Estava a ser convidado para ser a personagem principal da próxima grande aposta em novelas da Rede Record no Brasil. Só consegui ir apanhado pequeno pedaços: vários atores portugueses tinham sido analisados pormenorizadamente, precisavam de dar uma resposta urgentemente, ia morar para São Paulo durante 9 meses. A novela era a prequela da "Escrava Isaura". A minha cabeça disparou para 1000 pulsações por minuto
Sim. Foi a minha resposta imediata. Como poderia recusar?
E com este propósito acabei de aterrar na mega metrópole que é São Paulo. Ainda sem entender muito bem a dimensão desta selva de pedra, percebo que as diferenças, pequenas e grandes, com a cidade de Lisboa, são notórias.
Os vestígio de séculos da nossa história é algo a que estamos habituados e que nos confere uma identidade; São Paulo parece uma cidade nova e que por vezes encontrar referências não é fácil.
Mas por falar em selva, uma impressão que me causou agrado foi a arborização cuidada da cidade. Os condomínios, fechados por motivos de segurança necessária, exibem as mais bonitas espécies tropicais, cuidadas com grande orgulho. As palmeiras, os agaves, o cactos, os jardins verticais tão em voga, embelezam as ruas numa concorrência entre prédios e arranha-céus.
E como não há bela sem senão, deparo-me com mil cabos de eletricidade que unem postes de cimento ao longo dos passeios da maioria das avenidas e que me fazem arrepiar a alma.
Todos os dias viajo cerca de uma hora e meia, tempo que levo de casa até aos estúdios de Paulínia onde gravo no polo cenográfico e na cidade cenográfica construída em cima dos verdadeiros décors que outrora serviram a novela da 'Escrava Isaura'. Durante este trajeto de uma estrada larga e verdejante, com sorte, sem trânsito (trânsito à séria!), leio e repasso as cenas do guião que me levam igualmente a viajar no tempo. Mas esta viagem só termina ou melhor, começa, quando visto as vestes do 'Miguel Sales' de 1803 desta 'Escrava Mãe'.
A magia, essa é igual, o prazer de pisar o décor, de ouvir o diretor a dar as indicações, de passar o texto com o meu colega de cena e até de ouvir a fonoaudióloga a dizer-me para falar mais pausado senão 'a dona Quitéria vai dizer: oi?'. Tudo pronto e ouve-se o grito universal a que já estou habituado, quase hipnótico que nos obriga a entrar naquela realidade...: 'está a gravar! Luzes. Câmara. AÇÃO!'
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