deslumbrante que o topo permite ver. Lá em cima, o tempo parece parar, mas há mais coisas para conhecer lá em baixo, entre as quais as três lagoas azuis.
Para dar uns mergulhos e desfrutar, mais uma vez, de uma paisagem de sonho, este é o local perfeito. Os mais aventureiros podem fazer slide, tubbing, rappel e canoagem. Outro ponto obrigatório é a cascata Kaengnyui , à distância de um pequeno trekking, seguindo o barulho da água. A força da queda de água manda uns borrifos, num momento de comunhão total com a natureza. À medida que se iam repetindo, o Laos ganhava cada vez mais pontos neste coração apaixonado.
O caos envolvente de Vientiane
É a capital do Laos mas é muito menos caótica e frenética do que as outras capitais dos países vizinhos. Tem o charme da arquitetura francesa colonial, belos templos para visitar, o seu imperdível museu nacional e, claro, o rio Mekong a travessá-la. A sua principal atração, o That Luang, é o mais importante templo budista do país. Coberto de folhas de ouro e com uma forma piramidal, é deslumbrante e local de romaria. Não é difícil encontrar uma celebração.
A mim, aconteceu-me e foi fascinante observar a devoção de gentes de todas as idades. Em seu redor, existem outros templos e um jardim e, ao pôr do sol, todos os edifícios ganham uma luz deslumbrante. Está a cerca de dois quilómetros do centro e a melhor forma de lá chegar é, mais uma vez, de tuk-tuk. O mesmo acontece se quiser visitar o templo Wat Xieng Khouan ou o parque Buddha Park, nas margens do rio Mekong, a 25 quilómetros da cidade.
Em Vientiane, há muitos restaurantes e cafés para experimentar. O Lao Kitchen é obrigatório para provar os pratos típicos do país. Prove a galinha larp, um prato picante e delicioso. Se gosta de comida vietnamita, a meca é o Vieng Sawan, um restaurante cheio de locais, para comer os spring rolls vietnamitas com molhos diversos e muita verdura. Para sair à noite, eu recomendo o Kop Chai Deu, um bar com vários espaços dentro e fora de portas.
O apelo do rio Mekong
O maior rio do sudeste asiático é um elo de ligação de países como a China, a Tailândia, o Laos, o Camboja e o Vietname e basta olhar para ele para perceber por que razão fascina os viajantes tão facilmente. A cor acastanhada, os pequenos barcos coloridos que o percorrem, a forte corrente e as suas margens encantadora e enigmáticas, onde nasceram cidades e campos de cultivo, são algumas das razões, mas cada pessoa, descobrirá a sua.
De Luang Prabang, é possível navegar, desafiando as águas do rio Mekong, até à fronteira com a Tailândia, um dos países que, nos últimos anos, tem vindo a atrair um número crescente de turistas portugueses. São dois de viagens e de descobertas nos slow boats com dormida em Pakebeng e chegada a Houayxai, uma viagem inesquecível.
Informações (muito) úteis
Não existem voos diretos de Portugal para o Laos, mas com a companhia de aviação Emirates é possível viajar até ao Dubai e, de lá, seguir para Banguecoque na Tailândia ou para Kuala Lumpur na Malásia e, destas, para Luang Prabang ou Ventiane, com a Air Asia. A melhor altura para visitar o Laos é de outubro a abril, a época seca. É preciso visto para entrar no Laos, mas pode tratar disso no momento da chegada nos aeroportos. Só precisa de levar duas fotografias e pagar 35 dólares.
A moeda local é o kip laosiano, que pode adquirir lá em qualquer casa de câmbio. Antes de partir, faça uma consulta do viajante, no mínimo, um mês antes da partida. Deve fazer a profilaxia da malária e não há vacinas obrigatórias, mas recomenda-se a da febre tifoide e de hepatite A. Beba apenas água engarrafada, não ingira bebidas com gelo do qual não sabe a origem, evite os alimentos crus e coma apenas fruta descascada ou lavada por si com água engarrafada.
Texto: Rita Caetano
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