Humorista, radialista e escritor, Nilton é um dos nomes incontornáveis da stand-up comedy em Portugal. De norte a sul, não tem parado. "Esta quarta, assalto o palco da Expofacic, em Cantanhede", anunciou nas redes sociais. Em entrevista ao Modern Life/SAPO Lifestyle, o apresentador, que prepara o regresso à televisão, assume aquele que é um dos seus grandes medos e fala também sobre aquele que é um dos seus maiores prazeres.
É público que gosta de viajar. Aliás, este ano, já esteve de férias no Brasil e também visitou os EUA e as Bahamas, com a RFM, no âmbito da RFM Royal Caribbean Selfie Trip, uma viagem que levou um grupo de 32 portugueses a Miami para embarcar num navio de cruzeiro rumo a CocoCay e a Nassau. Férias para si têm forçosamente que implicar uma viagem para o estrangeiro?
Não. Eu viajo muito por cá. Conheço Portugal de ponta a ponta! Saio muitos fins de semana em território nacional mas, como ando tanto por Portugal, chego a fazer 10.000 quilómetros por mês por causa dos meus espetáculos de stand-up comedy, acabo por, muitas vezes, se tiver uma semana, por sair para o estrangeiro. As viagens, para mim, têm que incluir duas coisas.
Uma delas é a parte de descanso. Não gosto da azáfama de ter de ir conhecer tudo à maluca. Em muitos lugares, às vezes, sento-me só num parque a observar a azáfama, a sentir a cidade e a ver as pessoas a passar. Gosto de ter esses dois lados quando viajo, a parte do relaxamento e a parte cultural. Gosto de ver e de apreciar como é que a coisa funciona...
As viagens valem também muito pelas histórias e pelas aventuras que proporcionam e, nesta última ida às Bahamas, andou a correr atrás de um tubarão, como partilhou na altura nas redes sociais...
Atrás de um tubarão, que filmei! Entretanto, depois, pego na câmara e vejo que, afinal, eram quatro. Na altura, ainda ficámos na dúvida de que tipo é que era mas, definitivamente, percebemos que era um tubarão. E a coisa correu bem porque viemos com as pernas todas... [risos]
Na altura, como relataram alguns dos presentes no local, como foi o caso do radialista e apresentador de televisão Pedro Fernandes e do chef Kiko Martins, mandou-se para a água e foi atrás dele. É sempre assim destemido ou foi um impulso de ocasião?
Vamos ser honestos, há uma primeira parte em que o tubarão vem ter connosco e fugimos todos... Parecíamos umas galinhas tontas a fugir de uma raposa! Quando percebemos que o segundo que veio era pequenino, já fui lá... Eu gosto muito de animais e vou sempre ter com eles, destemido.
Uma vez, nos Açores, estava uma cabra pequenina ao lado da estrada. Parei o carro, fui lá e agarrei-a. A minha mulher só me perguntava o que é que eu ia fazer ao animal. Não lhe fiz nada. Fiquei só ali com a cabra ao colo! Faço isto muitas vezes...
E que mais histórias dessa viagem que fez a Miami e às Bahamas é lhe ficam na memória?
Fica a camaradagem, fica a gargalhada... Nós rimos muito uns com os outros! Fica o riso simples, sem estar preocupado com as redes sociais... Acima de tudo, fica isso! Fica um jantar que tivemos num restaurante japonês, onde tivemos uma dinâmica muito gira. Ficam as gargalhadas, que é o que levamos da vida, sobretudo com amigos, porque na verdade somos todos amigos...
Trabalhamos juntos há muitos anos e as viagens como esta que fizemos acabam por ser uma lufada de ar fresco. Eu, o Pedro, o Paulo Fragoso e o António Mendes tínhamos estado em Los Angeles há dois anos. Esta foi mais uma grande viagem que fizemos juntos e este convívio fora do nosso ambiente tradicional cria aqui uma certa dinâmica. Não percebo por que é nos oferecem estas viagens. Já nos pagam bem... [risos]
Já sabemos que, quando se aproxima um tubarão, numa fase inicial, como seria de esperar, fica apreensivo mas, depois de perceber que, afinal, não é assim tão grande, até é capaz de ir atrás dele. Já que não teme tubarões, pelo menos os pequenos, o que é que mais o assusta na vida?
A morte assusta-me... Sou muito cauteloso! Por exemplo, na autoestrada, quando vou ao Porto atuar e venho para Lisboa de madrugada com o meu road manager a conduzir, faço um esforço doido para me manter acordado, porque assusta-me a ideia de sairmos da estrada e de nos despistarmos, isto às quatro ou, às vezes, cinco da manhã.
Há dias em que chego a Lisboa a essa hora e vou trabalhar para a rádio, depois de tomar um banho. Isso assusta-me! A estrada, as pessoas, os outros... Ando muito de mota e assustam-me os outros a andar de mota, principalmente quando se tem filhos, como é o meu caso. Assustam-me também os aviões! Estás constantemente a pôr a tua vida nas mãos de alguém e esse lado do desconhecido assusta-me. Assusta-me não saber o que vem do lado de lá...
A dada altura, na viagem que fez a Miami e às Bahamas, houve alguém que lhe disse que, basicamente, tem feito a sua carreira a fazer de parvo…
Foi o Pedro Fernandes! Eles queriam que eu fosse fazer figura de parvo numa diversão do navio que recria uma onda do mar, equilibrando-me numa prancha de surfe, como fez o Kiko. Só que o Kiko é surfista e aguentou-se bem... Basicamente, um humorista é isso, mas eu não sou aquele tipo de humorista que se atira ali para o meio e faz a festa. Eu sou muito mais cauteloso.
Tenho muita noção do ridículo e não me atiro muito para fora de pé. Atiro-me no palco! No palco, brinco e faço as palhaçadas todas mas, fora do palco, não sou o indivíduo mais galhofeiro. Sou de analisar e de mandar uma boca de fundo. Não sou de andar por aí a fazer parvoíces... Mas o Pedro Fernandes tinha razão, sim! Aliás, no meu livro de recibos diz mesmo estupidez. O que é que faz na vida? Parvoíce e estupidez! [risos]
As viagens que faz também servem de inspiração para algumas das suas piadas? Funcionam um bocado como uma espécie de trabalho de casa fora de casa?
Sim, funcionam. Por acaso, nessa viagem a Miami e às Bahamas apontei várias coisas. No dia em que fomos a Nassau, também anotei mais umas quantas, principalmente para usar em palco, nos espetáculos de stand-up comedy que faço, porque as crónicas na rádio são um bocadinho mais sobre as minhas vivências. São sobre as coisas do dia a dia. A stand-up comedy funciona muito assim... Mas, sim, estou sempre a apontar coisas.
No caso dos americanos, devido às diferenças culturais que temos em relação a eles, apontei muitas coisas, mas também a nossa própria estupidez. Vês um tubarão e foges. Depois, pensas e mudas de ideias. Não, vou atrás dele e vou filmá-lo. Depois, às tantas, filmei-o e, quando ele estava ao pé de mim, eu estava a filmar para cima e nem estava a filmá-lo. É e tão parvo quanto isso! [risos] Eu aponto sempre tudo. Passo o dia inteiro a apontar coisas...
De Nova Lisboa em Angola, agora Huambo, onde nasceu, veio, com quatro anos, para Proença-a-Nova. Mais tarde, foi para Lisboa e, este ano, além do Brasil, já esteve em Miami e nas Bahamas…
Eu costumo dizer a brincar, e isso soa a poeta, que sou de todo o lado e não sou de lado nenhum. A nível de milhas, estou possivelmente a passar o Marcelo [Rebelo de Sousa, presidente da República] neste momento. Ninguém me passa, só o Mário Soares [ex-presidente da República, falecido em 2017], que foi o homem com mais milhas em Portugal.
Voltando ao início da conversa e às viagens, Miami e Bahamas eram dois destinos de sonho na sua lista?
Há um lado de Miami, mais pitoresco, Little Havana, sobre o qual tinha alguma curiosidade. As Bahamas, sim, sem dúvida, pelo lado de descanso, que acabou por não acontecer... É o problema destas viagens! Depois, temos que voltar e trazer a mulher e os filhos. Eu, quando lá estive, só mandei fotos más para casa. Se tivesse mandado as boas, chegava lá e eles já tinham as malas prontas para voltar. Nesse aspeto, sim, pela parte do descanso...
Mas tem mesmo uma lista com os destinos que mais gostava de visitar?
Tenho pouco tempo mas gosto muito de viajar e sei que há destinos inevitáveis. Eu viajo três vezes por ano e, portanto, acabaria por acontecer. As Bahamas, pelo menos. E Miami também sei que aconteceria. Talvez volte às Bahamas. Entra na lista mas ainda só está a 50%...
Fazer um cruzeiro nas Bahamas é o sonho de muitos. O que é que mais o surpreendeu na viagem em si?
Surpreendeu-me, desde logo, a grandiosidade de um cruzeiro destes. A logística que um simples jantar implica, a coordenação e a rapidez... Às vezes, vais a um restaurante que tem três pratos na lista e estás 45 minutos ou uma hora à espera que te atendam. Ali, a rapidez deixou-me pasmo. Depois, é a grandiosidade. É tudo em grande! A própria ilha privada da companhia de cruzeiros onde estivemos, CocoCay…
E, depois, é pensares que há um grupo que pensa em todos os pormenores para que a viagem seja perfeita. Imagina nós entrarmos num elevador e estar um individuo a tocar piano e haver um indivíduo que todos os dias troca a alcatifa do elevador para pôr um tapete que nos indica em que dia da semana é que estamos... Acho muito graça a esses pequenos pormenores!
Foi a primeira experiência que teve em cruzeiros ou já tinha tido outras?
Tinha tido uma, há uns anos, no paquete Funchal, mas foi uma coisa mais pequena, em trabalho. Num cruzeiro destes, a sério, foi a primeira vez. Já tinha visto um documentário sobre as cozinhas destes navios e, até a falar com o chefe Kiko, já tinha percebido a dinâmica. São quase 5.000 pessoas lá dentro. É brutal!
Foi bom mas passou depressa e agora tem de enfrentar a realidade laboral do dia a dia, ainda para mais numa altura em que a agenda é muito preenchida. Em termos de projetos e de novidades, o que é que há de novo?
Além da rádio e dos espetáculos de stand-up comedy, que são uma constante, estou a preparar um programa de televisão, sendo que não tenho muita pressa de fazer televisão. Em 20 anos de carreira, fiz quatro programas, portanto... Tive foi a sorte de durarem. Fiz o "Levanta-te e ri", que durou mais de três anos.
O "5 para a meia-noite" durou mais de sete anos. O "K7 pirata", que fiz para a SIC, também durou quase quatro anos... Tenho sorte de ter alguma longevidade nos projetos que faço. Ando um bocadinho a tentar pôr de pé esse novo projeto, sendo que sou muito esquisito e ou faço aquilo que quero ou não faço nada. Sou muito chato!
E será para quando esse novo programa?
Espero que seja para este ano. Depende das grelhas e também do meu tempo. Tenho várias empresas, estou em várias frentes, em mil e uma maluquices, é uma questão de conseguir ter tempo... Eu faço as coisas para me divertir. Se me divertir, vou fazendo. Senão, fico quieto!
Comentários