A 8 de janeiro, os duques de Sussex sacudiram a monarquia com o anúncio da decisão de renunciar às funções de membros séniores da Casa Real e procurar progressivamente a independência financeira.
Após uma semana de negociações em caráter privado, o Palácio de Buckingham anunciou este sábado que, como parte do acordo, ambos renunciam ao título de Alteza Real e vão deixar de receber dinheiro dos cofres públicos.
"Reconheço os desafios que tiveram que passar como resultado do intenso escrutínio nos últimos dois anos, e apoio o seu desejo de levar uma vida mais independente", explicou em comunicado a própria rainha Isabel II.
Modernidade e Instagram
Graças à imagem de modernidade, frescura e compromisso com causas sociais, o jovem casal conseguiu, desde a sua boda em 2018, uma enorme popularidade: abriu uma conta no Instagram a 2 de abril e em menos de seis horas alcançaram seis milhões de seguidores, batendo um recorde mundial.
Mas nos últimos meses, não deixaram de expressar o seu incómodo com o restrito estilo de vida imposto aos membros da realeza britânica, observados com uma lupa pela imprensa sensacionalista, habitualmente impiedosa com jovens que romperam os moldes tradicionais.
De playboy a pai de família
"Nós os dois adoramos querer mudar as coisas para melhor", afirmou recentemente o príncipe, que antes de assentar era conhecido como o membro mais disperso e problemático da família real.
Muitos ainda guardam na memória a imagem do adolescente de olhar perdido que caminhava ao lado do irmão mais velho, William, seguindo o caixão da sua mãe, a princesa Diana, pelas ruas de Londres, em 1997.
Quando Harry nasceu, em 15 de setembro de 1984, era o terceiro na ordem de sucessão do trono britânico, uma posição que exigia um comportamento exemplar.
No entanto, o jovem ruivo admitiu, aos 17 anos, ter fumado haxixe e o seu gosto por festas regadas a álcool transformou-o numa das personalidades favoritas da imprensa sensacionalista.
Os tablóides britânicos publicaram inúmeras fotos do jovem príncipe, frequentemente na saída de bares e discotecas e na companhia de belas jovens aristocratas ou da sua namorada em vários períodos, a zimbabuana Chelsy Davy.
Em 2005, cometeu um grave erro, ao aparecer numa festa de máscaras vestido de oficial nazi. Após aquele escândalo, o desportista, apaixonado por rugby, entrou na prestigiada academia real militar de Sandhurst.
Em 2008, após uma indiscrição da imprensa, soube-se que estava em missão no Afeganistão, razão pela qual todo o país acompanhou a sua decepção quando teve que ser repatriado de emergência por razões de segurança.
A partir dali, começou a somar sucessos na comunicação social como quando foi padrinho no casamento do irmão, em 2011, ou quando um ano depois presidiu a cerimónia de encerramento dos Jogos Olímpicos de Londres.
De atriz a duquesa
Mas o que parece tê-lo transformado definitivamente foi conhecer a atriz Meghan Markle, em 2016. Filha de Thomas Markle, diretor de iluminação de TV que ganhou um Emmy pelo seu trabalho na série "General Hospital", e de Doria Ragland, assistente social e professora de ioga, Meghan nasceu em 4 de agosto, de 1981, em Los Angeles.
Descende, por parte de mãe, de escravos negros das plantações de algodão da Geórgia, no sul dos Estados Unidos. Por parte de pai, é descendente do rei Robert I, da Escócia, que reinou entre 1306 e 1329.
Os pais se separaram-se quando ela tinha dois anos e divorciaram-se cinco anos depois.
Markle formou-se em teatro e relações internacionais na Northwestern University, perto de Chicago. Após a licenciatura, estagiou durante seis semanas na embaixada americana, na Argentina.
Ela alcançou a fama internacional graças à televisão, atuando na série "Suits", sobre um escritório de advogados de Nova Iorque.
Antes de se casar com Harry, Meghan foi casada com o produtor Trevor Engelson, de quem se divorciou após dois anos.
Velhos amigos a acusam de tê-los deixado de lado à medida que foi subindo na vida, e os seus dois meio-irmãos, que não foram convidados para o seu casamento, desferiram críticas ferozes contra Meghan, sugerindo que ela tinha envergonha deles. O pai, que tão pouco marcou presença na cerimónia, ocupou as capas dos meios de comunicação social de todo o mundo, após se dispor a passar fotos para paparazzi.
Desde que se tornou a duquesa de Sussex, Meghan, que cultivava um estilo informal californiano, com calções e sandálias, teve que se acostumar às regras do vestir da monarquia britânica: meias na cor da pele ou neutra, vernizes em tons discretos e vestidos abaixo dos joelhos.
Harry e Meghan, um casal moderno incomodado com as pressões da realeza
"Os duques de Sussex deixarão de usar os seus títulos de nobreza, já que interromperão as suas tarefas como membros da Família Real", indicou em comunicado, o Palácio de Buckingham, este sábado. O comunicado destaca que o casal está de acordo em pagar certas despesas recentes.
O anúncio aconteceu após uma semana de intensas negociações privadas entre os principais membros da Família Real e o príncipe Harry, enquanto Meghan aguarda no Canadá, para onde voltou quase imediatamente após ela e o marido anunciarem a decisão histórica, em 8 de janeiro.
"Após vários meses de conversas e de negociações mais recentes, alegra-me anunciar que juntos encontramos uma solução construtiva e que oferece apoio ao meu neto e à sua família" explicou Isabel II.
Harry e Meghan têm estado sob os holofotes desde que formalizaram o seu noivado e casamento, ao ponto de o príncipe entrar em confronto com vários meios de comunicação por suposta intromissão na sua vida privada.
"Como parte do acordo, ambos aceitaram que devem abandonar as suas responsabilidades monárquicas, inclusive nomeações militares. Também vão deixar de receber fundos públicos para as suas responsabilidades" como membros da Família Real, informou o texto do Palácio de Buckingham.
Ambos renunciam, portanto, ao monograma HRH, que em inglês significa Sua Alteza Real.
Harry e Meghan ainda vão devolver 2,4 milhões de libras esterlinas (2,8 milhões de euros) de recursos públicos para restaurar a sua residência, a Frogmore Cottage, perto do Castelo de Windsor.
A comunicação social britânica interpretaram este anúncio como um castigo da rainha a Harry e Meghan. Isabel II "deu um murro na mesa", avaliou Alastair Bruce, especialista em realeza britânica, em declarações à rede Sky.
O jornal The Daily Telegraph, por sua vez, viu nesta decisão "a versão do Megxit mais dura possível".
"Sussex Royals"
O Palácio informou, ainda, que não fará comentários sobre quem vai pagar a conta pelo dispositivo de segurança de Harry, Meghan e o filho do casal, Archie, no Canadá, uma questão que tem provocado polémica.
Harry e Meghan querem registar a marca "Sussex Royals" para os seus projetos futuros, um tema que também não é mencionado nos comunicados oficiais.
Ambos defendem causas ambientais e querem desenvolver a sua fundação de caridade com novos projetos.
O anúncio de Harry e Meghan, poucos dias após as festas de fim de ano, surpreendeu toda a Família Real. A rainha imediatamente pôs mãos à obra para conter a crise, após as desventuras que marcaram o clã, em 2019, e deu instruções para que, em questão de "dias", o papel de Harry e Meghan fosse redefinido na monarquia britânica.
Harry, com 35 anos, é o sexto na ordem de sucessão ao trono. Após uma adolescência rebelde, o príncipe pareceu ter acertado o prumo com Meghan. Mas o príncipe admitiu recentemente, ao lado do irmão mais velho, William, que as circunstâncias da morte da mãe de ambos, a princesa Diana, num acidente de carro em 1997, em Paris, enquanto era perseguida por "paparazzi", tinha marcado a sua vida de forma definitiva.
"Perdi minha mãe e agora vejo a minha mulher se tornar vítima das mesmas forças poderosas", declarou Harry em uma entrevista no ano passado.
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