Um som pelo qual me apaixonei é o dos vendedores de picolés que não temem a tão movimentada Marginal Pinheiros tentando fazer pela vida, muitos de pé descalço, com uma mala de gelados no regaço e às costas abacaxis ou cocos. Pelo caminho vão gritando numa espécie de cantilena em tom repetitivo, tentando atrair a atenção dos condutores: 'Picolé, picolé, 2 Reais!', 'Água de coco, fresquinha!'.
Quase a entrar em São Paulo, vindo da Fazenda de Santa Gertrudes, onde gravo na mesma cidade cenográfica que foi palco de 'Escrava Isaura', depois de duas horas de viagem, começo a avistar as primeiras formas espelhadas, cruas e austeras que rasgam o meu horizonte. Arranha-céus que entram pelas nuvens, prédios mais toscos, favelas mesmo ali ao lado, pontes, luzes... um movimento imenso.
Túneis e fachadas de edifícios, alguns grafitados de forma impressionante, fico sempre de olhos arregalados a tentar perceber mais de cada desenho. Sempre fui fascinado por arte urbana, e aqui há muito para ver.
Existe um movimento no Brasil de nome 'Pixo', do qual inclusivé já se fizeram vários documentários, que é uma forma de manifesto de grupos ou gangues de jovens, principalmente moradores em favelas, que se tentam fazer ouvir pelos mais variados motivos, através de 'rabiscos' ou 'tags' nas fachadas de edifícios degradados, nos pontos mais inacessíveis dos prédios mais altos, com frases, letras, refrões de músicas, entre outros. Existem também os verdadeiros artistas que não se limitam a estragar, mas a embelezar paredes de passagens subterrâneas de longos viadutos, fachadas de edifícios abandonados e até pisos de ruas. São pinturas imensas que contam histórias que leio e releio sempre com um olhar diferente, de cada vez que passo por elas.
O centro de São Paulo é uma miscelânea tão interessante de pessoas, restaurantes, edifícios, monumentos como não imaginam. É uma explosão de tudo, sem nexo, nem ordem, que confere a este território a curiosidade de o explorarmos mais.
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