Quando chega a altura de uma criança entrar para o primeiro ciclo são muitas as dúvidas que, por vezes, assolam os pais e os educadores de infância. E a verdade é que a entrada para o primeiro ciclo é determinante para a forma como uma criança vivencia todo o seu percurso escolar e até futuramente o seu percurso profissional. Por isso, é absolutamente fundamental que uma criança dê este passo na altura certa respeitando acima de tudo o seu ritmo interno.
É verdade que os seis anos são um indicador de que uma criança, à partida, está apta para entrar no primeiro ciclo. No entanto, também é verdade, que várias crianças por diversos fatores devem atrasar ou adiantar a entrada no primeiro ciclo, para garantirmos que cada criança tem em sintonia em todas as suas áreas de desenvolvimento, chegada a hora de aprender.
Assim, os principais fatores em análise quando se pondera se uma criança está ou não preparada para as exigências e desafios do primeiro ciclo são de ordem cognitiva, emocional e social.
Os fatores cognitivos são, regra geral, os mais fáceis de detetar e implica percebermos se uma criança consegue, ou não, reunir os recursos necessários que lhe darão a alavanca para adquirir as competências escolares, como por exemplo a leitura e escrita. Pode parecer simples, mas uma criança que tenha um défice ao nível da motricidade fina será, certamente, uma criança com mais dificuldade em adquirir a escrita e, num contexto global, este é um fator a ter em consideração.
Os fatores emocionais implicam que a criança tenha gestão emocional, de acordo com a sua idade, maturidade e capacidade de adaptação. Por exemplo, se tem muitas dificuldades em auto-regular o seu comportamento, poderá ser muito difícil permanecer focada e concentrada nas tarefas que a aprendizagem escolar lhe exigem.
Os fatores sociais estão principalmente relacionados com a forma como a criança vai ser capaz de estabelecer relações positivas e saudáveis entre pares e com os professores, para que, a partir daí, se ligue à escola e consiga retirar gratificações em contexto escolar, que lhe permitam manter-se motivada.
Seja qual for a decisão sobre a entrada no primeiro ciclo, há duas premissas que famílias e professores não se podem esquecer:
Em primeiro lugar, uma criança entrar na escola não significa que vá parar de brincar, por isso deve reconsiderar sempre que a decisão de uma não entrada na escola acontece com base num “vamos deixá-lo brincar mais um ano”, porque não é suposto que quando se entra na escola se deixe de brincar, uma vez que o brincar é um grande motor da aprendizagem e do desenvolvimento saudável de uma criança.
Em segundo lugar, quando o inverso acontece e se adianta a entrada “porque não queremos que perca um ano”, não só não estamos a proporcionar às crianças o ganho de um ano, como podemos estar a precipitar uma entrada que pode contaminar todo o seu percurso escolar e aí sim, o ano que se ganhou, poderá implicar um travão a todas as aquisições que uma criança deve fazer.
Aquilo que é fundamental é que os pais e educadores estejam atentos aos sinais das crianças e percebam se os fatores cognitivos, emocionais e sociais estão em equilíbrio e com um nível de desenvolvimento que facilite a aquisição de conteúdos escolares, garantindo que cada criança entra no primeiro ciclo na altura certa, respeitando, acima de tudo, o seu ritmo interno.
Um artigo das psicólogas clínicas Cátia Lopo e Sara Almeida, da Escola do Sentir.
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